A chegada de Donald Trump à presidência dos EUA afetou a maior parte das commodities agrícolas negociadas nas bolsas americanas em janeiro, seja de forma direta, como no caso dos grãos, ou indireta, refletindo oscilações do dólar ante as principais divisas do mundo. Entre as promessas do republicano, a renegociação do Nafta, bloco de livre comércio entre EUA, México e Canadá, a imposição de uma taxa de 20% sobre as importações do México e a ampliação dos investimentos em infraestrutura nos EUA foram as de maior impacto no mercado, segundo analista da FCStone, Ana Luiza Lodi. Principal commodity agrícola produzidas pelo Brasil, a soja iniciou o mês em alta na bolsa de Chicago devido às chuvas acima da média na Argentina, o que levou a perdas estimadas em até 5 milhões de toneladas na safra 2016/17 no país. Mas, após bater o maior valor em seis meses na bolsa – a US$ 10,8375 -, a oleaginosa passou por correções, refletindo a melhora do clima e a apreensão com eventuais medidas protecionistas do governo americano que possam afetar as exportações dos Estados Unidos. De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a safra americana 2016/17 de soja deve atingir o recorde de 117,21 milhões de toneladas, e mais de 50% desse volume deve ser exportado. Como resultado desse cenário de incertezas, a soja fechou janeiro com alta mais modesta, de 1% sobre dezembro, conforme cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega em Chicago. Também o milho sofreu oscilações na bolsa de Chicago, especialmente após a posse de Trump. A commodity começou janeiro firme com a decisão dos países da Opep de reduzirem a produção de petróleo, o que elevaria a demanda por etanol, que nos EUA é feito a partir do cereal. No dia 23, a segunda posição chegou a atingir US$ 3,7650 por bushel. Mas a decisão do governo americano de adiar para março a entrada em vigor dos novos volumes obrigatórios de uso de combustíveis renováveis para este ano nos EUA colocou em xeque a demanda interna e fez o contrato fechar o mês a US$ 3,65 o bushel. Ainda assim, os papéis fecharam o mês em alta de 3,27% ante dezembro. O trigo teve valorização de 5,93%, refletindo os ganhos do início do mês, quando o tempo seco nas Grandes Planícies americanas impulsionaram as cotações. As chuvas recentes, porém, indicam melhores condições para o período de dormência das lavouras, reforçando os fundamentos de queda, em meio ao aumento de 5% nos estoques mundiais no fim da atual safra 2016/17. Em Nova York, as ‘softs’ commodities refletiram as oscilações do dólar em janeiro conforme as declarações de Trump e os resultados do desempenho da economia americana indicavam uma maior ou menor probabilidade de aumento dos juros nos EUA. O dólar mais fraco tende a desestimular as exportações de países produtores, como o Brasil, reduzindo a oferta, ao mesmo tempo em que torna os produtos americanos competitivos, elevando a demanda internacional. “Trump tem dado declarações de que o dólar está muito forte e a expectativa é de que o dólar caia e, em resposta, as commodities como açúcar e café tendem a subir”, afirmou a trader da Olam International, Lorena Barreto Leonel. Os mercados de açúcar e café já refletiram essa tendência em janeiro. A queda do dólar foi catalisada ainda pelos fundamentos, em ambos os casos. No açúcar, o recuo da produção na Ásia e a possibilidade de que a Índia importe o produto para suprir a demanda interna deu sustentação aos contratos de segunda posição, que encerraram o mês com alta de 10,25%. No caso do café, somou-se à queda do dólar a previsão da Conab de uma queda de até 15% na safra 2017/18 no Brasil, de bienalidade negativa. Se confirmada, a produção de café deve cair para 43,65 milhões de sacas. Como reflexo desse cenário, os contratos de segunda posição fecharam janeiro com alta de 6,49% sobre a média de dezembro. O algodão também encerrou o primeiro mês de 2017 em alta de 4,1%, reverberando, além do câmbio, o bom desempenho das vendas externas dos EUA, que atingiram o maior volume do ano-safra, ficando acima da média histórica para o período. Entre as commodities que registraram baixas em janeiro, o cacau fechou com recuo de 4,01% para a segunda posição em meio à perspectiva de superávit na oferta mundial e queda na demanda. Esse cenário se repetiu para o suco de laranja concentrado e congelado, que terminou o mês em queda de 12,9% sobre dezembro conforme os cálculos do Valor Data para segunda posição, em meio ao otimismo com a safra 2016/17 no Brasil e ao consumo retraído nos EUA.
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