O mercado brasileiro é estratégico nos
planos de expansão da gigante russa PhosAgro, uma das maiores fabricantes
mundiais de fertilizantes derivados de fosfato, mas tem dois problemas sérios
para resolver: a deficiência na infraestrutura e a complexidade do sistema
tributário, diz Andrey Guryev, CEO da empresa.
Em entrevista ao Valor à margem do
Fórum Econômico Mundial, realizado há duas semanas na estância alpina de Davos,
Guryev mostrou-se animado com as perspectivas do Brasil. Para ele, as vendas de
fertilizantes ao país devem manter um ritmo anual de crescimento na faixa de 3%
a 5%, acima do dobro da média verificada em escala global (1,5% nos últimos
quatro anos) e com destaque para a expansão da área agrícola em Mato Grosso.
O mercado brasileiro absorveu 920 mil
toneladas de fertilizantes da PhosAgro no ano passado, o que corresponde a 11%
de suas receitas totais. Um dos produtos, o PKS, foi desenvolvido
especificamente para o cultivo da soja no país e tem baixo ou nenhum índice de
nitrogênio entre seus componentes. Fertilizantes minerais responderam por US$ 1
bilhão das exportações russas ao Brasil entre janeiro e setembro de 2017.
“Haverá dois grandes mercados
para o crescimento de fertilizantes no mundo: Brasil e Rússia”, diz
Guryev, satisfeito com a recuperação nos preços de fertilizantes, desde o
último trimestre.
Há dois anos, a PhosAgro abriu um
escritório comercial em São Paulo, que deu mais autonomia à empresa no contato
com clientes da América Latina – Argentina, Colômbia, Equador, Uruguai e
Venezuela também são destinos importantes. Hoje as vendas diretas representam
85% do total.
O empresário russo, no entanto, faz
algumas ressalvas – a maior delas é a ausência de uma rede ferroviária e a
“superdependência” do frete por caminhões para chegar aos seus
clientes. “Infraestrutura, infraestrutura, infraestrutura”, afirma
Guryev ao ser questionado se apontaria três problemas para serem resolvidos
pelo governo que toma posse em janeiro de 2019. “É um gargalo enorme para
o país e precisa de solução”, diz.
Além da falta de ferrovias, ele
critica o elevado custo de armazenamento nos terminais portuários. Hoje a
empresa usa os portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), Vitória (ES) e Rio Grande
(RS) para trazer seus produtos ao Brasil.
“Tudo isso torna o suprimento
mais caro do que deveria. Ficaríamos extremamente felizes se esses desafios
logísticos fossem superados”, completa Guryev, filho do fundador homônimo
da PhosAgro, cujo patrimônio pessoal é estimado em US$ 4,5 bilhões pela revista
americana “Forbes”.
Uma dos maiores obstáculos ao
crescimento da empresa no Brasil foi retirado pela Câmara de Comércio Exterior
(Camex), que zerou a tarifa de 6% para importar o hidrogeno ortofosfato de
diamônio (conhecido pela sigla DAP), um dos mais usados no país. Mas existem
outras reclamações, como o excesso de burocracia – notável mesmo para padrões
russos – e a complexidade do regime tributário, principalmente pelos impostos
interestaduais, que Guryev classifica como de “difícil” entendimento.
De acordo com o empresário, diante das
características da Rússia, não faria sentido ter parte da produção no Brasil.
Além do gás barato, o que se tem por lá é a fartura em todas as matérias-primas
necessárias para a fabricação dos fertilizantes, como uma das maiores jazidas
de fosfato do mundo. “Temos, de longe, os custos mais baixos”,
garante Guryev, na Russia House, uma espécie de embaixada alugada pelo governo
russo na rua principal de Davos para divulgar o país no encontro de bilionários
nos Alpes.
A localização do “show room”
gerou piadas na cidadezinha suíça: ela estava quase em frente à casa da
Ucrânia. Por isso, em referência à anexação da Crimeia, muitos questionavam se
não haveria um ataque do Exército Vermelho ao outro lado da calçada antes de o
encontro acabar. Em meio ao ambiente cordial do fórum, não houve provocação
entre as partes.
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