Grandes obras de infraestrutura de
transporte não geram apenas melhorias em mobilidade. Elas são também um motor
para o desenvolvimento urbano, com o aumento na qualidade de vida da população
e a geração de empregos.
Os investimentos federais em
infraestrutura do transporte no Brasil – incluindo rodovias, aeroportos, portos
e malha ferroviária e de metrô – superaram R$ 143 bilhões entre 2005 e 2017.
Para a execução das obras, quase 130 mil pessoas foram admitidas em 2017, de
acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do
Ministério do Trabalho e Emprego.
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“Essas obras que modernizam o sistema
de mobilidade têm um potencial incrível de longo prazo, que vai gerar renda de
impostos para o poder público, atividade econômica, e tudo isso vai representar
um processo virtuoso”, afirma Pedro da Luz Moreira, presidente da regional
Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Além da geração de empregos diretos e
indiretos, esses investimentos em infraestrutura criam oportunidades que vão
além da entrega da obra. No entorno de estações de metrô, por exemplo, onde há
grande circulação de pessoas, surgem comércios e empresas. A melhoria da
mobilidade também valoriza as áreas com o incentivo a empreendimentos
imobiliários, outro importante gerador de empregos.
“A empregabilidade envolvida nas
obras de infraestrutura é imensa. É um investimento gerador de renda, que
começa a pagar salário para uma grande parcela de pessoas que vão começar a
consumir”, diz Moreira.
Mudança em Salvador
Salvador é a terceira cidade do Brasil
que mais recebeu recursos federais em mobilidade urbana nos últimos anos, de
acordo com o Ministério das Cidades (perde apenas para Rio de Janeiro e São
Paulo). Um projeto que mudou a cara da cidade foi o metrô, inaugurado em 2017.
Depois de passar anos como uma “lenda”, ele começou a sair do papel em 2013,
com um investimento de R$ 5,6 bilhões. Quatro anos depois, as duas linhas do
sistema trouxeram uma mudança nos deslocamentos da população da capital baiana.
Hoje, uma média de 270 mil pessoas usa o metrô em dias úteis. Esse número deve
chegar a 500 mil ao fim de 2018.
Além disso, todo o transporte coletivo
de Salvador e da região metropolitana está integrado. As linhas de ônibus
municipais estão em processo de reorganização e os ônibus metropolitanos já não
entram mais na capital, o que reduziu o fluxo de veículos nas ruas. “A
cidade está mais fluída”, diz o diretor-presidente do Metrô Bahia, Luis
Valença.
Outro benefício do sistema foi a
criação de postos de trabalho. Para construir o metrô, foram empregadas mais de
8 mil pessoas. Hoje, na operação, são cerca de 1,5 mil funcionários, sendo que
95% contratados locais.
Após a inauguração do metrô, vias
importantes de Salvador receberam melhorias. A avenida Paralela, que liga o
centro ao aeroporto, ganhou 12 km de ciclovias e pista de corrida, passarelas e
mais de 6 mil novas árvores. “(A população) passa a ter opção de lazer, e
a região é valorizada. Vamos ter projetos de condomínios pela presença do
metrô”, diz Valença.
Oportunidades chegam voando
Os investimentos na infraestrutura de
aeroportos também trazem benefícios além do transporte de passageiros. Com um
investimento de cerca de R$ 1 bilhão em três anos de concessão, o Aeroporto
Internacional de Belo Horizonte tem um novo terminal em operação desde o início
de 2017 e capacidade para movimentar 22 milhões de passageiros por ano.
A expansão do aeroporto traz não só
mais oferta de voos – atualmente são 45 destinos domésticos e internacionais –
mas também outros benefícios, como agilidade nas operações, internet rápida
para seus usuários e um ambiente de compras focado em produtos locais
valorizando a cultura mineira. “Passa a ser não só uma porta de entrada de
ir e vir, mas uma porta de entrada de negócios, de turismo”, afirma o
diretor-presidente da BH Airport, Adriano Pinho.
Tráfego melhor em Jundiaí
De todos os modais de transportes, as
rodovias foram as que mais receberam investimentos nos últimos anos. Em 2017,
foram R$ 6,7 bilhões investidos pela União em estradas, quase 80% do total
despendido em infraestrutura no setor.
Em Jundiaí (SP), a primeira fase do
Complexo Viário foi entregue em novembro de 2017 pela concessionária CCR
AutoBAn. A obra, que empregou 500 pessoas, consiste em um novo trevo com duas
novas alças e viadutos, calçadas e 1100 metros de ciclovias, visando desafogar
o trânsito no acesso à cidade.
As marginais também foram ampliadas
para que os veículos que circulam apenas pela cidade não precisem se misturar
com os da rodovia. A segunda etapa deve ficar pronta ainda em 2018: sua
principal obra é o Viaduto das Valquírias, que tem como objetivo facilitar o
acesso dos moradores da região oeste de Jundiaí ao centro, melhorando a
integração.
Caminhos a percorrer
Apesar dos investimentos feitos,
entidades estimam que o país tem muito a fazer para suprir suas necessidades no
setor. Para se ter uma ideia, o total investido em infraestrutura de
transportes no Brasil desde 2005 corresponde a apenas 0,25% do PIB do mesmo
período. Já a crise fiscal dos últimos anos fez o montante despendido no setor
cair, chegando em 2017 a pouco mais de R$ 8 bilhões – quase metade do
registrado em 2014.
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social) avalia que são necessários mais R$ 235
bilhões apenas para linhas de metrô, corredores expressos de ônibus e Veículos
Leves sobre Trilhos (VLT) nas grandes cidades. Já para a CNT (Confederação
Nacional do Transporte), o investimento necessário na infraestrutura do
transporte em geral (incluindo portos, aeroportos, rodovias e ferrovias)
encosta em R$ 1 trilhão.
Para o diretor-executivo da CNT, Bruno
Batista, o maior pecado cometido pelo Brasil em termos de infraestrutura foi
não ter conseguido manter níveis de investimento em patamar elevado ao longo do
tempo. “O Orçamento da União oscila muito, cerca de 30% dele fica sem ser
executado anualmente. Fica difícil manter a qualidade com esse cenário”, diz.
Para aumentar o investimento em
transportes, Batista vê como saída facilitar a participação da iniciativa
privada. “O governo precisa colocar em prática projetos que têm anunciado nesse
sentido, senão não haverá alternativa”, afirma.
Já o presidente do Conselho Consultivo
do Secovi (Sindicato da Habitação) de São Paulo, Cláudio Bernardes, acredita
que as grandes cidades do Brasil deveriam ter investido mais em metrô no
passado. “São Paulo tem pouco mais de 70 km em metrô, e deve ganhar mais 90 km,
mas a necessidade real são 480 km”, diz.
Para ele, além de se voltar para
hidrovias e ferrovias, que são modais mais econômicos, o país precisa repensar
os modelos de ocupação das capitais, distribuindo melhor as atividades e
reduzindo os deslocamentos da população.
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