Trilhos dourados: um trem de luxo pelas ferrovias da Índia

Viajar de trem era um sonho antigo,
que nasceu do fascínio por filmes que mostravam pessoas bem vestidas entre
vagões, vendo a vida passar pelas janelas. Em março, meu marido e eu embarcamos
para uma viagem sobre trilhos pela Índia, de Délhi a Mumbai, a bordo do luxuoso
trem Deccan Odissey.

A malha ferroviária indiana é uma das
maiores do mundo, construída pelos britânicos durante a colonização. O trem é
um meio de transporte muito comum no país – e, assim como o sistema de castas,
é dividido em classes, da primeira à terceira.

O trem de luxo no qual embarcamos faz
seis rotas pelo país. Nosso roteiro teve duração de uma semana e passou pelo
famoso circuito turístico conhecido como Triângulo Dourado, com Délhi, Agra e
Jaipur nas pontas. Nele, pude ver e sentir as desigualdades que marcam a
sociedade indiana. Enquanto apreciávamos um delicioso vinho no conforto de
nossa suíte, víamos pela janela as mulheres que iam buscar água nas estações,
crianças e animais passando com cargas, muita sujeira. Um cenário que
transforma o trem de luxo em uma verdadeira bolha e me deu a certeza de que
guardarei a experiência para sempre como um aprendizado.

Dentro da bolha. Inspirado nas viagens
dos aristocratas britânicos, o Deccan Odissey é um hotel cinco estrelas sobre
trilhos. Nossa cabine ficava no vagão Bollywood. Era pequena, mas muito
confortável, inclusive com água quente no banheiro.

Tínhamos nosso próprio mordomo,
Sanjay, que nos acordava cedo, às vezes às 5 horas da manhã, quando o passeio
pedia. Ele estava sempre com um sorriso no rosto e café quente com bolachas na
bandeja. No fim do dia, nos trazia uma taça de vinho tinto para relaxar. Também
cuidava do que fosse necessário, como mandar as roupas sujas para a lavanderia
e arrumar o quarto.

O trem tem spa, com uma massagista
tailandesa à disposição dos hóspedes, mediante pagamento à parte. Testei uma
massagem relaxante e, mesmo com o balanço do trem, deu para ficar zen. Depois,
fiz sauna. Ainda queria ter agendado pé e mão no salão de beleza, mas no dia a manicure
estava de folga. O trem tem também uma pequena academia, com esteira, bicicleta
e pesos, que não testei porque sempre preferia ir tomar vinho no vagão do bar.

As refeições eram feitas em dois
restaurantes a bordo, um de comida tradicional indiana e outro de culinária
continental. Ambos deliciosos.

A cada parada para um passeio, éramos
recebidos com um colar de flores tradicionalmente feito pelas mulheres indianas
como oferenda aos deuses. Também pintavam o bindi – o famoso terceiro olho – em
cada um dos turistas e apresentavam danças regionais. Depois, era só entrar no
ônibus, onde havia água filtrada e petiscos. No caminho, um guia explicava a
atração e contava curiosidades. Ingressos e refeições fora do trem eram parte
do pacote.

Na noite de despedida, todos ganhamos
roupas indianas, sáris para as mulheres e kurta pajamas para os homens. Assim
vestidos, participamos de uma festa no vagão do bar.

A Índia não é fácil para estrangeiros.
Falta saneamento e infraestrutura. Sobram cultura, tradição, fé. Um lugar
intrigante, que convida à reflexão e a enxergar para além do caos, com a alma,
sem julgamentos.


Curiosidades


– A Índia é o país com a segunda maior
população do mundo, atrás da China: mais de um bilhão de habitantes. Sozinho, o
Estado de Uttar Pradesh, quinto mais populoso do planeta, tem o mesmo número de
habitantes do Brasil

 

 
Mais de 70% da população vive em regiões agrícolas, muitas precárias.
Mesmo assim, a economia da Índia deve chegar ao 5º lugar no mundo ainda este
ano e ao 3º até 2032, segundo o Centro de Pesquisa de Economia e Negócios, uma
consultoria de Londres

 

– Contra atentados, para entrar em
restaurante, hotel ou atração, todos passam por detector de metal e scanner de
bolsa

 

– Hinduísmo é a fé de mais de 80% da
população, seguido de islamismo, cristianismo e sikhismo

 

– Bandeiras sinalizam se os templos
estão ativos ou não. Se não há uma, não se trata de um local sagrado

 

– Cidades terminadas em “pur” foram
fundadas por hindus. A terminação “abad” indica origem muçulmana

 

– Só beba água filtrada e, se
possível, lacrada. Leve um lenço para cobrir os braços dentro dos templos

 

Como fazer este roteiro

Aéreo: Emirates (desde R$ 4.253;
emirates.com/br), Ethiopian (R$ 4.450; ethiopianairlines.com) e Turkish (R$
6.496; turkishairlines.com) voam SP-Délhi-SP, com uma parada.

 

Pacote: desde US$ 6.100 para uma
pessoa, ou US$ 8.750, para duas; 7 noites, com refeições e passeios. Reserve em
Deccan Odissey ou Cox&Kings.

 

– Fonte: https://viagem.estadao.com.br/noticias/geral,trilhos-dourados-um-trem-de-luxo-pelas-ferrovias-da-india,70002328312


Fonte:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*



0