Amec aprova modelo criado para Vale

O projeto de governança da Vale, cuja perspectiva é a transformação da mineradora em uma companhia sem dono e a listagem no Novo Mercado, alcançou um feito inédito: uma carta de elogio da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), com aprovação unânime do comitê técnico da casa com 15 participantes.


“A Vale é uma companhia paradigmática para o mercado de capitais brasileiro. E o comportamento dela pode elevar a régua, como exemplo positivo, a despeito das brechas legais para operações agressivas aos minoritários”, afirmou Mauro Rodrigues da Cunha, presidente da Amec, ao Valor.


Atualmente, a mineradora é a quinta maior companhia da BM&FBovespa, avaliada em mais de R$ 150 bilhões – atrás apenas de Ambev, Itaú, Petrobras e Bradesco. Além disso, está entre as quatro ações mais negociadas e com maior representatividade no Índice Bovespa.


A avaliação positiva da Amec não diz respeito à condição financeira da proposta, que prevê a entrega de 0,9342 ação ordinária para cada preferencial detida pelos acionistas. O foco é a relação estabelecida entre controlador e minoritário e o caráter negocial que a estrutura adotada deu à operação.


Os destaques positivos, de acordo com Rodrigues da Cunha, são a troca voluntária de ações preferenciais em ordinárias (só se o investidor quiser) e à decisão de submeter a transação à consulta em assembleia de preferencialistas e ordinaristas minoritários, com abstenção de voto pelo controlador.


“Cabe, portanto, aos acionistas minoritários da Vale fazer o seu julgamento sobre o preço oferecido, seguros de que, na opinião da Amec, estão diante de uma operação correta do ponto de vista processual, e que tem potencial de se tornar um parâmetro importante para o mercado de capitais brasileiro”, diz a carta da associação.


A despeito de não fazer julgamento sobre o preço da conversão da mineradora de preferenciais em ordinárias, o posicionamento da Amec discretamente chama os investidores a refletir sobre decisões de compra e expectativas sobre os direitos embutidos nos ativos. “A operação ilustra ainda que diferentes classes de ações possuem valores diferentes, reiterando a importância da reflexão dos investidores ao comprarem ativos com direitos políticos restritos, sobretudo diante de determinadas inovações em gestação no Brasil e no mundo.”


Em certo ponto, o documento aponta, mas sem mencionar, uma operação que mereceu alerta negativo e foi alvo de preocupação da associação: a criação de super-preferenciais pela Azul.


Desde que a transação da Vale foi anunciada pelos controladores, em 20 de fevereiro, a relação entre as ações PNA e ON tem se mantido estável e em torno da proposta feita: pouco abaixo de 0,95 ON para cada PNA. O comportamento indica a aposta no avanço do modelo.


O momento para proposição da conversão de PNA em ON foi favorável aos acionistas de mercado. Conforme histórico calculado pelo Valor Data, há um ano, cada ação preferencial valia em bolsa menos de 0,75 ação ordinária.


Ontem, as ações PNA da Vale subiram 1,93%, para R$ 28,51, e as ON tiveram ganho de 1,43%, para R$ 29,81. Na segunda-feira, foi anunciado que Fábio Schvartsman será o novo presidente da mineradora, numa decisão que surpreendeu o mercado positivamente pela rapidez e pela indicação de um executivo de mercado – dado rumores de risco de interferência política na escolha de um sucessor para Murillo Ferreira, já que internamente não foi construída a sucessão para tal posição.


Sobre a escolha de Schvartsman, Rodrigues da Cunha preferiu não fazer comentários. Segundo ele, a posição da Amec refere-se exclusivamente à estrutura da operação societária proposta pela Vale.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*



0