Entusiasta de concessões e privatizações, o governador
eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), cogita dispensar o modelo de PPP
(Parceria Público-Privada) e adotar contratos convencionais para retomar as
obras da linha 6-laranja do Metrô.
A linha, com 15 km e 15 estações, é prometida há dez anos,
mas foi paralisada após entrave na PPP. A construção, iniciada em 2013, já
consumiu R$ 1,7 bilhão em obras (41% em recursos do estado) e R$ 984 milhões em
desapropriações.
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O custo para finalizar as obras deve ultrapassar R$ 9
bilhões -valor que ainda pode aumentar após atualizações.
Anunciada em 2008, na gestão José Serra (PSDB), a linha 6 do
Metrô chegou a ser prevista para 2012 e, após a assinatura do contrato, para
2018.
Ela era exaltada pelo governo como a primeira PPP no Brasil
responsável tanto pela construção como pela futura administração do metrô -para
operar a linha por 25 anos.
O percurso entre a Brasilândia (zona norte) e a Liberdade
(centro) ganhou o apelido de “linha das universidades”, devido às
paradas perto de instituições de ensino superior.
Diante de uma série de problemas, porém, a linha atravessou
as duas últimas gestões de Geraldo Alckmin (PSDB) sem ficar perto da conclusão.
Empresas participantes da PPP -como Odebrecht, Queiroz
Galvão e UTC Engenharia- viraram alvo de investigações de corrupção em outros
contratos pelo país. Sem conseguir financiamento, paralisaram as obras de metrô
em setembro de 2016, com apenas 15% de avanço.
O consórcio ainda tentou trocar sócios e convidou uma
gigante estatal chinesa para assumir, mas a empresa também desistiu da linha.
Na sexta-feira (16), o conselho gestor de PPPs no estado aprovou o processo de
caducidade do contrato de concessão.
Doria, que tem nas desestatizações uma bandeira política,
avalia realizar a obra de maneira convencional, sem PPP, por falta de
alternativas para a parceria privada, conforme apurou a Folha com integrantes
do futuro governo.
A dificuldade é achar interessados em tocar uma obra dessa
magnitude, o tempo de um novo processo de contrato de PPP e os riscos devido ao
espólio da construção abandonada, chamariz para discussões judiciais no futuro.
Os canteiros das obras e as áreas com imóveis demolidos
atualmente atraem usuários de drogas, descarte irregular de lixo, ratos e
baratas.
Além disso, os dois tatuzões que fariam a perfuração dos
túneis do metrô, produzidos na China especificamente para esta obra, estão
desmontados e sem utilização, à espera de alguma definição.
Somente após a conclusão do processo de caducidade o governo
poderá realizar novos estudos de modelagem econômico-financeira e realizar
consultas públicas para a publicação do novo edital.
Durante a campanha eleitoral, Doria prometeu retomar e
acelerar obras do metrô.
Ele definiu como meta uma rede metroviária de 350 km (hoje,
é de cerca de 90 km), mas disse que era um plano de longo prazo, que não
terminaria em seu mandato.
Doria prometeu levar a linha 18 do metrô até o ABC. O
projeto prevê um monotrilho entre a estação Tamanduateí, da linha 2-verde, e as
cidades do ABC. No caso desta linha, Doria falava em outra PPP.
Durante a campanha, o tucano prometeu buscar apoio financeiro
do governo federal para tocar as obras, por meio do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social). Apesar da derrota de Alckmin, candidato do
PSDB, Doria se aproximou da campanha de Jair Bolsonaro (PSL), que acabou eleito
presidente.
Quando a linha 6 foi anunciada, em 2008, houve resistência
de parte dos moradores de Higienópolis, no centro.
A assinatura do contrato da PPP só ocorreu em 2013, quando a
estimativa era de que a linha poderia funcionar parcialmente até 2018.
A expectativa do estado, que acabou frustrada depois, era
que o fato de ser uma PPP plena (com o mesmo grupo construindo e operando)
tornaria o projeto mais atrativo à iniciativa privada, além de incentivar o
término das obras.
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