Um dia após o anúncio da saída do diretor-geral da Klabin, Fábio Schvartsman, para assumir a presidência da mineradora Vale, a percepção é que a sucessão no comando da maior fabricante de papéis para embalagens do país será resolvida internamente. Embora a expectativa, inclusive entre membros da companhia e do conselho de administração, fosse a de que Schvartsman renovaria seu contrato por mais três anos, o próprio executivo já vinha trabalhando na escolha de seu substituto.
Fontes ouvidas pelo Valor disseram que o novo diretor financeiro e de relações com investidores, Eduardo de Toledo, é forte candidato ao posto. O diretor de conversão e comercial de papéis Cristiano Teixeira também é citado como concorrente de peso. Para analistas do Itaú BBA, além de Toledo e de Teixeira, está no páreo Francisco Razzolini, que responde pela diretoria de tecnologia e celulose.
Há cerca de um ano na Klabin, Eduardo de Toledo, de 52 anos, foi oficializado em fevereiro na diretoria financeira e de relações com investidores, em substituição a Antonio Sérgio Alfano, que se aposentou. Com 30 anos de experiência, Toledo esteve por mais de 20 anos no grupo Ultra, de onde também veio Schvartsman.
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Cristiano Teixeira, 43 anos, chegou à Klabin em 2011 e Francisco Razzolini, 54 anos, está na companhia desde 1985 e esteve à frente de grandes investimentos realizados pela empresa, entre os quais a expansão da unidade Monte Alegre (PR) e a construção da nova fábrica de celulose (Projeto Puma).
Segundo os analistas Marcos Assumpção, Daniel Sasson e Carlos Eduardo Schmidt, todos do Itaú BBA, a troca no comando da Klabin não era esperada neste momento e pode levar ao atraso em decisões de investimento em expansão, como por exemplo o aporte em uma nova máquina de cartões, que poderia ser deliberado pelo conselho ainda neste ano.
O sucessor de Schvartsman vai assumir uma empresa cuja rota de crescimento no longo prazo foi pavimentada, a partir do investimento de mais de R$ 8 bilhões na nova fábrica de celulose de Ortigueira (PR), e com um projeto de expansão de curto prazo (em cartões) já engatilhado.
Os desafios da nova liderança, porém, não são poucos. A alavancagem financeira segue em nível elevado e, apesar da contribuição positiva da nova fábrica para a geração de caixa, encerrou o quarto trimestre em 5,2 vezes (dívida líquida/Ebitda). Na indústria e entre as agências de classificação de risco, o índice considerado ideal é igual ou inferior a 2,5 vezes.
Sobre esse tema, o discurso de Schvartsman tem sido tranquilizador. Em encontro com investidores e analistas no fim do ano passado, ressaltou que a companhia simulou modelos com diferentes níveis de câmbio e preço e, em todos os cenários, a desalavancagem seria “contínua sem que se tenha de fazer absolutamente nada”.
Mais à frente, é provável que o novo diretor-geral seja questionado, assim como foram seus antecessores, sobre uma possível unificação das classes de ações da companhia, o que poderia finalmente levá-la ao Novo Mercado, segmento máximo de governança da BM&FBovespa.
Esse é um antigo apontamento de investidores e analistas e foi parcialmente equacionado durante a gestão de Schvartsman, que fez a migração da Klabin do nível 1 para o nível 2 de governança corporativa e garantiu “tag along” de 100% aos acionistas minoritários (direito de receber 100% do valor pago por ações dos controladores em caso de alienação). Coincidentemente, à frente da Vale, Schvartsman, vai conduzir um plano com esse mesmo objetivo: unificação das ações da mineradora em uma única classe e listagem no Novo Mercado.
Em resposta à mudança na direção da papeleira, o Bradesco cortou de compra para neutra a recomendação para Klabin e reduziu de R$ 19 para R$ 16 o preço-alvo por unit. Segundo os analistas Thiago Lofiego e Arthur Suelotto, a revisão da recomendação é “tática”, até que haja mais clareza sobre a estratégia da companhia com a saída do executivo e sobre como evoluirá sua estratégia de expansão. O Bradesco também vê risco de postergação em projetos de crescimento.
O BTG Pactual, por sua vez, ressaltou que iniciativas de redução de custos e expansão trouxeram ganhos tangíveis e são parte do legado da gestão de Schvartsman na companhia. De acordo com os analistas Leonardo Correa e Caio Ribeiro, nos seis anos em que o executivo comandou a empresa o Ebitda recorrente cresceu de 10% a 15% ao ano. “A trajetória de Fábio na Klabin e no grupo Ultra é muito respeitável e acreditamos que essa é uma das mais fortes substituições [no comando da Vale] e reduz preocupações relacionadas a interferências políticas”, escreveram os analistas.
Ontem, as units da Klabin se recuperaram da queda de 3,72% na segunda-feira na bolsa paulista e subiram 4,52% nesta terça-feira, cotadas a R$ 14,34.
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