A saída dos fundos de pensão Petros, dos funcionários da
Petrobras, e Funcef, da Caixa, do capital da Eldorado Brasil Celulose, amplia
ainda mais as incertezas de viabilidade de duplicação da empresa com a
instalação da segunda linha de produção, que tem investimento orçado em R$ 10
bilhões. As duas fundações entraram em negociações com a J&F Investimentos,
controladora da Eldorado, há poucas semanas para se desfazerem da participação
conjunta de 17% na fabricante até o final de março do próximo ano.
Os planos da Eldorado para ampliar a produção na fábrica de
Três Lagoas (MS), dessa forma, sofrem mais um revés. Ainda sem conseguir um
novo sócio, até o momento, e ver-se envolvida em duas investigações da Polícia
Federal, a companhia ficará com a estrutura de capital fragilizada sem em esses
dois acionistas – Petros e Funcef. Estava previsto, para a execução do
empreendimento, que J&F e os dois fundos aportariam uma expressiva parte
dos recursos.
Agora, a holding da família Batista Sobrinho, também dona do
JBS, terá um desembolso grande para comprar a fatia detida indiretamente pelas
duas fundações, por meio de um fundo, o Florestal FIP.
Na prática, isso significa que a Eldorado não deverá contar
com o dinheiro dos dois fundos para financiar parte do projeto e a conta da
J&F cresceu substancialmente. Do total a ser aplicado na nova linha, R$ 3,5
bilhões correspondem à parcela de “equity”, que considerava aportes
dos três acionistas, a entrada de um novo sócio e uma potencial oferta inicial
de ações (IPO, na sigla em inglês). No passado, a Previ foi procurada mas não
houve interesse de sua parte. Até pouco tempo atrás, a direção da Eldorado
afirmava que todos os acionistas estavam dispostos a ir adiante com o
investimento.
Neste momento, porém, o cenário é diferente. Investigada na
Operação “Greenfield”, que apura irregularidades em investimentos
feitos por fundos de pensão, a J&F entregou como garantia 30% da
participação que possui na Eldorado (de 80,9%) para manter os irmãos Batista em
cargos de comando no grupo, segundo nota divulgada pelo Ministério Público
Federal na sexta-feira. No novo acordo com o MPF, a J&F terá até 31 de
março de 2017 para acertar a compra das ações detidas pelas duas fundações.
Caso o negócio não seja fechado, a holding terá de depositar
o valor integral do acordo de R$ 1,5 bilhão fechado com o MPF em setembro. A
entrega dos papéis em garantia é um desdobramento desse acordo, que permitiu
que os irmãos Batista voltassem a exercer suas funções no grupo enquanto
eventuais perdas dos fundos de pensão com a Eldorado são apuradas – há suspeita
de que o investimento deles foi calculado a partir de valores inflados da
empresa.
Pelos cálculos da própria J&F, a participação dos fundos
de pensão na Eldorado valia, em dezembro de 2015, seis vezes mais do que os R$
550 milhões aportados em 2009. Em posicionamento no dia em que foi deflagrada a
“Greenfield”, o grupo informou que, de acordo com dois laudos, um
deles da Deloitte, o valor atualizado chega a R$ 3 bilhões.
O presidente da Eldorado e acionista minoritário, José
Carlos Grubisich, também assina o acordo e teve seus bens bloqueados. Em
entrevista ao Valor na quinta-feira, um dia antes da nota do MPF, o executivo
disse que investigações internas conduzidas pelo escritório Veirano Advogados e
pela Ernst & Young sobre as alegações da “Greenfield” e de outra
operação da PF, “Sépsis”, um desdobramento da Lava-Jato que envolve a
companhia, podem ser concluídas em dezembro. A companhia informou ainda que o
início de operação do projeto de expansão, previsto para o fim de 2018, ficou
para o primeiro semestre de 2019.
Para analistas do mercado financeiro, o envolvimento da
Eldorado nas investigações tende a dificultar o acesso a dinheiro com custos
adequados. Além disso, a alavancagem financeira da empresa, medida pela relação
entre dívida líquida e resultado antes de juros, impostos, depreciação e
amortização (Ebitda, na sigla em inglês), é elevada (4,7 vezes) e há
necessidade de refinanciamento de dívidas com vencimento no curto prazo.
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