Pesquisa inédita realizada pela Ipsos Public Affairs revela
que a percepção do brasileiro sobre infraestrutura é bastante descolada da
realidade. Ao serem questionados sobre “o que significa investimento em
infraestrutura” de forma aberta, sem que alternativas de respostas fossem
dadas, 24% dos entrevistados disseram não saber. O restante apontou 11
significados: geração de empregos, qualidade de vida para população, construção
de escolas, tudo que envolve o desenvolvimento de uma cidade, entre outros. Os
resultados excedem 100% porque uma mesma pessoa pode ter apontado mais de um
item.
As respostas foram então agrupadas em 12 grandes temas.
Lidera a lista saúde, com 37%, seguido por mobilidade urbana (36%), educação
(28%), direitos da população e qualidade de vida (26%), saneamento e
abastecimento de água (19%), entre outros. Rodovias ficou com 5% e o grupo
“ferrovias, portos e aeroportos”, com 2% – o último da lista.
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“Faz sentido que as pessoas pensem assim, o debate
sobre infraestrutura ficou longe da população. As pessoas tendem a enxergar o
problema que é mais próximo delas”, diz Danilo Cersosimo, diretor da
Ipsos. Segundo ele, isso mostra como o tema precisa ser melhor debatido, visto
que a saída da crise brasileira passa pelo investimento em infraestrutura e há
um gargalo imenso no Brasil nessa área.
Foram entrevistadas 1.200 pessoas em 72 municípios entre os
dias 1º e 14 de agosto. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou
para menos. Essa é a primeira vez que a Ipsos realiza uma pesquisa sobre a
percepção do brasileiro acerca da infraestrutura. A ideia é fazer a segunda
daqui a um ano, já que o tema deve ganhar cada vez mais força na agenda do
país.
O levantamento mostra que 48% das pessoas são parcial ou
totalmente contra o aumento das despesas para incentivar o crescimento a longo
prazo; 40% são parcial ou totalmente favoráveis e 12% não sabem ou não
responderam. “Isso vem da dificuldade histórica do brasileiro de pensar no
longo prazo”, diz Cersosimo. Somam-se a isso a falta de uma cultura de
discutir política pública e de haver dúvidas sobre a transparência em relação
ao aumento de despesas governamentais. Ainda assim, ele avalia que o percentual
favorável ao aumento das despesas é alto e surpreendeu.
Quando a pesquisa listou quatro grandes áreas que necessitam
de investimentos – saúde, geração de empregos, educação e infraestrutura – e as
confrontou entre si, o que se viu foi uma ordem prioritária para saúde (com
média de 65%), seguida por geração de empregos, com 59%, educação, com 52%, e
infraestrutura, com 20%. “O que se depreende é que infraestrutura está
distante”, diz.
Também foi medida a correlação entre corrupção e
infraestrutura. Para 58% dos entrevistados, todas as empresas do setor estão
envolvidas em práticas de corrupção – apesar de não haver histórico de
comparação, a Ipsos considera o percentual alto e reflexo da Lava-Jato, entre
outros casos de corrupção. Também 58% concordam parcial ou totalmente com a
afirmativa de que todas as empresas no Brasil – independentemente do setor –
estão envolvidas com corrupção. “A crise de confiança institucional
brasileira atingiu todo o setor privado. Há um grande desafio tanto no governo
como no setor privado de tentar trazer a agenda da transparência e da
governança, da condução ética dos recursos. No Brasil não se presta contas como
deveria. O desafio nesse cenário de crise de confiança e de necessidade de
investimento é quebrar esse traço. Se você entende o que precisa ser feito, se
você se sente próximo ao debate, você tende a ter menos desconfiança”.
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