A pedido do Ministério Público Federal em Barretos (SP), a
Justiça determinou o bloqueio de R$ 14,9 milhões do ex-prefeito da cidade, Uebe
Rezeck – ex-deputado estadual pelo PMDB -, dos ex-secretários municipais João
Carlos Guimarães e José Domingos Ucati, de cinco ex-funcionários do DNIT, de quatro
construtoras e seus representantes legais. Todos são acusados de improbidade na
construção do Contorno Ferroviário de Barretos.
As informações foram divulgadas nesta segunda-feira, 19,
pela Assessoria de Comunicação da Procuradoria da República em São Paulo.
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(O número processual é 0001329-82.2016.4.03.6138. A
tramitação pode ser consultada em http://www.jfsp.jus.br/foruns-federais/.)
A autora da ação é a procuradora da República Sabrina
Menegário.
Segundo a ação, o Contorno Ferroviário de Barretos, com 12,2
quilômetros de extensão, tinha por objetivo eliminar o conflito e a
interferência da linha férrea no tráfego do centro da cidade.
A obra foi dividida em quatro lotes. Em 1999, época em que
Uebe Rezeck era prefeito, João Carlos Guimarães secretário de finanças e José
Domingos Ducati secretário de Obras do município, foi aberta licitação para a
contratação de empresas para a execução dos quatro lotes do empreendimento.
Na documentação do processo, constava como fonte de recursos
única e exclusivamente a Secretaria de Obras e Serviços Urbanos de Barretos,
que, segundo os gestores municipais, dispunha à época de R$ 1,1 milhões.
Segundo a ação do Ministério Público Federal, a licitação
resultou na contratação de quatro empresas, uma para cada lote, com previsão de
execução da obra em 12 meses. No entanto, os preços fixados na contratação das
vencedoras da licitação somaram R$ 10,29 milhões, valor muito acima do que
dispunha a secretaria, ‘o que já era irregular, visto que toda licitação deve
contar com previsão de dotação orçamentária capaz de assegurar o pagamento das
obras e serviços’.
Para obter os recursos necessários, a prefeitura firmou, em
dezembro de 1999, convênio com o Ministério dos Transportes que, após quatro
termos aditivos, fixou o valor total de R$ 5,69 milhões para a execução dos
lotes 1 e 2, com finalização prevista para dezembro de 2002.
“Novamente, a prefeitura se comprometeu com recursos que não
tinha, já que sua contrapartida neste convênio, que previa apenas dois dos
quatro lotes, ultrapassaria os R$ 1,1 milhões que possuía para os quatro
lotes”, sustenta a Procuradoria da República.
“Ainda assim, não visando a finalização dos lotes 1 e 2, mas
para dar início aos lotes 3 e 4, a prefeitura de Barretos solicitou a
celebração de novo convênio com o DNIT, em novembro de 2002”, segue o
Ministério Público Federal. “Este novo acordo previa um valor total de R$ 6,9
milhões, com contrapartida do município de R$ 1,38 milhões.”
O valor deste plano de trabalho, aprovado pelo DNIT, também
era diferente do valor licitado contratado para a execução dos lotes 3 e 4.
“Mas, diferentemente do plano de trabalho apresentado, e também diferente do
valor já contratado, em dezembro de 2002, o convênio foi firmado no valor total
de R$ 1,5 milhões, valor insuficiente para a execução das obras.”
Segundo a Procuradoria, ’em nenhuma cláusula do convênio
havia previsão de que a diferença dos valores seria subsidiada com outras
fontes, ou que o mesmo executaria apenas partes dos serviços necessários para a
implantação dos lotes 3 e 4, que também nunca foram finalizados’.
Apesar de todo o valor investido, o Contorno Ferroviário
está inacabado. Pouco após o término da vigência do segundo convênio, em 2008,
o próprio DNIT solicitou a elaboração de projeto executivo para a recuperação
da ferrovia, ‘face às péssimas condições do que foi construído, inclusive com
estado avançado de erosão’.
Nova licitação foi realizada em 2010 para a recuperação e
complementação do Contorno Ferroviário, com orçamento base de R$ 16,27 milhões.
“Este fato chamou atenção do Tribunal de Contas da União, que instaurou
processo para avaliar a legalidade, conformidade e economicidade das obras
complementares do contorno, constatando que esta nova contratação, na verdade,
faria a reconstrução total da obra, que não havia sido concluída com os
recursos dos convênios de 1999 e de 2002, mesmo o DNIT e o Ministério dos
Transportes terem aprovado suas contas, de forma ilícita’.
A ação de improbidade ajuizada pelo Ministério Público
Federal mostra que ‘ocorreu a imobilização de capital público vultoso que não
serviu para nenhuma finalidade’.
Segundo a Procuradoria, ‘atualmente há necessidade de novo
investimento, inclusive maior ainda, para a efetiva implantação do Contorno
Ferroviário’.
“Para tanto, o ex-prefeito e ex-secretários de Barretos, bem
como os responsáveis no DNIT, praticaram atos que causaram grande prejuízo ao
erário, ao promover a construção de obra sem previsão de recursos suficientes e
sem a fiscalização adequada. Assim como as empreiteiras contratadas tiveram
enriquecimento ilícito ao incorporar os recursos públicos aos seus patrimônios,
sem sequer finalizar a obra.”
Pedidos – Além da indisponibilidade dos bens no total do
‘dano causado ao erário’, R$ 14,9 milhões, já decretada pela Justiça, o
Ministério Público Federal pede a condenação dos reús por improbidade, com
consequente ressarcimento integral do prejuízo.
A reportagem não localizou Uebe Rezeck e seus ex-secretários
municipais de Barretos. O espaço está aberto para manifestação dos acusados
pelo Ministério Público Federal.
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