A balança comercial brasileira de setembro fechou
superavitária em US$ 3,8 bilhões, melhor saldo em dez anos para o mês,
resultado de US$ 11,99 bilhões em importações e US$ 15,79 bilhões em
exportações. No acumulado do ano o superávit é de R$ 36,17 bilhões.
Herlon Brandão, diretor de estatística e apoio à exportação
do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), destacou que a
queda da importação vem se reduzindo ao longo do ano, o que pode indicar
retomada na economia mais à frente. Os desembarques caíram 9,2% em setembro
contra igual mês de 2015, queda em ritmo bem menor que a dos 23,9% do acumulado
no ano, sempre no critério da média diária.
Para Brandão, a desaceleração maior na queda das importações
de bens intermediários sinaliza futura melhora para a produção nacional. O
desembarque de bens intermediários recuou 2,3% em setembro. No acumulado os
intermediários recuaram 20,1%, sempre contra igual período de 2015, pela média
diária.
Analistas concordam que a desaceleração de queda dos
desembarques, principalmente de intermediários, pode ser indício de retomada,
principalmente da atividade industrial, mas também destacam possível efeito do
câmbio e do arrefecimento da substituição de importações.
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de
Comércio Exterior do Brasil (AEB) ressalta que a desaceleração na queda de
importações de intermediários em setembro reforça tendência do mês anterior. Em
agosto foram também os intermediários que mostraram maior desaceleração, com
recuo de apenas 0,5% nas importações na comparação com igual mês de 2015.
Castro pondera que a base de comparação é baixa, já que as importações passaram
a cair mais fortemente a partir do segundo semestre do ano passado. Além disso
há o efeito câmbio que, com real mais valorizado em relação ao início do ano,
beneficia mais os importadores. “Trata-se de uma recuperação muito
discreta que pode se acelerar em outubro.”
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi), diz que, além de câmbio e indício de
recuperação de atividade, o arrefecimento da substituição de importações também
contribuiu para a desaceleração maior na queda do desembarque de insumos. A
notícia ruim vem principalmente dos bens de capital, ressalta Cagnin. A
importação nessa categoria caiu 28,3% em setembro, em recuo maior que a redução
de 22,2% no acumulado do ano. “A melhora dos índices de confiança não foi
suficiente ainda para a retomada de investimentos.”
O economista ressalta, porém, que as exportações mostram
melhora no decorrer dos últimos meses e podem chegar a ter variação positiva em
período próximo. Ele destaca o grupo de industrializados, que subiu 3% em
setembro, contra alta de 0,1% no acumulado até o mês, embora o número tenha
sido puxado mais pelos semimanufaturados. Os manufaturados caíram 3,1% em
setembro e 1,4% no acumulado do ano.
O que preocupa, diz Cagnin, é que o câmbio é crucial para a
competitividade do embarque de manufaturados no curto prazo. A valorização do
real frente ao dólar nos últimos meses, avalia, já minou boa parte dessa
competitividade, o que pode comprometer o desempenho dessas exportações.
Nos produtos básicos, diz ele, a exportação brasileira
depende do comportamento de preços de commodities e da demanda internacional,
que segue fraca. E o aumento das exportações como um todo, destaca Cagnin, deve
tornar-se cada vez mais importante para o ajuste do setor externo à medida que as
importações mostram recuperação.
No acumulado de 2016, porém, as importações mantém queda de
23,9%, em ritmo maior que o recuo de 4,6% das exportações. Brandão, do Mdic,
destaca que o superávit até setembro, de US$ 36,18 bilhões, é o maior da série
histórica. Por conta disso, ele se mantém otimista quanto ao cumprimento da
projeção feita pelo governo de um superávit entre US$ 45 bilhões e US$ 50
bilhões para este ano.
Brandão também destacou o superávit de US$ 340 milhões na
conta petróleo em setembro, que contabiliza as exportações e importações de
petróleo e derivados. “O Brasil é historicamente deficitário na conta
petróleo, mas ocasionalmente acontecem superávits mensais.” No acumulado
até setembro, essa conta é deficitária em US$ 446 milhões.
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