Leilão de SP é teste para ‘nova’ EcoRodovias

A entrada da EcoRodovias na disputa pelo lote Rodovias Centro-Oeste Paulista é encarada pelo mercado como a prova de fogo da decisão da companhia de retornar às raízes. É a primeira grande investida em um novo ativo desde a entrada, no fim de 2015, do grupo italiano Gavio no bloco de controle da companhia, então controlada somente pela CR Almeida. A chegada do Gavio marcou o ponto de inflexão na estratégia da EcoRodovias, com a retomada do foco no seu principal negócio, as rodovias.


Nos últimos anos, a empresa de concessões de serviços de transportes diversificou o portfólio e apostou em negócios cujos desempenhos ficaram abaixo da expectativa, como porto e logística seca.


O mercado viu com bons olhos a entrada do Gavio no bloco de controle. Desde então a empresa reduziu custos operacionais. Por isso, fazer uma aposta ruim em um leilão como o da rodovia em São Paulo seria um risco muito alto. Não vemos com olhos negativos a entrada da empresa na disputa, diz Bruna Pezzin, analista da XP Investimentos.


Mas essa não é uma posição unânime. Num primeiro momento parte do mercado viu com ceticismo o movimento da EcoRodovias. A documentação da licitação da rodovia paulista foi entregue na manhã do dia 22 e os concorrentes foram conhecidos por volta das 11h30. Além da EcoRodovias, um fundo de investimentos do Pátria apresentou proposta. Tanto no dia 22 como nos dois seguintes a ação da empresa fechou o pregão em queda. Vale ponderar que no dia 21, véspera da apresentação da documentação do leilão, o papel atingiu seu maior valor no ano, cotado a R$ 9,88. No dia 1º, volta do feriado de Carnaval, a ação da EcoRodovias recuperou, chegando a liderar a alta do Ibovespa.


Na avaliação de analistas, a alta se deveu à perspectiva de corte de juros, aberta com a projeção de queda da inflação em 2017 de 4,43% para 4,36% divulgada no mesmo dia pelo Banco Central. Empresas de infraestrutura, como EcoRodovias e CCR, são muito sensíveis a esse tipo de indicador.


A companhia tem um histórico ruim de alocação de capital, a maior parte dos investimentos que fez desde o IPO destruiu valor, diz outro analista que acompanha a empresa, mas prefere não se identificar. Entre esses exemplos, estão o Ecoporto, o terminal de contêineres no porto de Santos, e o braço de logística do grupo, a Elog.


O Ecoporto vem registrando Ebitda negativo. Além da queda de volume do comércio exterior que impactou a movimentação nos terminais de Santos, o Ecoporto, um terminal pequeno, sofre com o processo de consolidação dos armadores e concorrência no cais. No ano passado a EcoRodovias fez uma baixa contábil de R$ 545 milhões no ativo.


Os resultados da Elog, por sua vez, criada para administrar os serviços logísticos do grupo, também pesaram no balanço da EcoRodovias, que vem colocando em prática o plano de venda dos ativos sob o guarda-chuva da Elog. Além disso, em 2015 a gestora BRZ Investimentos exerceu opção de venda das ações que tinha indiretamente na Elog por R$ 214 milhões, atualizado pelo IPCA mais 6% ao ano até a liquidação do negócio. O desempenho da Elog ficou muito abaixo do esperado. E a EcoRodovias ainda teve de pagar prêmio para a BRZ, lembra o analista.


Para Marco Saravalle, analista também da XP Investimentos, a queda das ações da EcoRodovias logo após confirmar a participação no leilão paulista pode ser entendida como uma penalização excessiva do mercado por conta de alguns investimentos no passado. É muito difícil um gestor de portfólio que acerte em 100% dos casos, provavelmente vai ter um ativo ou outro que não vai ter a rentabilidade esperada no início, diz.


Bruna, da XP, aponta dois pontos negativos que, aliados à questão da alocação de capital recente da EcoRodovias, pesaram na avaliação sobre a entrada da companhia no leilão. Só tiveram dois participantes e a CCR [maior grupo brasileiro de concessões de infraestrutura de transportes] se posicionou falando que não entrou porque era um projeto economicamente inviável.


A analista, contudo, pondera que a ação da empresa não caiu muito além do que o Ibovespa e do papel da CCR na ocasião. O mercado todo estava em queda nesses três dias, foi uma queda mais generalizada, embora a da EcoRodovias tenha caído um pouco mais, diz.


Ainda não há data para a abertura das propostas de preço do lote de rodovias de São Paulo. As garantias das duas propostas foram habilitadas pela Artesp, agência reguladora de transportes do Estado, mas tanto o Pátria como a EcoRodovias não abriram mão da opção de entrar com recurso. O prazo vai até quarta-feira, a partir de quando a comissão de licitação vai anunciar as próximas etapas da licitação.


Vencerá quem der o maior ágio sobre o montante de R$ 397 milhões, valor equivalente à metade da outorga, de R$ 794,5 milhões. Se houver diferença menor que 5% entre as propostas, o leilão vai para viva-voz. O lote tem 574 quilômetros e liga as cidades de Florínea, na divisa com o Paraná, e Igarapava, no limite com Minas Gerais.

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