Eldorado colocou suas florestas à venda para levantar capital

Pouco antes do início de negociações que podem resultar em
sua venda, a Eldorado Brasil, produtora de celulose de eucalipto da J&F
Investimentos, saiu em busca de compradores para suas florestas, apurou o
Valor. Com endividamento elevado, a companhia não tem fôlego para tocar a
operação e honrar dívidas somente com a geração de caixa, mas poderia receber
centenas de milhões de reais pelo ativo florestal.

A transação pretendida esbarrou no acordo de exclusividade e
confidencialidade firmado entre a J&F e a Arauco há dez dias. O Valor
apurou que os chilenos chegaram na quarta-feira à fábrica de Três Lagoas (MS),
para início das diligências, e a recepção dos potenciais investidores incluiu o
hasteamento de uma bandeira do Chile na sede da unidade. Para garantir o
direito exclusivo na negociação, a Arauco teria apresentado uma primeira oferta
que se aproxima de R$ 14 bilhões, bem acima dos R$ 11 bilhões calculados como
valor da empresa (que inclui R$ 8 bilhões em dívidas).

A monetização dos ativos florestais seria uma alternativa à
venda da companhia, que já tinha sido aventada pela J&F, e é perseguida
diretamente pelo presidente José Carlos Grubisich, segundo fontes de mercado. O
executivo é também acionista, com participação de 1,96% via FIP Olímpia, e
defende que melhores condições de preço na venda da empresa seriam alcançadas
com o avanço no projeto de expansão. O plano seria investir R$ 10 bilhões na
segunda linha produtiva em Três Lagoas e trazer um novo sócio – um fundo chinês
segundo fontes – como parte do financiamento.

Há duas semanas, a direção da Eldorado teria levado
representantes da gestora canadense Brookfield para avaliar suas florestas na
região de Três Lagoas e também as ofereceu para outros fundos florestais
(Timos, na sigla em inglês). A Brookfield, acionista da Parkia, teria interesse
nesses ativos, disseram fontes.

Em novembro de 2013, a Parkia fechou com a Fibria uma
operação que se aproxima da pretendida pela Eldorado. No caso da Fibria, o
acordo de R$ 1,65 bilhão envolveu 210 mil hectares de terras e a parcela de 40%
da madeira em pé produzida na área que passou às mãos do fundo é vendida para a
própria companhia.

No caso da Eldorado, a ideia é firmar um contrato de
leasing, que não envolve terras, com garantia de venda da madeira à fabricante
de celulose.

Para se ter uma ideia de valores, no fim do ano passado, a
Eldorado firmou um contrato de compra de 4 milhões de metros cúbicos de
madeira, entre 2018 e 2021, com a Eucalipto Brasil, empresa de Mário Celso
Lopes, ex-sócio da companhia. O contrato de R$ 190 milhões abrange
aproximadamente 15 mil hectares plantados. Ao fim do primeiro trimestre, a
Eldorado tinha 240 mil hectares de florestas próprias, conforme seu balanço.
Segundo fontes da indústria, apenas 20 mil hectares correspondem a terras
pertencentes à companhia – todo o restante é arrendado.

Ao fim do primeiro trimestre, segundo números não auditados,
a dívida líquida estava em R$ 7,72 bilhões, equivalente a 5,1 vezes o resultado
antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) anualizado. A
companhia tinha R$ 1,46 bilhão em linhas de crédito à exportação com vencimento
no curto prazo, que habitualmente são roladas, e uma amortização de R$ 777
milhões, em setembro, ainda referente ao investimento na primeira linha de sua
fábrica. No mesmo momento, o caixa disponível era de R$ 926 milhões.

Em entrevista ao Valor no fim de maio, Grubisich disse que a
confissão de culpa e o acordo de leniência da controladora J&F e dos irmãos
Joesley e Wesley Batista não havia afetado o relacionamento com bancos. O
executivo ressaltou ainda que uma operação de venda não estava na pauta da
companhia.

Na mesma época, a agência de rating Fitch já tinha alertado
que, como as dívidas de curto prazo da Eldorado superam as disponibilidades de
caixa, a Eldorado precisaria refinanciar obrigações e vender ativos. Há poucos
dias, a S&P Global também rebaixou a nota de crédito da companhia,
refletindo a evidência de padrões fracos de governança e os riscos de
refinanciamento resultantes do escândalo de corrupção que prejudicou sua
reputação.

Procurada, a Eldorado informou que não há nenhuma
discussão em andamento para venda das florestas. A Brookfield, por sua
vez, declarou que não se manifestaria sobre o assunto.

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