Vale terá um processo de transição marcado pelo diálogo entre o novo presidente, Fábio Schvartsman, e o atual, Murilo Ferreira, que deixa o cargo em 26 de maio. Na quarta-feira, os dois executivos se falaram pela primeira vez. Ferreira disse a pessoas próximas que deseja uma transição “exemplar”. Segundo fontes que acompanham o processo, Schvartsman chega com a prioridade de conduzir o processo de migração da Vale para o Novo Mercado da BM&F Bovespa, o que deve ocorrer até 2020.
O grupo controlador da Vale, formado por Bradesco, os fundos de pensão liderados pela Previ, Mitsui e BNDES, tem interesse de que a transição na empresa seja bem conduzida, segundo apurou o Valor. Segundo fontes ouvidas, deve se estabelecer cronograma de trabalho conduzido conjuntamente por Ferreira e Schvartsman.
Nessa transição, a estrutura organizacional da diretoria-executiva da mineradora pode passar por mudanças para refletir uma melhor governança. A tendência é que a maioria dos diretores-executivos seja mantida, disseram fontes. Houve a percepção inicial, entre essas fontes, que a transição na Vale poderia enfrentar dificuldades. Essa impressão foi motivada pelo fato de Ferreira ter ficado chateado com a sua não recondução, disseram as fontes. A saída foi anunciada oficialmente pelo próprio executivo, em fevereiro.
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Se Ferreira mantivesse um clima de hostilidade, o que não aconteceu, poderia se repetir a transição não amigável que ocorreu quando da saída de Roger Agnelli e da chegada do próprio Ferreira à Vale, em 2011, disseram as fontes. Mas naquele caso os dois executivos tinham uma história pregressa de trabalho na Vale. Ferreira havia sido diretor na gestão de Agnelli. Saiu ainda com Agnelli presidente e voltou para liderar a empresa. O caso agora é diferente. Schvartsman estava na Klabin e não era até então um executivo da mineração.
Um ponto que contou a favor de Schvartsman junto aos controladores da Vale no processo de seleção conduzido pela empresa de recrutamento Spencer Stuart foi a indicação dada pelo executivo de que valorizará os “cabelos brancos”, pessoas com experiência na empresa. É um sinal de que o novo presidente da Vale tem capacidade de delegar funções para se concentrar em questões estratégicas de médio e de longo prazos.
Nesse sentido, a avaliação de fontes próximas da Vale é que a atual diretoria-executiva deve ser mantida, mas pode haver exceções. Os controladores sinalizaram boa-vontade para a permanência dos diretores atuais. O diretor-executivo de ferrosos e estratégia, Peter Poppinga, o diretor-executivo de finanças, Luciano Siani Pires, e a diretora-executiva de metais, Jennifer Maki, devem permanecer nos cargos, informaram fontes ouvidas pelo Valor.
Há dúvidas sobre a permanência do diretor-executivo de recursos humanos e sustentabilidade, Clóvis Torres, tido como próximo de Ferreira. A manutenção de Torres está senda estudada, segundo fontes. Também há dúvidas no mercado sobre a situação de Roger Downey, diretor-executivo de fertilizantes e carvão, depois da venda dos fertilizantes para a Mosaic.
Na estrutura organizacional, é possível que a diretoria-executiva sofra mudanças como uma possível incorporação da logística pelas diferentes áreas de negócios. Hoje a logística ocupa uma diretoria-executiva, a cargo de Humberto Freitas. Uma possível mudança na organização da diretoria começaria a refletir o modelo de governança que vai se perseguir no processo que levará a mineradora a unificar suas classes de ações.
Schvartsman chega nesta fase de transição sem preocupação com o limite de idade. O executivo tem 62 anos e existe um acordo tácito entre os controladores da Vale de que os diretores-executivos devem se aposentar quando completam 66 anos. Significa que, em tese, Schvartsman poderia permanecer dois mandatos (de dois anos cada um) como presidente da mineradora. Mas como essa é uma regra que não está no estatuto da Vale pode haver flexibilidade em relação à sua aplicação. “Tudo vai depender do desempenho dele [Schvartsman]”, disse uma fonte.
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