Funcionários
da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos confirmaram ao Diário do
Transporte denúncias recebidas pela redação que uma série de descarrilamentos
que ocorreram no ano passado teve como causa a falta de manutenção adequada dos
trilhos.
A empresa
nega e diz que as linhas são seguras, com a atuação de 2 mil funcionários da
área de manutenção, dos quais 800 atuando nas instalações fixas, como as vias.
Ainda de
acordo com as denúncias, que foram posteriormente checadas pela reportagem junto
a funcionários em campo, os problemas de manutenção foram agravados depois de
agosto de 2017, quando terminou o contrato com a empresa Ferreira Guedes,
responsável pela manutenção das vias da linha 7 – Rubi (Luz – Francisco Morato
– Jundiaí) e 10 Turquesa (Brás – Santo André – Rio Grande da Serra).
A CPTM
confirmou à reportagem o fim do contrato e diz que está em andamento um
processo de licitação para a contratação de outra empresa para os serviços de
manutenção. A operadora estatal, no entanto, não informou quando será concluído
este processo de licitação.
A reportagem
pesquisou, com ajuda de fontes, e encontrou um edital de manutenção das vias
com entrega de proposta prevista para o para o dia 09 de março.
As propostas
deveriam ter sido entregues em janeiro, depois fevereiro e a nova previsão é
março. Houve mais de uma centena de questionamentos de empresas possivelmente
interessadas na concorrência.
A empresa de
trens do Governo do Estado de São Paulo, no entanto, garante que a equipe atual
própria é suficiente para garantir as vias em condições adequadas.
Questionamentos-licitação-CPTM
“O quadro
próprio da manutenção auxilia constantemente nos serviços das terceirizadas e
atua na transição de contratos entre uma empresa e outra, como o que está
ocorrendo no momento nas Linhas 7-Rubi e 10-Turquesa. O contrato de manutenção
dessas linhas foi encerrado em 31 de agosto do ano passado e a contratação de
nova empresa está em processo de licitação.
Assim, a manutenção está sendo realizada pela equipe própria, sem
qualquer prejuízo aos serviços de conservação das vias.”
Com a
condição de anonimato, temendo represálias, um funcionário que atua na linha 10
Turquesa discorda.
“Mas é claro
que onde tinha 80 funcionários e agora tem só uns 15 ou 20 vai comprometer a
manutenção e a segurança. A verdade é que somos heróis aqui. Nos desdobramos” –
disse o funcionário.
De acordo
com a denúncia recebida pelo Diário do Transporte, as linhas 7 e 10, antes do
fim do contrato tinham juntas 300 funcionários na manutenção, agora, são em
torno de 30.
“Desde então
[fim do contrato] as manutenções dos mais de 100 km de vias (linha 7 + linha
10) estão sendo executados por 15 funcionários da CPTM na linha 10 (base em São
Caetano) e 15 funcionários da CPTM na Linha 7 (bases em Francisco Morato e
Lapa). Não são 90 funcionários conforme falou o presidente da CPTM.”
“A empresa
contratada trabalhava na linha 7 com 180 homens e na linha 10 com 120 homens,
trabalhando dia e noite e nos finais de semana.” – continuou.
A denúncia
recebida pela reportagem e confirmada por funcionários da CPTM revela que casos
de descarrilamentos de trens ocorreram por causa da falta de manutenção das
vias, como ao final do contrato, em 17 de outubro do ano passado, quando uma
composição de carga descarrilou entre as estações Baltazar Fidélis e Francisco
Morato, da linha 7-Rubi (Luz-Jundiaí), interrompendo a circulação na CPTM.
“A causa do
acidente foi bitola em decorrência de falta de manutenção. Não foi vagão com
excesso de peso conforme falou o presidente da CPTM. Bitola é a distância entre
os trilhos. A distância correta é 1,60 m. Como neste local a bitola estava
maior, as locomotivas descarrilaram.” – diz o denunciante que ao entrar em
contato com o Diário do Transporte pediu para não ser identificado.
Em nota, a
CPTM negou que a causa tenha sido a situação dos trilhos.
“Quanto ao
descarrilamento de trens de carga na Linha 7, ocorrido em 17 de agosto, não
procede a afirmação de que foi por falta de manutenção. Como informado, o
contrato com terceiros teve vigência até o dia 31 de agosto e a partir daí a
equipe própria assumiu os serviços naquela linha.”
A denúncia
cita datas anteriores ao fim do contrato e outras linhas em casos de
descarrilamento que teriam sido causados por problemas de manutenção das vias.
“A primeira
foi em 23/02/2017, quando um trem descarrilou na linha 12-Safira (Brás-Calmon
Viana), na zona leste da cidade. O acidente aconteceu de madrugada e atingiu a
rede de energia, interrompendo a circulação de trens. Em 13/03/2017, um trem de
carga, que compartilha as linhas da CPTM, descarrilou na Estação Itapevi da
linha 8-Diamante (Itapevi-Júlio Prestes). Em 12/07/2017, outro descarrilamento
afetou o funcionamento da linha 8, entre as estações Engenheiro Cardoso e
Itapevi. No dia 27/09/2017, foi a vez da linha 11-Coral (Luz-Estudantes) ser
afetada por um acidente deste tipo. O acidente aconteceu na área de manobras da
Estação da Luz.”
