Arauco, do Chile, sai na frente na disputa pela Eldorado

Apesar do feriado de Corpus Christi, as negociações de venda
do controle da Eldorado Brasil Celulose, empresa da holding J&F
Investimentos e de dois fundos de pensão, mantiveram-se em ritmo acelerado.
Segundo informou ontem uma fonte ao Valor, um desfecho da operação bilionária
pode ser anunciado entre hoje e o fim de semana.

A informação é que o grupo chileno Arauco, que conta com
assessoria financeira do banco Santander, está na dianteira do processo, com
uma oferta considerada bastante atrativa – acima de R$ 11 bilhões de valor
total do ativo (incluindo a dívida de R$ 8 bilhões da fabricante de celulose).

A companhia chilena, informou outra fonte, apresentou na
quarta-feira aos Batista, donos da J&F, uma proposta indicativa – ainda não
vinculante. Conta ainda no processo com a assessoria de dois escritórios de
advocacia: o americano Simpson Thatcher & Bartlett, de Nova York, e o
brasileiro Mattos Filho.

Segundo essa mesma fonte, que acompanha de perto as
negociações e que pediu para não ser identificada, o que está pesando muito no
negócio para as brasileiras – Suzano Celulose e Papel e Fibria – são os riscos
do acordo de leniência firmado entre J&F e o Ministério Público Federal
(MPF).

Esse acordo ainda precisa de aval da 5ª turma do Superior
Tribunal Federal (STF) e depois do Tribunal de Contas da União (TCU). Ou seja,
da benção de muita autoridade para tornar-se efetivo. Além disso, a holding
teria de negociar com o Departamento de Justiça (DoJ) americano, o qual também
poderia aplicar uma multa pesada aos Batista.

Para a Arauco, que ainda não faz celulose no Brasil, todavia
o quesito do acordo não tivesse tanto peso. Mas tanto o Simpson quanto Mattos
Filho teriam a incumbência de fazer uma análise detalhada dos potenciais riscos
futuros.

O acordo de leniência, resultante da delação de Joesley e
seu irmão Wesley ao MPF apontando práticas de corrupção e pagamento de
propinas, observou a fonte, deixa as empresas da J&F co-responsáveis pela
multa de R$ 10,3 bilhões. No caso de a holding não honrar, as suas controladas
teriam de arcar.

A questão preço também pesa, pois Suzano e Fibria buscam
valor considerado o mais adequado para não afetar seus balanços e o retorno aos
seus acionistas. Para analistas do Itaú BBA, o equity na venda da Eldorado
(valor que os acionistas receberiam de fato) valeria de R$ 1,8 bilhão a R$ 2,5
bilhões, sem incluir sinergias. Os Batista almejam além de R$ 3 bilhões.

Segundo apurou o Valor, o grupo Suzano, que contratou
Bradesco e o Itaú para ajudá-lo no caso, já teria recuado de fazer oferta pela
fabricante de celulose da J&F.

Permanece ativa no jogo a Fibria, controlada por Votorantim
e BNDES, por razões óbvias. É a única que tem muitas sinergias se levar a
Eldorado, pois tem uma fábrica também em Três Lagoas (MS), próxima da
concorrente.

A Fibria poderia usufruir de alguns bilhões em ganhos com
sinergias logísticas e florestais se ficar com a Eldorado, estimam fontes do
setor. Quando VCP e Aracruz se uniram, em 2009, dando origem à Fibria, foram
geradas sinergias de R$ 4,5 bilhões em valor presente líquido, segundo o Itaú
BBA.

Munida dessa vantagem, espera-se que a Fibria apresente uma
proposta ainda hoje ou no fim de semana aos Batista para se contrapor à Arauco.
A empresa tem a assessoria do Morgan Stanley.

Procurada, a J&F informou, por meio de sua assessoria,
que não comenta processo de venda de seus ativos. A Fibria e a Suzano também
não se manifestaram.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*



0