Enquanto os foliões se divertiam país afora durante o Carnaval, Vilmar de Oliveira Filho ainda colhia soja nos últimos talhões de sua fazenda de 650 hectares em Rio Verde, Goiás. Nesta safra 2016/17, está dando tudo certo. Para ele e para a grande maioria dos produtores do município, principal polo agrícola de um Estado que deverá gerar 21,1 milhões de toneladas de grãos (soja e milho) na temporada. O volume é 20,5% superior ao do ciclo 2015/16, que foi prejudicado pelo fenômeno climático El Niño. Como mostram as projeções da Aprosoja-GO, que representa produtores goianos de grãos, é a safra da recuperação.
Para aproveitar os ventos favoráveis, agricultores, revendas de insumos e concessionárias de caminhões e máquinas ficaram de plantão no Carnaval em Rio Verde. Tudo para finalizar a colheita de soja e acelerar o cultivo de milho safrinha, os dois pulmões da economia da região. Nos cálculos do Ministério da Agricultura, o valor bruto da produção (VBP, “da porteira para dentro”) da oleaginosa chegará a US$ 12,4 bilhões em Goiás em 2017, mesmo patamar de 2016. Mas o VBP do cereal, que foi mais afetado pelas intempéries em 2015/16, poderá aumentar quase 70%, para R$ 6,4 bilhões.
Vilmar, que tem 31 anos, é natural da cidade e aprendeu o ofício com o pai, está colhendo 63 sacas de soja por hectare nesta safra, bem acima das 50 sacas obtidas no ciclo anterior (2015/16). E isso que a palavra de ordem para 2016/17 foi cautela. Ele não ampliou a área plantada nem adquiriu novas máquinas. Fez o básico, investiu em sementes apropriadas, fertilizantes e defensivos e contou com a ajuda de São Pedro.
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“Consegui plantar minha soja 22 dias antes [que na safra passada], a água caiu bem mais cedo e, graças a Deus, a produtividade voltou ao nível de duas safras atrás”, diz. Mas a soja é quase passado, e Vilmar agora está focado na segunda safra de milho, que está 90% plantada no Estado. “Agora é concentrar na safrinha [de milho] para tampar o furo que acumulei com o desastre da temporada passada”.
Em função de adversidades climáticas que atrapalharam a produção na região nas últimas três safras, Vilmar acumulou dívidas de R$ 800 mil com tradings e revendas, que agora busca quitar. Em vez de sementes de milho transgênico (Bt), mais caras, plantou híbridos tradicionais na safrinha e fez mais aplicações de defensivos para evitar perdas com pragas e doenças. Sua expectativa é tirar 110 sacas de milho por hectare, ante as pífias 33 sacas do ciclo passado.
“Este ano, já colhi toda a soja que plantei e consegui terminar o plantio da safrinha até 28 de fevereiro. No município, mais de 80% da área prevista para o milho já foi plantada. Se chover bem, vamos comemorar a volta de uma safra cheia”, afirma o produtor Oscar Durigan, que é diretor do sindicato rural de Rio Verde e cujas lavouras ocupam 1,5 mil hectares.
Em geral, a colheita de soja em Rio Verde já alcançou 90% de uma área plantada de cerca de 230 mil hectares. A produtividade média está estimada em 55 sacas por hectare, ante menos de 50 sacas em 2015/16, de acordo com dados do Sindicato Rural local. Conforme a Aprosoja-GO, é mais ou menos esse o ritmo em todo o sudoeste goiano, onde se localiza o município.
No Estado como um todo, já foram colhidos 65% da soja plantada, segundo Bartolomeu Pereira, presidente da entidade que representa produtores. A produção goiana de soja deverá aumentar 2,5% nesta safra 2016/17, enquanto a de milho safrinha tende a subir 60%. “Tivemos um veranico no fim do ano passado, mas para a maior parte da safra o clima foi satisfatório e a produção ficou até acima do esperado em algumas áreas”, afirma Pereira.
Ele acredita que a logística favorável, a diversificação de culturas e o avanço da irrigação colocaram Goiás em uma curva ascendente de produção na última década – com exceção das safras 2013/14, 2014/15 e 2015/16, que, em maior ou menor escalada, encararam clima adverso.
Pereira lembra que, ao contrário de Mato Grosso e Paraná, Estados que lideram a produção brasileira de grãos, Goiás – quarto no ranking nacional, atrás do Rio Grande do Sul – registrou aumento da colheita de soja no ciclo passado. Isso ajudou muito a compensar os prejuízos com a quebra do milho, que em alguns polos goianos chegou a 50%.
Mas para a recuperação ser completa em 2016/17 os agricultores ainda esperam preços melhores. Tanto que o ritmo de comercialização da produção está bem mais lento do que o normal, já que as cotações no mercado local estão em queda desde janeiro, quando a colheita de soja começou a ganhar fôlego.
A Comigo, maior cooperativa agrícola do Centro-Oeste, que atua na região sudoeste de Goiás, que o diga. Até o fim de fevereiro, a Comigo não havia recebido nem 10 milhões de sacas de soja, ao passo que na mesma época do ano passado esse volume já havia ultrapassado 17 milhões. “A soja está cotada a R$ 61, R$ 62 a saca aqui na região, e isso significa dizer que os preços já caíram 30% desde dezembro. E só vendemos 30% [do volume total a ser recebido]. No milho, não tem nada vendido ainda”, informou o presidente da Comigo, Antônio Chavaglia. “Quem não vendeu mais cedo, vai ter liquidez menor daqui para a frente”, disse ele.
Para Abenilton Silva, gerente de negócios da Agro Tec, uma das principais revendas de insumos agropecuários de Rio Verde, o produtor deverá começar a colher a safrinha de milho de fato “pouco vendido”, em função da queda do cereal, que já perdeu R$ 5 por saca na região desde dezembro do ano passado. “Era para estarmos com 30% da safrinha vendida, mas estamos bem abaixo disso”.
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