Deloitte defende cautela para mineradoras

Apesar da alta recente nos preços das commodities, movimento que ganhou impulso no ano passado e se manteve neste começo de 2017 – incluindo minério de ferro, cobre e níquel -, as mineradoras mantêm um “otimismo cauteloso”, na visão da consultoria Deloitte. A postura mais conservadora das empresas do setor se apoia no fato de que a volatilidade continuará a ser uma marca do mercado de commodities. Mas os ciclos de alta e de baixa nos preços, que antes eram mais longos, passarão a ser mais curtos e, nesse cenário, as companhias vão ter que continuar a ter foco na redução de custos e investir em inovação, diz Eduardo Raffaini, sócio-líder de mineração da Deloitte no Brasil.


A inovação tornou-se um tema-chave para as mineradoras, segundo relatório da Deloitte que identifica as tendências para a mineração global. O documento lista dez questões que as empresas do setor vão enfrentar neste ano, como inovação, excelência operacional, China e fontes de energia.


Raffaini disse que, depois de as mineradoras terem feito uma primeira redução de custos, terão que continuar trabalhando sobre o tema como forma de ganhar produtividade. E é aí que entra a inovação. “As mineradoras terão que buscar conhecimento de outras indústrias como automotiva e óleo e gás, aproveitando conhecimento desses setores para aumentar sua competitividade”, disse Raffaini.


Um caminho para investir em inovação é trabalhar de forma colaborativa. A mineradora pode, por exemplo, lançar um desafio para que outras empresas desenvolvam projeto para prospecção de mina, remunerando o candidato que oferecer a melhor proposta, disse Raffaini. Na crise recente do setor, quando os preços despencaram, houve uma desaceleração em projetos de prospecção de novas minas, levantando o receio entre especialistas de que, no futuro, haja um déficit de oferta.


“Se o preço [das commodities] se mantiver em patamar razoável [por mais tempo] vai fomentar de novo a indústria de mineração, levando a uma retomada nos investimentos”, disse Raffaini. Na visão dele, as empresas precisam continuar atentas pois, apesar de certa estabilidade recente, o mercado ainda é marcado pela volatilidade.


Um fator-chave nesse aspecto é a China, cujo nível de demanda contribui para a alta ou baixa dos preços das commodities. O país é o maior consumidor mundial de commodities industriais e está no caminho de crescer abaixo de 7% ao ano a curto prazo, afirma o relatório da Deloitte. Outro aspecto que pode influenciar os preços é a disposição do presidente americano Donald Trump de investir em infraestrutura nos Estados Unidos, o que pode aumentar a demanda por aço e minério de ferro.


Nesse ambiente global volátil, em que notícias de uma greve em uma grande mina, por exemplo, podem levar ao aumento nos preços de uma commodity, as empresas precisam estar preparadas, diz Raffaini: “As empresas precisam medir a volatilidade para garantir retorno ao acionista, o que passa por otimizar o portfólio [de projetos] e ter um processo de fusão e aquisição robusto”. Atualmente, as empresas estão mais focadas em garantir crescimento com os projetos já em operação do que via aquisições. “Todas as mineradoras mantêm disciplina de capital bem regulada.”


Segundo ele, as mineradoras continuarão dependentes dos preços, mas também da carteira de projetos e de seu perfil (se são diversificadas ou não). Outro elemento importante será o custo: se conseguem realizar investimentos de longo prazo nos custos planejados, bem como manter os custos de produção sob controle de maneira a aumentar a produtividade.


No caso do Brasil, há ainda questões regulatórias no setor de mineração que são um desafio para atrair investidores, disse Raffaini. Outro ponto são as questões ambientais, especialmente depois do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), em novembro de 2015.

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