Segunda maior produtora mundial de celulose de eucalipto, a
Suzano Papel e Celulose reagiu ao cenário desafiador para os negócios com a
matéria-prima. Além de revisar investimentos em 2016 e 2017, a companhia poderá
reduzir a produção no ano que vem, retirando do mercado capacidades menos
competitivas conforme as condições de preço e câmbio. Com essa indicação, a
Suzano espera sensibilizar outros produtores de celulose a seguirem pelo mesmo
caminho e evitar, assim, mais deterioração no retorno da indústria.
Nos próximos 12 meses, ao menos dois grandes projetos, da
Asia Pulp & Paper (APP) e da Fibria, entrarão em operação, com oferta
adicional de pouco mais de 4,7 milhões de toneladas por ano. Esse volume será
gradualmente colocado em um mercado marcado pelo crescimento da demanda e
baixos preços da matéria-prima- já reflexo do desequilíbrio entre oferta e
procura. Caso decida por uma parada comercial em 2017, poderia retirar do
mercado entre 100 mil toneladas e 150 mil toneladas.
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“Estamos anunciando a possibilidade de redução de
volume de produção de celulose dependendo do preço e do câmbio”, afirmou o
presidente da companhia, Walter Schalka. Nas últimas semanas, disse o
executivo, as condições de preço têm sido “mais benignas” e se essa
trajetória se mantiver, a Suzano pode não ter interesse em reduzir a produção.
Ainda assim, o retorno sobre o capital investido (ROIC) está
abaixo do “requerido”, ressaltou o executivo. “Não queremos ser
os únicos a retirar volumes do mercado. Vamos analisar o comportamento dos
concorrentes e se percebermos que seremos os únicos, retornaremos”,
avisou.
A Suzano reiterou que a principal métrica de gestão é o
ROIC, com base na geração de caixa operacional, que totalizou R$ 2,13 bilhões
de janeiro a setembro. A distribuição de dividendos, acrescentou, será baseada
na geração de caixa.
Em relação aos preços da matéria-prima, o diretor do negócio
de papel e celulose da Suzano, Calos Aníbal de Almeida, disse que a demanda
global segue sólida e positiva e, no quarto trimestre, o cenário será de oferta
“ligeiramente menor” do que a vista no terceiro trimestre.
“Continuamos buscando a implementação do preço de US$
530 por tonelada anunciado para a China a partir de outubro e acreditamos que
[a aplicação do reajuste] chegará à plenitude nas próximas semanas”,
afirmou. Também houve reajuste nos preços de venda de papel para a América
Latina, de 4% a partir deste mês.
A Suzano anunciou ainda nova redução nos investimentos
previstos para este ano, de R$ 2,1 bilhões para R$ 1,9 bilhão, diante de
“mudanças recentes no cenário macroeconômico”. Em agosto, a empresa
já havia feito o primeiro ajuste no orçamento inicial, de R$ 2,4 bilhões. Para
o ano que vem, o orçamento é de R$ 1,7 bilhão.
Os novos números refletem mudanças no câmbio, negociação de
contratos, postergação de pagamentos e da expansão de capacidade na fábrica de
Mucuri (BA) prevista no projeto 5.1 em um ano, além da necessidade de menor
investimento em florestas – redução de cerca de R$ 110 milhões por ano – após a
compra de terras e ativos florestais de controladas do grupo Queiroz Galvão no
Maranhão e no Tocantins.
Junto com os resultados do terceiro trimestre, que vieram
fracos porém em linha com o esperado, a Suzano anunciou a compra de 75 mil
hectares, dos quais 40 mil hectares de florestas plantadas, por US$ 245 milhões
– US$ 145 milhões pelas florestas e US$ 100 milhões pelas terras. Desde o
começo do ano passado havia rumores sobre as negociações e, como parte do
negócio, a Suzano levou por US$ 14 milhões uma pequena central hidrelétrica
(PCH).
A transação deve ser concluída em 30 a 45 dias e, com ela, a
Suzano encerra a compra de ativos florestais para garantir 100% de
abastecimento próprio de madeira. Segundo Schalka, o pagamento será feito à
vista e com recursos próprios, na data de fechamento da operação. “Temos
um caixa de R$ 4 bilhões, então estamos muito tranquilos com o pagamento”
afirmou.
De julho a setembro, a companhia teve lucro líquido de R$ 53
milhões, frente a prejuízo de R$ 959 milhões um ano antes, influenciado pelos
baixos preços da celulose e pela variação cambial. O resultado antes de juros,
impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado totalizou R$ 768 milhões,
com queda de 48% na comparação anual e de 20,6% frente ao segundo trimestre,
diante da forte desvalorização da matéria-prima no mercado internacional, da
valorização do real e do menor volume de vendas tanto de celulose quanto de
papel. A receita líquida, por sua vez, caiu 27,2%.
A despeito das condições difíceis no mercado global de
celulose e da demanda ainda fraca de papel no mercado doméstico, a Suzano teve
geração de caixa operacional de R$ 507 milhões, com queda de 58,7% na
comparação anual e de 30% frente ao primeiro trimestre. “Essa geração de
caixa é positiva diante das condições de mercado. Estamos em uma posição
relativamente melhor que outros ‘players'”, ressaltou.
Um dos destaques do trimestre foi o custo caixa de produção
de celulose, de R$ 637 por tonelada (sem considerar paradas), estável na
comparação com os três meses anteriores e 4,7% menor do que o registrado um ano
antes. Conforme Schalka, a tendência é que o custo caixa continue caindo nos
próximos trimestres, de forma que o valor médio em 2017 será menor do que o
apurado neste ano. “Não será trimestre a trimestre com redução, mas a
tendência é continuar se reduzindo até chegar a R$ 475 por tonelada em 2021 e
2022”, disse, acrescentando que a meta é chegar a R$ 570/tonelada em 2018.
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