As lavouras de trigo ganharam mais
espaço nas paisagens do Paraná, maior Estado produtor do cereal no país, neste
ano. Já é possível observar grandes áreas com as fileiras de trigo começando a
crescer em contraste com as plantações de milho que ainda dominam o cenário.
Problemas climáticos que impediram a
semeadura do milho safrinha do ciclo 2017/18 dentro da janela ideal de plantio
levaram muitos agricultores a preferirem o trigo. Além disso, os preços em
patamares atraentes também foram fundamentais para o produtor se arriscar com o
cereal.
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Em junho do ano passado, o preço do
cereal no país estava em US$ 200 por tonelada, considerando o preço FOB na
Argentina como balizador. Na semana passada, alcançava US$ 270.
“É um mercado que na teoria é
muito bonito, que faz sentido, mas que, na prática, é diferente”, afirmou
André Debastiani, sócio da consultoria Agroconsult, a uma plateia de produtores
de Cascavel (PR) e região. Dentre os presentes estavam muito daqueles que
decidiram apostar no trigo neste ciclo.
“Eu tenho 27 anos e nunca vi meu
pai plantar trigo. Ajudo desde os 15 anos na lavoura”, afirmou Leonardo
Grolli, produtor de Cascavel. “Eu gostava da dobradinha: soja e milho.
Nunca perdi”, completou o pai de Leonardo, Wilson Grolli, que reveza,
semeando as culturas de soja, milho e trigo desde 1976.
De acordo com a Agroconsult, a área de
trigo semeada neste ano no Paraná deve crescer 5,2%, para 1,012 milhão de
hectares. Os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgados
ontem, indicam uma área de 1,046 milhão de hectares no Estado, 8,8% acima do
ciclo passado.
O patamar de preços também será um
fator que motivará o aumento de área semeada com trigo na Argentina, que produz
um cereal de qualidade superior ao brasileiro. “Em pesos, o preço do trigo
mais que dobrou. Trabalhamos com um cenário de aumento de 5% de área na
Argentina, para 6 milhões de hectares”, disse Debastiani, em palestra
durante a última etapa do 15º Rally da Safra, expedição que percorre lavouras,
organizada pela Agroconsult.
Segundo o consultor, considerando uma
safra normal, a Argentina produzirá algo em torno de 18,3 milhões de toneladas.
Com clima favorável, esse número pode chegar a 20 milhões. O consumo doméstico
na Argentina é de 6 milhões de toneladas, o que significa cerca de 14 milhões
de toneladas exportáveis. “E é esse trigo que vai chegar ao nosso
mercado”, disse Debastiani.
A Conab estima que o Brasil deve
produzir 4,857 milhões de toneladas de trigo neste ano, 13,9% a mais que em
2017. O Paraná será responsável por 57,8% da produção, com 2,795 milhões de
toneladas. A despeito do aumento da produção, a Conab projeta alta de 6,6% nas
importações, para 6,5 milhões de toneladas.
Como muita água ainda vai rolar
durante a safra de trigo, eventuais problemas de qualidade ou de produtividade
não estão descartados. Em 2017, o excesso de chuvas provocou uma queda de quase
40% na produção do cereal no Paraná. “A gente já tem uma área de replantio
de trigo porque teve excesso de umidade”, disse Leonardo Grolli.
“Se o câmbio ajudar, exportaremos
trigo de menor qualidade para África para fazer ração e importaremos para
consumo da Argentina”, afirmou Debastiani.
Com o peso desvalorizado pela crise na
Argentina, o Brasil se torna um mercado ainda mais atrativo para os exportadores
do país vizinho. “O receio é que haja uma inundação do trigo argentino e
isso derrube os preços [domésticos]”, ponderou Debastiani.
– Fonte: http://www.valor.com.br/agro/5590587/trigo-avanca-nos-campos-paranaenses
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