A reportagem
enviou à CPTM a íntegra da denúncia, inclusive exatamente este texto acima, mas
a empresa não comentou estes casos.
Na linha 10,
segundo a denúncia, só são feitos apenas remendos emergenciais nos trilhos.
“Aqui na
linha 10 tem um problema constante de quebra de trilhos devido os mesmos serem
velhos. Quase todos os dias ocorrem falhas por trilhos partidos. Tem dias que
quebram até 3 trilhos. Quem atendia estas falhas era a empresa contratada. Os
funcionários da CPTM não estão dando conta de executar estas falhas
(substituição do trilho velho) e acabam deixando os trilhos com emendas de
emergência para que no futuro sejam substituídos. Somente executam rondas para
detectar problemas e relacioná-los para quando a empresa terceirizada entrar os
serviços serem executados. Eles não estão executando nenhum tipo de serviço
para manter as vias. Atendem somente emergências que são muitas. Isso é
verdadeiramente brincar com a vida de milhões de pessoas que utilizam a CPTM.
Este é somente um dos graves problemas que estão ocorrendo após a saída da
empresa contratada.”
Além de
faltarem trabalhadores, a denúncia diz que não há máquinas suficientes para a
manutenção porque os equipamentos pertenciam à empresa que deixou de prestar
serviços.
“Todas as
máquinas usadas na manutenção pertencem a empresa contratada. Exemplos:
máquinas de grande porte como socadora, alinhadora e niveladora de via,
reguladora de lastro, caminhão de linha, pá carregadeira, retroescavadeira,
rolocompactador, trator de esteiras, etc. E máquinas de pequeno porte como tiferonadeiras,
furadeiras de dormentes e trilhos, roçadeiras, equipamentos para solda de
trilhos entre outros. A CPTM possui somente alguns destes equipamentos, mas em
péssimo estado de conservação e com defeito. Somente a locomotiva que é
disponibilizada pela CPTM, pois está no contrato, mas a mesma vive na oficina
em conserto, cancelando assim várias programações de serviço no campo devido à
ausência da mesma.”
A CPTM não
comentou sobre os equipamentos apesar do questionamento da reportagem.
A denúncia
ainda diz que os contratos de manutenção de outras linhas da CPTM já estão em
aditivos e vão até maio, mas sem ainda sinalização de nova licitação ou
renovação das contratações.
Em nota, a
CPTM diz que malha das linhas “é totalmente segura”.
CONFIRA NA
ÍNTEGRA:
DENÚNCIA:
No dia
17/08/2017 cinco locomotivas de carga descarrilaram entre as estações Baltazar
Fidelis e Francisco Morato, da linha 7-Rubi (Luz-Jundiaí), interrompendo a
circulação na CPTM. A causa do acidente foi bitola em decorrência de falta de
manutenção. Não foi vagão com excesso de peso, conforme falou o presidente da
CPTM. Bitola é a distância entre os trilhos. A distância correta é 1,60 m. Como
neste local a bitola estava maior, as locomotivas descarrilaram. Essa tragédia
foi uma das muitas que ocorreram na CPTM em 2017. A primeira foi em 23/02/2017,
quando um trem descarrilou na linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana), na zona
leste da cidade. O acidente aconteceu de madrugada e atingiu a rede de energia,
interrompendo a circulação de trens. Em 13/03/2017, um trem de carga, que
compartilha as linhas da CPTM, descarrilou na Estação Itapevi da linha
8-Diamante (Itapevi-Júlio Prestes). Em 12/07/2017, outro descarrilamento afetou
o funcionamento da linha 8, entre as estações Engenheiro Cardoso e Itapevi. No
dia 27/09/2017, foi a vez da linha 11-Coral (Luz-Estudantes) ser afetada por um
acidente deste tipo. O acidente aconteceu na área de manobras da Estação da
Luz.
