Ano novo chinês ajuda a puxar os preços do minério e dos metais

O início de ano foi melhor para minério de ferro e metais não ferrosos do que para o petróleo, dentro do complexo de commodities industriais. Sinais da China continuaram a impulsionar as matérias-primas metálicas, enquanto as perspectivas do programa de infraestrutura de Donald Trump, novo presidente dos Estados Unidos, também reforçaram a expectativa de demanda. A recomposição de estoques nos portos chineses na antecipação ao Ano Novo Lunar também ajudou. No lado do petróleo, contudo, o retorno de produtoras do xisto americano e dúvidas sobre o consumo global reacenderam o sinal amarelo da sobreoferta para investidores.

O minério com teor de 62% de ferro entregue no porto de Qingdao, na China, fechou janeiro cotado em US$ 83,34 por tonelada, segundo a “Metal Bulletin”. A alta no mês foi de 5,7%. Surpreendemente, nos últimos dois meses o insumo tem demonstrado uma resistência que não era esperada – e exatamente por isso as projeções estão sendo elevadas.

O Barclays aumentou a previsão de média para 2017, de US$ 51,30 para US$ 62,50; o Citi, de US$ 56 para US$ 65; a Moody’s, de US$ 45 para US$ 60; e a S&P Global Ratings, de US$ 50 para US$ 55. Levantamento feito pelo Valor com 14 instituições financeiras apontava para US$ 50 há alguns meses. Agora a estimativa é de US$ 58.

Para Carsten Menke, analista do banco suíço Julius Baer, no curto prazo o cenário para o minério segue positivo. Os problemas de fornecimento dos países que mais produzem a matéria-prima no mundo, Austrália e Brasil, por conta da temporada de ciclones e chuvas, respectivamente, deve impedir o excesso de oferta. “Isso se alia

ao aumento da demanda chinesa com a mais elevada produção chinesa de aço após o Ano Novo Lunar”, diz.

Durante esta semana toda, o feriado do Ano Novo na China segura a produção siderúrgica e os negócios com minério. Com isso, Menke vê força até praticamente o fim deste trimestre, quando a retomada da oferta e o arrefecimento da procura pela commodity devem causar inversão da tendência. A projeção do analista para o fim de abril é de US$ 60.

Janeiro foi também período de alta para metais não ferrosos. Na Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês), os contratos futuros de três meses do cobre subiram 8,9% no mês, para US$ 5.989 a tonelada, e o alumínio avançou 6,2%, para US$ 1.819. O níquel, porém, sofreu leve queda de 0,5%, terminando em US$ 9.955.

No caso do cobre, continuam fortes as expectativas quanto as despesas de Trump com infraestrutura e o reaquecimento da construção nos EUA. Além disso, os trabalhadores de Escondida, no Chile – maior mina de cobre do mundo -, ameaçam entrar em greve pela falta de acordo em relação a salários. A sobreoferta seria mais aliviada pela projeção da BHP Billiton, terceira maior produtora global, de reduzir sua extração.

Já para o alumínio primário, animaram os investidores as notícias vindas da China de que o país deve reduzir sua capacidade em cerca de 3,3 milhões de toneladas, o que aumentou a aposta na alta do metal. O níquel é pressionado, na outra ponta, por uma expectativa de fornecimento excessivo depois que a Indonésia decidiu relaxar uma proibição de três anos sobre as exportações da commodity.

Com um potencial de alta já considerado limitado por analistas, o petróleo caiu em janeiro. O preço do barril continuou beneficiado, por um lado, pelo corte de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), mas a ameaça do xisto americano e dúvidas sobre consumo mundial derrubaram o preço.

O segundo contrato do Brent, negociado em Londres, caiu 3,32% durante o mês, para US$ 55,58. Em Nova York, o segundo contrato do WTI recuou 2,27% em janeiro, para US$ 53,42.

Em 13 semanas, a contagem de sondas exploratórias em atividade nos EUA subiu durante 12 delas. “Isso torna mais difícil a tarefa da Opep de usar os cortes para recuperar o equilíbrio no mercado”, afirmou o Commerzbank em relatório.

“A demanda continua fraca e vemos estoques aumentando nas próximas semanas”, informa o Julius Baer. “O que não falta agora é fundamento para uma realização de lucros no mercado futuro.”