Fundador de um dos maiores grupos de energia e
infraestrutura do Brasil, o empresário Rubens Ometto Silveira Mello, presidente
do conselho de administração do grupo Cosan, não descarta comprar ativos da
Petrobrás que sejam complementares aos seus negócios.
Sócio da Shell na Raízen (terceira maior distribuidora de
combustíveis do País), controlador da Comgás (maior companhia de gás
canalizado) e dono da Rumo ALL (maior ferrovia nacional), o empresário disse
que “tem interesse em tudo” e está aguardando os planos de desinvestimentos da
estatal para saber quais empresas poderiam ser negociadas.
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A compra da BR Distribuidora, alvo de cobiça da Cosan e de
outros grupos, teria um complicador: o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), por causa da concentração de mercado.
Dados do Sindicom (entidade que reúne as distribuidoras) de
2015 mostram que a distribuidora da estatal tem uma fatia de 34,9%, seguida
pela Ipiranga, do grupo Ultra, com 19,6%. A Raízen, joint venture entre Cosan e
Shell, é a terceira, com 19,2%. Neste ano, o Ultra anunciou a compra da
distribuidora Ale, a quarta, com 3,3% do mercado. A dona da rede Ipiranga
também tem interesse na BR, desde que esse negócio seja fatiado para que ela
possa comprar as redes da região Norte e Nordeste, evitando a concentração.
Dinheiro para o crescimento não é o problema, segundo
Ometto. “Temos como bancar nossas aquisições com recursos próprios”, disse o
empresário. A paralisia dos investimentos no País, provocada pela crise
econômica, não inibiu os investimentos da Cosan. “Atuamos em mercados que não
foram afetados pela crise”, afirmou. O grupo, segundo ele, também não enfrentou
dificuldades em 2015, quando recorreu ao BNDES para financiar a aquisição da
ALL pela Rumo.
Este ano a companhia prevê investimentos de R$ 5,1 bilhões –
boa parte na Rumo All, Raízen e Comgás. Os planos de expansão da Rumo ALL,
adquirida no ano passado pela companhia, preveem aporte de R$ 9 bilhões nos
próximos cinco anos. O grupo está em negociação para renovar as concessões da ferrovia,
que é a maior transportadora de grãos do País. Há dois meses, fez uma captação
no mercado, de R$ 2,5 bilhões, para injetar recursos na ferrovia.
Diversificação. Fundada originalmente como uma empresa de
açúcar e etanol, nos anos 80, o grupo Cosan foi se diversificando e, com um
faturamento de R$ 43,6 bilhões em 2015, está entre os cinco maiores do País,
excluindo os bancos e a Petrobrás. A virada da Cosan ocorreu em 2008, quando o
grupo comprou a Esso no País e, posteriormente, associou-se à Shell. Com a
criação da Rumo, entrou no negócio de logística, incorporando mais tarde a ALL.
Ao adquirir a Comgás, tornou-se uma das maiores empresas de energia do Brasil.
Por fim, é ainda uma das maiores empresas de terras agrícolas do País.
Aquisições no segmento de açúcar e etanol não estão nos
planos. “Somos líder absolutos nesse segmento. Não temos interesse em comprar
nem de nos desfazer de ativos”, disse. Segundo ele, esse setor só deverá atrair
novos investidores em três ou quatro anos, quando os problemas financeiros de
boa parte desses grupos forem sanados.
