Siderúrgicas defendem conteúdo local

A indústria siderúrgica brasileira se posicionou de forma mais firme na discussão sobre conteúdo local. O Instituto Aço Brasil propõe que o governo assuma uma postura de defesa da indústria nacional, diante da necessidade de geração de empregos – uma das bandeiras do governo Michel Temer – e devido às atitudes nacionalistas de outros países, como a política do “buy american” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, além da intenção do mandatário americano de restringir a importação de aço, por questão de segurança nacional.


“O governo tem de uma maneira reincidente procurado vender uma imagem de que nós temos já em andamento uma retomada da economia […] e na nossa visão isto não ocorreu, não está ocorrendo e não ocorrerá ainda no ano de 2017. […] O discurso de liberação da defesa comercial vai na contramão de tudo o que a gente viu anteriormente em relação ao mundo”, disse o presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, em entrevista coletiva, na qual foram apresentados números do mercado siderúrgico no primeiro trimestre de 2017 e as previsões para este ano. “Não podemos nos permitir a ter ingenuidade no meio dessa baita guerra de mercado que está existindo no mundo”.


O presidente do conselho diretor do Aço Brasil, Alexandre de Campos Lyra, também demonstrou preocupação com a declaração dada pela presidente do BNDES, Maria Silvia de Bastos Marques, de que o banco pretende rever a política de conteúdo local para os financiamentos. Segundo ele, o banco deveria considerar uma política “buy brazilian”.


“Vamos pedir uma agenda com a presidente do BNDES para colocar a nossa posição da indústria”, afirmou Lyra.


Segundo a entidade, no primeiro trimestre, o consumo aparente de produtos siderúrgicos no Brasil cresceu 5% ante igual período de 2016, para 4,6 milhões de toneladas. Esse crescimento, porém, foi suprido pelo aumento de 73,1% das importações, na mesma comparação, para 637 mil toneladas. As vendas internas recuaram 0,5%, para 3,9 milhões de toneladas.


A projeção de vendas internas para 2017 foi revisada de um crescimento de 3,6% para uma alta de apenas 1,3%, ante 2016, totalizando 16,7 milhões de toneladas. Com relação à produção, no primeiro trimestre, a produção de aço bruto no país cresceu 10,9%, ante igual período de 2016, para 8,2 milhões de toneladas. A expectativa do Aço Brasil para 2017 é uma produção de 32,5 milhões de toneladas, 3,8% superior em relação a 2016.


“Isso [32,5 milhões de toneladas] é 60% de ocupação [da indústria siderúrgica do país]. Isso não é sustentável para uma indústria como siderurgia, que é integrada. O ideal é trabalhar no mínimo com 80% de ocupação”, disse Lyra.


Ainda com relação à força-tarefa em prol do conteúdo local, representantes do Aço Brasil participaram na última semana de reuniões com o ministro-chefe da secretaria-geral da presidência, Moreira Franco, e com o presidente da Petrobras, Pedro Parente.


Com Moreira Franco, o objetivo foi demonstrar preocupação com contratações de fornecedores em concessões licitadas no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Segundo Lyra, o PPI gera risco de desindustrialização, caso os investimentos sejam feitos com capital externo e com importação de bens de capital, principalmente da China.


Com Parente, Lopes disse ter apresentado o pleito do instituto da necessidade de haver índices de conteúdo local separados para bens e serviços, e acrescentou ter sentido uma “boa vontade” por parte do executivo da petroleira de caminhar nessa direção.


O presidente executivo do Aço Brasil disse ser favorável à revisão da política de conteúdo local para a indústria de óleo e gás, mas critica a definição de um percentual único para bens e serviços. Dessa forma, explicou, as empresas podem preencher o índice de conteúdo local com a contratação de serviços e importar os equipamentos.


O instituto também quer que as condições do Repetro, regime aduaneiro especial do setor de óleo e gás, sejam estendidas para toda a cadeia de fornecedores do segmento no país.


De acordo com Lopes, o consumo aparente de produtos siderúrgicos do país no ano passado, de 18,2 milhões de toneladas, voltou ao patamar de 2006. As vendas internas no ano passado, de 16,5 milhões de toneladas, voltaram ao patamar de 2005. E o volume de exportações em 2016, de 13 milhões de toneladas, também ficaram no mesmo nível de 2005. Segundo Lyra, a retomada do crescimento do setor no país será lenta. Nos últimos três anos, houve 46,8 mil demissões na siderurgia.

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