Commodities lideram ganhos na bolsa

Pela primeira vez em quase uma década, companhias ligadas a
commodities minerais lideram os ganhos do Ibovespa no ano. As ações das
siderúrgicas CSN, Usiminas e Gerdau, além da Petrobras e da Bradespar, que
integra o bloco de controle da mineradora Vale, ocupam as sete primeiras
posições entre os ativos mais valorizados do principal índice da bolsa
brasileira, com ganhos que variam de 104% a 156% até sexta-feira, frente à alta
de 42% da carteira teórica.

A última vez em que essas empresas estiveram em bloco no
topo do Ibovespa foi ao fim de 2007, ano de preços das commodities minerais em
alta, impulsionados pelo crescimento chinês, e período de ouro da bolsa
brasileira, com expressivo aumento de investidores e recorde de aberturas de
capital. O levantamento foi feito pela consultoria Economatica, a pedido do
Valor, e considera a composição atual do índice, replicada aos anos anteriores.

As sete ações que lideram o Ibovespa incluem os papéis
ordinários de CSN, preferenciais e ONs da Petrobras, Usiminas PNA, Gerdau PN e
Metalúrgica Gerdau PN, além de Bradespar PN.

A recuperação nos preços do petróleo e do minério de ferro,
após as fortes quedas no ano passado e início deste ano, a mudança de rumo
macroeconômica e política no Brasil e alterações no cenário internacional
confluíram para a volta das produtoras de commodities ao topo em 2016 – ainda
que muito abaixo das máximas históricas. Para além desses fatores gerais, há
particularidades dos setores e das empresas.

A siderurgia, que apanhou muito com o tombo da demanda,
agora se recupera diante da expectativa de retomada da economia brasileira. Já
a Petrobras supera seus pares internacionais pela boa recepção do mercado à
guinada na administração da companhia, que chegou ao fundo do poço no ano
passado, em meio às investigações sobre corrupção da operação Lava-Jato.

Fora do auge do Ibovespa, a Vale acumula altas de 61% e 38%
para suas ações preferenciais classe A e ordinárias, respectivamente, apoiada
na sustentação do preço do minério, além de salto recente do carvão. A
Bradespar reflete este movimento, com ganho adicional, pois estava muito
descontada, e devido à renegociação do acordo de acionistas da mineradora, do
qual é parte no bloco de controle.

“Do fim do ano passado para o começo deste ano, o temor
internacional quanto ao aumento de juros nos Estados Unidos e de desaceleração
do crescimento global, especialmente da China, fez o mercado precificar um
cenário muito pessimista para as commodities em 2016”, lembra o analista
da corretora Ativa Investimentos, Lenon Borges.

A reversão dessas expectativas catastróficas quanto ao
desempenho da economia chinesa, combinada a excesso de liquidez no mercado
internacional e investidores sedentos por retorno, em meio a juros muito baixos
ou negativos nos países desenvolvidos, compõem o quadro da valorização das
companhias de commodities brasileiras, na visão do chefe de mercado de capitais
da Eleven Financial, Adeodato Volpi Netto.

Com alta de cerca de 30% no ano, o minério de ferro tem
mostrado resistência nos níveis atuais. A retomada da produção siderúrgica
chinesa, em meio a estímulos locais à economia, e uma percepção de disciplina
na oferta pelas gigantes Vale, Rio Tinto e BHP Billiton contribuem para segurar
as cotações.

O petróleo, com ganho em torno de 40% desde o fim de 2015
até sexta-feira para o tipo Brent, tomou fôlego recente, com o anúncio pela
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de que seus membros
pretendem congelar a produção. Isso apesar da expectativa de que o excesso de
oferta perdure por mais tempo do que se acreditava antes.

“A alta do petróleo e das commodities em geral
favoreceu as empresas brasileiras, mas o que fortaleceu mais o mercado foi a
inflexão na deterioração macro que vivíamos, precedida por uma crise política e
uma deterioração fiscal”, avalia o sócio responsável pela gestão de
recursos do banco Brasil Plural, Carlos Eduardo Rocha.

A mudança no cenário político teve impacto nos indicadores
de expectativa da economia, como a curva de juros futuros, com efeito sobre as
projeções para a empresas de commodities, que são de capital intensivo e,
muitas delas, altamente alavancadas. Além disso, a melhora das estimativas para
oferta de crédito e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) impulsiona a
expectativa para o consumo de aço em 2017.

“A perspectiva da siderurgia é de melhora, não dá para
saber se vai ser muito forte, mas acreditamos que no ano que vem o mercado de
aço deve melhorar”, afirma Bruno Giardino, do Santander. Já neste mês,
Usiminas, CSN e ArcellorMittal anunciaram um reajuste de 5% para o aço plano, a
ser implementado em novembro, na quarta alta de preços no ano.

Além disso, para a Usiminas, por exemplo, pesa a melhora na
solvência da empresa, diz Giardino. A siderúrgica chegou a ser vista como forte
candidata a entrar em recuperação judicial no início do ano, mas mudou de
situação após injeção de capital pelos sócios e reestruturação de dívida.

Apesar dessa mudança de cenário, o analista do J.P. Morgan
Rodolfo Angele acredita que é hora de realizar lucros no setor. Segundo ele, em
relatório recente, há pressões de custos no curto prazo devido à alta do carvão
e risco de choque de oferta com o religamento de alto-fornos e importação em
alta. Além disso, o atual nível de preço das ações implica uma expectativa
agressiva de melhora nos resultados, não justificadas pelos fundamentos do
setor, diz Angele.

Para a analista do Raymond James, Luana Siegfried, a
Petrobras também já não está mais interessante para compra, diante do ganho
acumulado no ano – de 143% para as ações preferenciais e 109% para ordinárias.
Luana avalia que a mudança de administração e de orientação do governo com
relação ao setor de petróleo e gás, além do arrefecimento da Lava-Jato, já
estão precificados.

Enquanto isso, o alto endividamento e o ceticismo quando à
execução do plano de desinvestimentos da companhia -além da dúvida quanto ao
que vai ser da empresa após 2018, ao fim do governo de Michel Temer –
justificam a cautela e recomendação neutra para os papéis da estatal.

Para Bradespar e Vale, os analistas dizem que não há nada
oficial que justifique a diferença entre a valorização das ações de
controladora e controlada. “Pode ser o mercado tentando se colocar na
holding, que pode mudar um pouco seus investimentos, talvez adquirir outros
ativos. Pode ser também especulação sobre mudança no acordo de acionistas [da
Vale]”, diz Borges, da Ativa.

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