Dos milhares
de moradores que receberam uma “ducha de água fria” com a notícia da
paralisação das obras na Linha-6 Laranja, na Vila Brasilândia, na zona norte,
está a funcionária pública Ana Gori, 50, que via na chegada do metrô a
oportunidade de ganhar em qualidade de vida e economia de tempo.
“Se o metrô
fosse concluído no prazo inicial, me ajudaria muito porque faria interligação e
eu levaria no máximo meia hora para chegar ao trabalho, não precisaria acordar
tão cedo. A gente viu um sonho morrer por conta do descaso do governo”,
ressalta, com pessimismo, a moradora.
A mesma
frustração afeta o pedagogo Rodrigo Lins, 37 anos, que trabalha no bairro da
Liberdade, na região central. Ele gasta diariamente, entre ida e volta, mais de
quatro horas. Isso se não estiver no período de chuvas, quando a previsão
aumenta para até seis. Com a obra pronta, o trajeto estimado seria de 23
minutos, diz.
Depois de
décadas aguardando por uma linha de metrô, em 2015 a população da Freguesia do
Ó e Brasilândia finalmente recebeu a confirmação de que chegariam suas
respectivas estações, um projeto que beneficiará mais de 400 mil pessoas da
região.
Após muita
especulação, a obra foi iniciada em abril do mesmo ano, e o que parecia um
sonho distante começou a se realizar: desapropriações, limpeza do terreno e a
inclusão de tapumes ao redor para resguardar o espaço em que centenas de
trabalhadores ali ficariam até a conclusão do serviço.
No entanto,
nem ao menos havia começado a obra que estava orçada em 9,69 bilhões de reais,
a tal “ducha de água fria” caiu sobre a população. A tão esperada obra da Linha
6-Laranja, que ligaria Vila Brasilândia até a estação São Joaquim da Linha
1-Azul (centro), foi paralisada por falta de repasse do governo federal.
A
construção, que deveria ser entregue em 2020, ficará pronta um ano mais tarde,
em 2021, segundo afirmou o governo estadual à época da paralisação.
Portas
fechadas
Ainda mais
complicada é a situação de quem teve que sair às pressas do local em que nasceu
e se criou para ter que procurar outra residência próxima dali, na mesma Vila
Brasilândia.
Este é o
caso da professora de educação infantil Evelyn dos Santos Domingues, 34 anos,
ex-moradora do local em que estará situada futuramente a estação de Vila
Brasilândia.
“Tive de
sair de onde morava em minha casa própria. Não foi um dos melhores períodos,
até mesmo porque tivemos que resolver tudo em cima da hora. Nos deram apenas um
mês de prazo”, ressalta a professora.
Os problemas
não parariam por aí: Evelyn hoje tem que pagar aluguel, pois o valor da
rescisão pago pela casa em que morava com sua família não era o bastante para
adquirir outra.
“Como muitos
outros não tivemos escolha: ou sai, ou sai. O valor pago foi dividido por
quatro herdeiros, o que não alcança o valor da casa que um dia tivemos. Procuro
não lembrar muito”, explica a moradora, emocionada.
Ainda
segundo Evelyn, muitos moradores desapropriados conseguiram comprar outra casa
com valor inferior, mas outros estão pagando aluguel por conta da obra, agora
parada há mais de um ano.
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