O fato é que
desde o dia 15/08/17, a CPTM encerrou o contrato da empresa contratada que
executa a manutenção nas linhas 7 Rubi e 10 Turquesa. O contrato de manutenção
foi de 4 anos iniciando em Agosto de 2013 até Agosto de 2017 no valor de R$ 122
milhões e executado pela Construtora Ferreira Guedes. A empresa contratada
trabalhava na linha 7 com 180 homens e na linha 10 com 120 homens, trabalhando
dia e noite e nos finais de semana. E ainda assim este efetivo precisaria ser
maior. A mesma não aceitou o convite da CPTM para continuar por mais 6 meses
através de um aditivo. A empresa solicitou que a CPTM liberasse serviços para
um faturamento de R$ 5 milhões por mês e a CPTM não aceitou alegando que
somente podia liberar serviços para um faturamento de, no máximo, R$ 2,5
milhões por mês. Há uma grande necessidade de serviços a serem executados
nestas vias e esta liberação no faturamento favoreceria a manutenção, pois mais
serviços seriam executados com mais dinheiro liberado. Com o não da CPTM, a
empresa aguardou o fim do contrato (Agosto 2017) e retirou-se. Desde então, as
manutenções dos mais de 100 km de vias (linha 7 + linha 10) estão sendo
executados por 15 funcionários da CPTM na linha 10 (base em São Caetano) e 15
funcionários da CPTM na Linha 7 (bases em Francisco Morato e Lapa). Não são 90
funcionários conforme falou o presidente da CPTM. Problemas como quebra de
trilhos, deslocamento e desnivelamento de via, dormentes podres, etc, não estão
sendo solucionados por falta de efetivo suficiente da CPTM para a execução da
correção. Aqui na linha 10, tem um problema constante de quebra de trilhos
devido aos mesmos serem velhos. Quase todos os dias ocorrem falhas por trilhos
partidos. Tem dias que quebram até 3 trilhos. Quem atendia estas falhas era a
empresa contratada. Os funcionários da CPTM não estão dando conta de executar
estas falhas (substituição do trilho velho) e acabam deixando os trilhos com
emendas de emergência para que no futuro seja substituído. Somente executam
rondas para detectar problemas e relacioná-los para quando a empresa
terceirizada entrar os serviços serem executados. Eles não estão executando
nenhum tipo de serviço para manter as vias. Atendem somente emergências que são
muitas. Isso é verdadeiramente brincar com a vida de milhões de pessoas que
utilizam a CPTM. Este é somente um dos graves problemas que estão ocorrendo
após a saída da empresa contratada.
Conforme
mencionei no início a causa do descarrilamento das 5 locomotivas foi abertura
de bitola. Abertura de bitola é significado de falta de manutenção. Falta de
manutenção devido a poucos funcionários da CPTM. Poucos funcionários devido à
saída da empresa contratada.
A empresa
contratada é muito importante para a manutenção das vias na CPTM. A empresa
contratada entra com mão de obra e equipamentos no contrato. A CPTM somente
programa os serviços no trecho e fiscaliza. Todo o restante é com a empresa
contratada. Todas as máquinas usadas na manutenção pertencem a empresa
contratada. Exemplos: máquinas de grande porte como Socadora, alinhadora e
niveladora de via, Reguladora de lastro, caminhão de linha, Pá Carregadeira,
Retroescavadeira, Rolocompactador, trator de esteiras, etc. E maquinas de
pequeno porte como Tiferonadeiras, Furadeiras de Dormentes e Trilhos,
Roçadeiras, equipamentos para solda de trilhos entre outros. A CPTM possui
somente alguns destes equipamentos, mas em péssimo estado de conservação e com
defeito. Somente a locomotiva que é disponibilizada pela CPTM, pois está no
contrato, mas a mesma vive na oficina em conserto cancelando assim várias
programações de serviço no campo devido à ausência da mesma.
Ainda não há
nenhuma previsão para entrar uma nova empresa terceirizada nas linhas 7 e 10. O
contrato da empresa terceirizada (Consorcio TS) que executa a manutenção nas
linhas 8, 9, 11 e 12 vai até Maio e já está cumprindo o aditivo. Analisando tudo
que vem acontecendo, acredito que em breve todas as linhas da CPTM estarão sem
nenhuma empresa para cuidar da manutenção das suas vias. A nova licitação para
a manutenção de todas as 6 linhas da CPTM foi publicada no final de Outubro e o
resultado seria divulgado no início de Dezembro. Mas por motivo desconhecido de
todos, o resultado foi adiado para Janeiro, depois para fevereiro e agora
passou para 9 de março mas não há nenhuma garantia que vai ocorrer pois pode
ser adiada pela 4ª vez. A CPTM não explicou o motivo destes adiamentos.
Enquanto isso as linhas 7 e 10 continuam abandonadas e a população correndo
grande risco.
RESPOSTA
CPTM:
A CPTM
garante que a ferrovia é totalmente segura. Por dia útil, são realizadas cerca
de 2.700 viagens, transportando, em média, 2,8 milhões de passageiros. A
Companhia possui 2000 empregados na área de manutenção, sendo 800 deles atuando
nas instalações fixas, entre elas as vias.
O quadro
próprio da manutenção auxilia constantemente nos serviços das terceirizadas e
atua na transição de contratos entre uma empresa e outra, como o que está
ocorrendo no momento nas Linhas 7-Rubi e 10-Turquesa. O contrato de manutenção
dessas linhas foi encerrado em 31 de agosto do ano passado e a contratação de
nova empresa está em processo de licitação.
Assim, a manutenção está sendo realizada pela equipe própria, sem
qualquer prejuízo aos serviços de conservação das vias.
Quanto ao
descarrilamento de trens de carga na Linha 7, ocorrido em 17 de agosto, não
procede a afirmação de que foi por falta de manutenção. Como informado, o
contrato com terceiros teve vigência até o dia 31 de agosto e a partir daí a
equipe própria assumiu os serviços naquela linha.
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