BNDES quer sobreviver longe do governo

Enquanto tenta resistir às investidas do governo para que
reduza seu tamanho, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) busca traçar desde já ampla estratégia que garanta sua sobrevivência no
futuro.

A instituição de fomento tenta ganhar tempo para se reciclar
e conseguir permanecer relevante no plano nacional diante de medidas que devem
atingir em cheio seu poder de fogo, como a pressão do Tesouro para obter mais
dinheiro antecipado do banco e a iminente mudança nos juros de seus financiamentos
para uma taxa mais alinhada à de mercado, a Taxa de Longo Prazo (TLP).

Sem abandonar o papel de provedor de crédito em grandes
projetos de infraestrutura, a intenção é colocar recursos em projetos que
possam alavancar o desenvolvimento do País por meio de outros canais, como
tecnologia e formação de pessoas. O banco contratou a consultoria alemã Roland
Berger para trabalhar no plano estratégico 2022-2030. Duas palavras devem virar
norte de atuação: inovação e interiorização.

O banco também está de olho no mercado internacional para
renovar sua fonte de recursos. O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro,
esteve em Londres para acertar detalhes da reabertura do escritório da
instituição e estuda abrir outros postos no exterior.

A ideia é que a presença internacional abra caminho para as
futuras captações de recursos que darão vazão aos novos créditos.

Segundo Rabello, até o fim da transição, o BNDES já terá
reformulado completamente suas principais fontes de financiamento. “Além disso,
o governo nos solicitou uma colaboração financeira abrupta e, por outro lado,
vem uma mensagem presidencial muito clara, do meu chefe, que está obcecado com
a ideia de mais emprego e investimento em 2018”, acrescenta.

A TLP vai substituir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP)
nos financiamentos do BNDES a partir de 2018. Com a nova taxa, o subsídio dos
juros vai cair, ou seja, o crédito para as empresas com recursos do BNDES vai
ficar mais caro. Hoje, a TJLP está em 7%, abaixo dos 8,25% da Selic. O subsídio
menor contribui para o equilíbrio fiscal, mas Rabello era contra a mudança no
momento em que a economia inicia uma retomada porque o crédito mais caro pode
inibir os investimentos.

Mesmo com a tentativa do BNDES de se reinventar, o
pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) José Roberto Afonso avalia que o
banco terá menos recursos para emprestar e a um custo mais caro, uma vez que a
TLP aprovada valerá para todos os empréstimos, não só os feitos com recursos do
Tesouro. “Inevitavelmente será um banco para poucos. Vão crescer as operações
diretas, às quais só grandes e melhores empresas têm acesso.”

Novo foco. Forçado a se reinventar, a ideia do novo BNDES é
investir em projetos tecnológicos, até mesmo em mercados que ainda não existem
no Brasil. “Não temos cientistas mandando foguete para a Lua, mas estamos muito
interessados em saber se por acaso tem alguém fazendo um pequeno foguete. Isso
pode ser uma ruptura futura”, diz o presidente do banco. Na interiorização, a
prioridade será intensificar a oferta de crédito a pequenos empresários que
hoje não têm acesso.

O novo plano estratégico do banco deve ser concluído no
início de 2018, mas há áreas que desde já estão no radar como potenciais novas
frentes de atuação, diz o diretor de Crédito, Planejamento e Pesquisa do BNDES,
Carlos Da Costa. Entre esses focos estão o investimento em tecnologia;
especialização do capital humano das empresas; modernização da gestão e da
governança de empresas, cidades e governos; e adensamento de cadeias
produtivas, com investimentos para integrar empresas que participam de um mesmo
processo de produção.

Principal beneficiário da política de crédito subsidiado no
BNDES nos últimos anos, o setor produtivo vê esse “novo banco” com ceticismo.
Para o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho, a redução de sua capacidade será fatal para
o banco.

 

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