A guerra comercial entre Estados Unidos e China continua a beneficiar produtores e tradings de soja no Brasil. Depois de um período de calmaria nas disputas entre as duas maiores potências econômicas do mundo, a decisão do presidente americano Donald Trump de impor uma nova rodada de tarifas sobre produtos chineses fez os prêmios pagos pelo grão brasileiro registrarem nova disparada nos portos do país.
Em Paranaguá, no Paraná, os prêmios já alcançaram, em média, US$ 1,45 por bushel (medida equivalente a 27,2 quilos) em agosto, quase 53% acima da média de julho (US$ 0,95). Esse prêmio é uma espécie de ajuste em relação às cotações praticadas na bolsa de Chicago, que refletem, sobretudo, a realidade do mercado americano. E por aqui a demanda da China está mais aquecida do que por lá, uma vez que, logo do início da troca de agressões comerciais, Pequim taxou as importações da oleaginosa dos EUA em 25%. Ontem, em Chicago, os contratos futuros para novembro fecharam a US$ 8,5925 por bushel, praticamente o mesmo patamar de um ano atrás.
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“O último gatilho para a alta dos prêmios foi a reação de Trump de criar novas tarifas contra produtos chineses. Depois veio a contrapartida da China de elevar a tarifa de soja americana de 25% para 30%. E, apesar de nos últimos dias as partes terem dado sinais de que voltarão a negociar, os prêmios no Brasil continuam firmes”, diz o analista Carlos Cogo. Os valores praticados costumam oscilar diariamente, explica, mas levando-se em consideração as médias até ontem, a valorização dos prêmios da soja em grão em Paranaguá chegou a 13,4% em apenas uma semana.
Cogo lembra que a média histórica para os prêmios no porto Paranaense nos últimos cinco anos para agosto é de US$ 0,55 o bushel.
Em Paranaguá, o pico dos prêmios aconteceu em outubro de 2018, no ápice da guerra comercial entre Washington e Pequim – o valor chegou a bater em US$ 2,50 o bushel. De lá para cá, o patamar diminuiu, mas os valores continuaram positivos. Ao longo desse período, o piso mensal foi em abril passado (US$ 0,30 por bushel), auge do escoamento da colheita brasileira da safra passada (2018/19). “A demanda garante esses prêmios e tem compensado o baixo patamar de preços em Chicago”, afirma Cogo.
“Enquanto o cenário atual continuar, e as incertezas internacionais perdurarem, a tendência é que os olhos dos players continuem voltados para a soja brasileira. De modo geral, a bonificação portuária, aliada ao aumento da taxa de câmbio, segue a impulsionar e a sustentar as negociações no mercado interno”, reforça análise divulgada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea), órgão ligado à federação estadual de produtores rurais (Famato).
Como resultado, aponta o Imea, o preço da soja disponível em Mato Grosso, que lidera a produção do grão no país, está em alta. No início da semana alcançou R$ 70,47 a saca de 60 quilos, um incremento de 2,24% em relação à segunda-feira passada.
O fato de os prêmios estarem atraentes, contudo, não será capaz de evitar uma forte queda nas exportações brasileiras de soja este ano. Isso porque, embora esteja privilegiando a matéria-prima do Brasil – que encabeça as exportações mundiais, à frente dos EUA -, a China, que lidera com folga as importações globais, está comprando volumes menores. Boa parte dessa queda decorre da forte redução do plantel de porcos do país asiático, em decorrência da epidemia de peste suína africana. Com menos animais, a China precisa de menos soja, que junto com o milho é um dos principais ingredientes das rações.
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