A Adecoagro, empresa agrícola da América do Sul apoiada por investidores que incluem George Soros, quer vender grãos no México, aproveitando a deterioração das relações comerciais do país com os Estados Unidos desde a ascensão ao poder de Donald Trump.
A iniciativa da empresa personifica os temores no setor agrícola dos EUA de que os planos da Casa Branca de reformular o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Natfa) poderão prejudicar um lucrativo mercado exportador. O pacto permite a livre comercialização da maioria das commodities agrícolas entre Canadá, México e EUA.
Em 2016, os EUA venderam US$ 17 bilhões em produtos agrícolas ao México, o principal destino das exportações americanas de milho, arroz e lácteos. O México compra 98% de suas importações de milho dos EUA, segundo o International Trade Centre.
A Adecoagro, que tem ações listadas na Bolsa de Nova York, colhe perto de 2 milhões de toneladas na Argentina, Brasil e Uruguai. Mariano Bosch, seu principal executivo, disse que sua equipe comercial está agora tentando firmar acordos para vender arroz, milho e laticínios ao México. “O México poderá se tornar um mercado importante para nós se Trump continuar criando problemas com o país”, disse Bosch.
A produção da Adecoagro poderá competir com as de companhias americanas como Archer Daniels Midland (ADM), Bartlett Grain e CHS. O livre comércio e o curto transporte via trem para o sul, dão hoje aos grãos dos EUA vantagem no mercado mexicano. Se essas importações ficarem mais caras, “os mexicanos terão opções”, disse Philippe de Lapérouse, diretor-gerente da consultoria HighQuest Partners. “Eles poderão recorrer ao Brasil e à Argentina para esses produtos”.
O México tem acordos de livre comércio com 45 países. O país quer concluir acordos com o Brasil e a Argentina, e fortalecer as relações com nações do Pacífico como Austrália e Nova Zelândia, segundo o ministro da economia mexicano, Ildefonso Guajardo. “Não podemos ficar parados, sem ampliar intensivamente nossas fronteiras comerciais”, disse.
A maior parte dos Estados no cinturão agrícola do Meio-Oeste dos EUA votou em Trump. Mesmo assim, o setor agrícola está preocupado com suas políticas comerciais e já enviou a Trump uma carta observando que “o setor – e as comunidades rurais que dependem dele – conta muito com os mercados exportadores para sustentar os preços e as receitas”.
A Adecoagro controla ou gerencia 434 mil hectares de terras cultiváveis, além de usinas de açúcar, processadoras de arroz e lácteos. Além de vender localmente, exporta para África, Ásia, Oriente Médio e América Central. “Não estamos vendendo nada para o México. Tudo lá é fornecido pelos EUA. É por isso que estamos entusiasmados com a oportunidade”, disse Bosch.
Seja o primeiro a comentar