Divulgada ontem, a estimativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) para a produção de açúcar no Centro-Sul nesta temporada 2017/18 veio abaixo das expectativas da maior parte das consultorias, tradings e até mesmo do governo. Mesmo assim, o que se viu no mercado internacional foi uma intensificação do derretimento das cotações.
A associação, que representa usinas que respondem por cerca de 90% da moagem de cana do Centro-Sul do país, previu que haverá uma redução de 1,2% na produção de açúcar na região neste ciclo, para 35,2 milhões de toneladas. A projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgada na semana passada, apontou 35,5 milhões de toneladas, e as estimativas da maioria das consultorias e tradings sinalizam um volume acima de 36 milhões de toneladas.
Na avaliação da Unica, os investimentos realizados no ano passado para maximizar a produção de açúcar em algumas unidades do Centro-Sul vão apenas evitar uma redução mais drástica na oferta da commodity. E a queda projetada, segundo a entidade, deverá ser puxada pela redução do processamento de matéria-prima. A associação calculou que a moagem de cana recuará 3,6%, para 585 milhões de toneladas – o menor volume desde 2014/15.
Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica, 30% do aumento da capacidade de produção de açúcar observado se deu em unidades que antes produziam apenas etanol, e os demais 70% são referentes à ampliação da capacidade de cristalização e alterações em equipamentos e processos.
Ao mesmo tempo, os canaviais da região ainda se ressentem da falta de investimentos dos últimos anos. Tanto que iniciaram a safra mais velhos do que um ano atrás – a idade média está em 3,72 anos, ante os 3,55 do começou do ciclo passado.
Apesar da estimativa da Unica, os contratos mais negociados do açúcar demerara na bolsa de Nova York – atualmente aqueles com vencimento em julho -, desabaram na sessão de ontem. Por conta de uma liquidação de posições, fecharam a 15,57 centavos de dólar a libra-peso, queda de 4,36% em relação à véspera e menor valor em um ano. Mesmo os papéis para outubro, que têm sido mais demandados agora para a fixação das exportações, fecharam abaixo de 16 centavos pela primeira vez.
“Foi um movimento mais técnico dos fundos do que reflexo de um fundamento. O dado da Unica tem um viés altista e não teria motivo para uma queda tão significativa”, ponderou Gabriel Elias, trader da Olam International. De qualquer forma, o fato de a projeção da Unica não ter sido suficiente para pelo menos adiar o movimento dos fundos é sintomático.
Analistas consideram que a queda dos preços chegou a tal ponto que, se continuar, o açúcar perderá atratividade no mix de produção das usinas. “Dada a queda de preço do açúcar hoje [ontem], o etanol já é mais competitivo. Pode ser que muitas empresas desistam da produção de açúcar e se voltem para o etanol hidratado. É um cenário altamente provável”, disse Padua.
Para Fernando Vieira, diretor de açúcar da trading Engelhart Commodities Trading Partners (ECTP), o preço médio do hidratado nesta safra deverá ser equivalente a 14,50 centavos de dólar a libra-peso, uma diferença de menos de 100 pontos sobre os papéis mais negociados do açúcar. “Ninguém força muito a produção de açúcar com essa diferença”. Para Vieira, o desestímulo pode ser maior em Goiás e Mato Grosso do Sul, mais distantes dos portos.
Henrique Akamine, gerente de análise de mercado da Czarnikow, considera que uma diferença de cerca de 150 pontos já tornaria o açúcar menos interessante para algumas usinas, especialmente para as que precisam de mais liquidez. “Para a usina receber pelo etanol hidratado, é só carregar o caminhão. Para receber pelo açúcar, a usina só recebe quando embarca”.
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