O consumo aparente de aço no país, que reúne tanto os
produtos nacionais como os importados, continua caindo e a expectativa é que a
recuperação seja bastante tímida no ano que vem. Mas as vendas internas,
especialmente do segmento de planos, ostentam um momento de maior estabilidade
enquanto as importações mantêm a derrocada.
Para o Instituto Aço Brasil, não parece haver sinal ainda de
que a atividade econômica esteja se recuperando e a procura por produtos
siderúrgicos vá melhorar logo. A entidade estima apenas um leve avanço de 3,5%
no consumo em 2017, frente aos 17,9 milhões de toneladas esperados para 2016.
“Não há nenhum fator novo que justifique qualquer
mudança de tom em termos de retomada, não só para o aço, como para toda a
indústria de transformação”, garante Marco Polo de Mello Lopes,
presidente-executivo do instituto. “O momento é extremamente delicado e só
agora o governo parece fazer uma lição de casa que não fez antes, buscando
medidas pontuais para mexer na economia.”
Lopes lembra que a medida de curto prazo mais importante
seria elevar a alíquota do Reintegra, programa de compensação de resíduo
tributário a exportadoras, para 5%, para que a venda ao exterior seja uma saída
possível. “Não foi feito nenhum movimento por parte do governo no sentido
de corrigir assimetrias [competitivas, que garantam a habilidade de
exportar].”
Levantamento do Valor feito com dados do Aço Brasil mostra
que, enquanto o consumo aparente se retrai mês a mês considerando o período de
um ano cheio, as vendas internas estão praticamente no mesmo nível – chegando
até a subir em agosto e setembro. A virada deixou de se materializar em
outubro, mas ainda assim o desempenho é melhor das vendas do que do consumo.
Nos 12 meses até outubro, a demanda chegou a 18,12 milhões
de toneladas e as vendas das usinas, a 16,42 milhões de toneladas. Sobre o fim
do primeiro semestre, por exemplo, se considerado o acumulado de 12 meses, a
queda nas vendas internas é de 1,5% e o consumo cai o dobro, 3%. Nessa base, a
importação desabou 10%.
“Os números ainda não refletem uma virada. Parece mais
uma recuperação demorada”, escreve o BTG Pactual em relatório. O banco
aposta que, quando essa recuperação de fato vier, a elasticidade frente ao
Produto Interno Bruto (PIB) pode ser muito elevada. A previsão é de muitos anos
de crescimento. “Recomendamos agora que o governo olhe o que é necessário
em medidas emergenciais”, diz Lopes, do Aço Brasil.
O balanço das grandes empresas do setor traz evidências de
que as usinas vivenciam maior estabilidade em volumes. A Usiminas elevou as
vendas de aço em 7% no terceiro trimestre sobre o segundo, para 959 mil
toneladas. Só no Brasil, foram 814 mil toneladas, alta de 3,8% na mesma comparação.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) viu as vendas totais caírem 6%, para
1,17 milhão de toneladas, mas crescerem 9% no mercado interno, para 730 mil
toneladas.
O destaque é para o segmento de planos. Essa área, que
destina sua produção à fabricação de automóveis e de máquinas e equipamentos,
registra desempenho melhor em vendas do que os aços longos, mais focados em
construção civil e infraestrutura.
“O que vemos é que a construção civil sofre
infinitamente mais do que o setor automotivo, por exemplo. Tudo está parado,
por um lado pelo que envolve as grandes empresas [comprometidas na Operação
Lava-Jato] e do outro, pela parada dos programas de incentivo”, afirma
Lopes.
Nos 12 meses até outubro, as vendas internas de produtos
laminados planos chegaram a 9,24 milhões de toneladas, o quinto mês consecutivo
de aumento se for levada em conta essa análise. Ante o fim do primeiro
semestre, há alta de 2,4%. Já laminados longos chegaram a 6,85 milhões de
toneladas, em contração desde 2014 e com recuo de 6% frente aos 12 meses até
junho.
Recorrendo novamente ao balanço da maior empresa do segmento
de longos, a Gerdau, as vendas totais caíram 13,5% no terceiro trimestre
perante o segundo, para 3,67 milhões de toneladas. No Brasil, a diminuição foi
de 7,8%, para 928 mil toneladas.
Essa diferença nas áreas da siderurgia é um dos principais
motivos pelos quais até agora as produtoras de aços planos conseguiram engatar
cinco reajustes de preço, enquanto as de longos pararam no quarto. Os preços do
aço internacional sobem e a taxa cambial também ajuda, mas a própria Gerdau
reclamou que a velocidade de aumento nos Estados Unidos é muito maior do que se
vê por aqui.
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