Depois de 20 anos, Lapa quer que trem de turismo volte a circular na cidade

Já faz 20 anos que a cidade da Lapa
ouviu pela última vez o apito de um trem de passageiros. Cortando a cidade, os
velhos trilhos da ferrovia inaugurada no final do século XIX passaram a
conduzir apenas as cargas que chegam e saem pelo Porto de Paranaguá. Mas a
vontade de trazer de volta aquele velho assovio permaneceu pulsando na memória
de muitos moradores e no coração de um grupo de apaixonados pela linha férrea.

Agora, a Prefeitura da Lapa tem um
plano sólido para devolver à Lapa o encanto das composições que carregam
passageiros. Nesta terça-feira (27), a administração municipal vai apresentar à
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) o projeto do Museu Dinâmico
da Ferrovia. Trata-se de uma iniciativa para incentivar a preservação da
memória ferroviária local.

Maria-fumaça chega à estação da Lapa.
Registro feito na década de 1950. Foto: Arquivo Prefeitura da Lapa

De acordo com Márcio Assad, diretor de
turismo, comunicação e eventos da cidade, o projeto vai utilizar a primeira
locomotiva a vapor a ter circulado no Paraná. Trata-se da maria-fumaça nº 11.
Produzida em 1883, durante anos ela ficou exposta no Shopping Estação, em
Curitiba. Restaurada pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, a
Maria Fumaça está pronta para voltar a rodar. Além dela, a composição terá, a
princípio, dois carros de passageiros. Um terceiro carro também está nos
planos.

 

O projeto

 

Segundo Assad, 5 mil alunos de várias
regiões do Paraná visitaram o Centro de Memória Ferroviária da Lapa.
Funcionando na estação central da cidade, o centro lembra a importância
histórica e cultural da ferrovia. Por isso, o foco inicial do museu dinâmico será
no turismo didático-pedagógico. “Às quartas-feiras, a composição vai levar os
estudantes que visitam a Lapa. Antes de embarcar, eles receberão toda a
informação cultural sobre a ferrovia. Então embarcam no trem, fazem um trecho
até outra estação e voltam.”

Para o diretor, essa é uma maneira de
fortalecer um nicho do turismo local que já está consolidado. Como a Lapa é uma
das cidades históricas mais bem preservadas do Estado, ela naturalmente atrai o
interesse de grupos escolares. Mas os adultos também terão a chance de
aproveitar o trem. Aos sábados e domingos, o passeio se repete, dessa vez
aberto ao público em geral.

Maria-fumaça parada ao lado da estação
da Lapa. Foto: Arquivo Prefeitura da Lapa

 

Preservação da cultura

 

Todo o projeto está alinhado à
resolução 359, da ANTT, publicada em 2003. O documento prevê “a prestação de
serviços de transporte ferroviário de passageiros de finalidade turística,
histórico-cultural e comemorativa”, por entidades públicas ou privadas. Mas é
preciso que a própria ANTT autorize o serviço. Por isso representantes da Lapa
estão indo a Brasília.

Na bagagem, a direção de turismo do
município está levando moções de apoio de diversas instituições. Entre elas
estão o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o
Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR) e a Paraná Turismo (PRTur) –
autarquia da Secretaria de Estado do Transporte e Turismo.

Para Assad, a comoção se deve à
ligação emocional entre as pessoas e a ferrovia. “Estamos em uma região que abrange
mais de 3,5 milhões de pessoas. Esse projeto tem todo um apelo cultural, a
locomotiva exerce um fascínio nas pessoas. Há muitas crianças e até adultos que
nunca andaram de trem e que, agora, poderão experimentar.”

 

Investimentos

 

Tanto a maria-fumaça quanto os carros
de passageiros da composição que deverá circular na Lapa são doações para o
município. Também foi por meio de doação que o município conseguiu uma
locomotiva a diesel para ser instalada na outra ponta da composição. “Sempre
que você coloca um trem histórico na linha, é preciso ter um trem moderno para
rebocá-lo em caso de pane. Então a própria composição do trem já é um museu. Em
uma ponta vai estar o começo da história e na outra o trem moderno. Só isso já
é curioso”, diz Assad.

Ele afirma que o Museu Dinâmico da
Ferrovia é financeiramente autossustentável. O município não está, portanto,
pleiteando recursos financeiros. A ideia é que o museu seja subsidiado pelos
bilhetes comprados pelo público. Segundo estimativa da direção de turismo, eles
custarão no máximo R$ 15 por pessoa nos passeios feitos para os estudantes e no
máximo R$ 30 aos finais de semana. “No tempo da maria-fumaça a demanda era tão
grande que as pessoas pegavam uma senha na quarta para comprar a passagem na
sexta”, conta Assad.

Ele opina que, se a procura for
igualmente grande com o novo projeto, o museu tem tudo para ser um sucesso. “O
foco é excelente para a Lapa, extraordinário para o Paraná e cria uma condição
muito especial de turismo. Também é uma forma de entendermos como o Brasil
poderia ter sido se a ferrovia fosse uma prioridade.”

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