AL ganha relevância para as exportações chinesas

Em 2017, pela terceira vez consecutiva, a China se encontra
estacionada em 28º lugar no ranking de competitividade do Fórum Econômico
Mundial. Não são de hoje as preocupações de Pequim com a perda de
competitividade de sua economia. Ainda não é momento para alarde, mas já há
sinais de estagnação no avanço dos produtos chineses no mundo.

Isso pode ser visto através da participação de mercado da
China nas exportações mundiais que, pela primeira vez em quatro anos,
apresentou leve queda de 13,7% em 2015, para 13,2% em 2016. Neste período, a
China perdeu participação de mercado em 50 países. Este grupo conta com os
Estados Unidos, onde a China perdeu 0,4 ponto percentual de mercado, ASEAN
(1,61 pontos percentuais) e alguns países europeus, como França e Itália (0,2
ponto percentual).

Na contramão desta tendência encontra-se a América Latina,
onde a participação de mercado da China nas importações subiu de 18,2% para
18,5%. Puxados pelos países da Aliança do Pacífico, onde o crescimento foi de
0,3 ponto percentual, a China ganhou participação de mercado em praticamente
todos os países da região. As exceções foram o Brasil e a Argentina, onde houve
queda de um ponto percentual.

Esta queda é explicada por um conjunto de fatores, que vão
desde a crise, câmbio e imposição de medidas protecionistas. Estas últimas, por
sinal, não serão suficientes para conter os chineses de ingressar nos mercados
brasileiro e argentino através dos outros parceiros do Mercosul, onde houve
pujante crescimento chinês na participação de mercado. A China ganhou 3,6
pontos percentuais de mercado no Paraguai somente em um ano. Um exemplo
interessante foi a ida da JAC Motors para o Paraguai. Apesar de inicialmente
possuir planos de se instalar no Brasil, a fabricante chinesa acabou mudando de
endereço dada as medidas de conteúdo local impostas pelo governo anterior.

A demanda latino-americana é favorável para a China até
mesmo em áreas onde as fragilidades do complexo exportador chinês já são
visíveis faz tempo. Quando se observa os dados por diferentes setores, no
período de 2012 a 2016 a China já foi deslocada de setores intensivos em mão de
obra, com importantes perdas de mercado no mundo em calçados (-9%), couros e
peles (-6%) e têxteis (-3%). Estas áreas de produção acabaram por ser
destinadas para os países do Sudeste Asiático. Entretanto, na América Latina, a
China, continuou ganhando mercado nesses setores, como por exemplo, têxteis
(2%), ou perdeu menos que a média global, como calçados (-2%).

Até mesmo em setores de maior conteúdo tecnológico, como
máquinas e equipamentos elétricos e eletrônicos, e transporte, a China já vem
apresentando estagnação no mercado mundial, enquanto continua crescendo em
participação de mercado na América Latina. Assim como em setores onde a China
apresentou crescimento no mercado mundial, entre 2012 e 2016, como químicos
orgânicos e inorgânicos, plástico e madeira, observa-se ganho de mercado ainda
mais acelerado na América Latina. Por exemplo, no caso de químicos, a China
ganhou neste período um ponto percentual de mercado no mundo e três pontos
percentuais na América Latina.

Ciente da perenidade de suas atuais vantagens comparativas,
Pequim vem buscando lançar uma série de políticas que visam elevar os níveis de
competitividade de suas empresas locais. A principal delas é a Made in China
2025. Lançada em 2013, esta política tem como principal objetivo inserir a
indústria chinesa no que se chama de quarta revolução industrial. Neste
momento, a China elencou dez setores como prioridades para o seu
desenvolvimento industrial. Muitos destes ainda se encontram na fronteira
tecnológica, como novas formas de tecnologia da comunicação e informação;
robotização da produção; e veículos com novas fontes de energia e sem direção
manual.

Este processo de atualização de sua indústria local não
ocorre da noite para o dia. E é justo neste momento de transição que a América
Latina ganha relativa importância para os produtos do atual complexo industrial
chinês. Esta dinâmica, onde a China ganha mercado mais rapidamente na América
Latina que em outros países e quando perde mercado, perde mais lentamente na
América Latina que no resto do mundo, atribui ao mercado latino americano maior
estabilidade nas trocas comerciais com a China.

Isso é positivo sobre o ponto de vista da China, dado que
até o momento a região tem sido vista pelo mercado chinês principalmente pelo
seu viés exportador de commodities. Por exemplo, mais de 80% das exportações da
América Latina para a China se concentram em quatro setores: soja, minério de
ferro, minério de cobre e petróleo bruto.

Neste momento, ficam então dúvidas sobre como os países da
região diminuiriam seu grau de dependência da manufatura chinesa. Os dados
mostram que seguir por um caminho de protecionismo comercial não é suficiente
para espantar os concorrentes chineses. Por outro lado, a total abertura
comercial faz com que os chineses avancem no mercado de forma mais rapidamente.
Em outras palavras, fechar o mercado não é suficiente e demora mais para eles
saírem, e abrir o mercado faz com que eles ganhem espaço mais rapidamente.

Por fim, valeria a pena a América Latina seguir o exemplo
chinês e pensar de forma mais profunda em como seria possível transformar a sua
manufatura local ao ponto de fazer parte da nova onda comercial que se
originará a partir da quarta revolução industrial. Até lá, uma coisa é certa,
os chineses continuarão por aqui.

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