Internacionalização. A intenção de Ometto, ainda sem um
prazo definido, é internacionalizar o grupo. “Hoje, praticamente 99% dos nossos
negócios estão no Brasil. É importante ter um portfólio diversificado e hedge
em outras moedas”. A divisão de lubrificantes é a única da companhia que tem
uma unidade fora do Brasil – na Inglaterra. “Faz parte dos nossos planos
expandir fora, mas boa parte dos bons projetos está aqui. ”
Empreender, afirmou Ometto, é um talento que ele tem. “Me
perguntam se todas as minhas estratégicas tomadas foram de caso pensado. Eu
sempre brinco que, apesar da pouca idade, vou fazer um livro de resumo das
minhas histórias. Vou falar que tudo que fiz foi calculado. Não é verdade. Ser
empresário no País é fácil. Difícil é ser banqueiro, que tem de emprestar
dinheiro para todo mundo. Duro é receber de volta. ”
‘Foi feita a festa, mas a conta chegou’
05/09/16 – Estadão
Estadão – Para Ometto, Temer é do ‘ninho político’ e terá
condições de conduzir os ajustes necessários para a retomada da economia
“Foi feita a festa. A conta chega e é preciso pagá-la”, diz
o empresário Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do conselho de administração
da Cosan, um dos maiores grupos de energia e infraestrutura do País,
referindo-se à gestão da presidente Dilma Rousseff.
Mas, para Ometto, os sinais do governo de Michel Temer
indicam retomada da economia do País. “Temer é do ninho político e terá condições
para conduzir os ajustes necessários para que o País retome o crescimento. A
seguir, os principais trechos da entrevista.
Com o impeachment, o cenário é mais positivo para economia?
É uma decisão que tinha de ser tomada. Os empresários
precisavam de uma definição mais clara sobre a economia.
O que deu errado na gestão de Dilma Rousseff?
Foram dois aspectos. O primeiro, o viés ideológico, de
intervenção do Estado. Quando se tem uma economia liberal, há concorrência
livre, salutar ao mercado. Havia uma política de controle de preços. A outra
questão está atrelada à gestão, que foi mal conduzida, com o governo gastando
muito, inchando o Estado.
Os sinais de recuperação agora estão mais claros?
Acredito que sim. Os movimentos do atual governo são mais
claros, com maior participação da iniciativa privada e de redução do Estado na
economia. Fui um dos primeiros a criticar a intervenção do governo nos preços
dos combustíveis (em maio de 2014, ao receber o prêmio de empresário do ano em
Nova York, Ometto fez duras críticas a Dilma).
Mas o sr. tinha uma boa interlocução com a presidente…
Tive uma boa relação pessoal. Ela tem personalidade forte.
E sua relação com Michel Temer? Já esteve com ele e acredita
que o diálogo será maior?
Estive pessoalmente com Temer um mês depois de ele assumir
(o governo interino). Fui falar e ouvi-lo, me colocar à disposição para ajudar.
O sr. acredita que Temer conduzirá bem as reformas?
O que é importante dizer é que Temer é do ninho político.
Significa que ele gosta de política e tem uma boa relação com todos e sabe como
agir. Dilma não gostava de políticos, o que dificultava a aprovação dos
projetos (no Congresso). Ele tem uma equipe que sabe trabalhar bem
politicamente e isso fará com que tenha condições de fazer as reformas necessárias.
E quais são as reformas necessárias?
Tributária, da Previdência e trabalhista. Nosso País é um
inferno. Se todos chegam a um acordo (trabalhista, por exemplo), um decisão de
um juiz muda tudo. A terceirização é saudável. Veja o caso das montadoras. Elas
não produzem. Montam carros. Temer tem a oportunidade de fazer história no País
porque se comprometeu a não se reeleger.
O sr. é considerado um empresário ousado. O empresário
precisa ser ousado para voltar a acreditar hoje no Brasil?
Esse negócio de ousadia é relativa. Depende de quem faz bem
a conta. Eu sempre fui tido como ousado e meus negócios deram certo. Duro é ser
ousado como Eike Batista (Grupo X) e Ricardo Mansur (Mesbla), que quebraram.
Tem de fazer a conta bem feita e gerir bem o que você faz.
O sr. se sentiu representado pela campanha do pato (da
Fiesp)?
Não liguei para aquilo. Nem 8 nem 80. Foi feita a festa e a
conta chega. O problema é ter eleito o dono da festa. Agora tem que se adaptar
ao orçamento. O que quero dizer com isso? O aumento de imposto, se houver, tem
de ser feito de maneira muito bem dirigida, com início, meio e fim. Se não, em
cinco anos, quebra de novo.
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