O consórcio Move São Paulo, formado por UTC, Queiroz Galvão e Odebrecht, pode estar perto de concluir a venda da concessão da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo, que corre risco de caducidade. O grupo mais próximo de concluir a operação, no entanto, é o KT2, uma companhia com sede nos Estados Unidos, cujos sócios não são conhecidos e que é vista com desconfiança no setor de infraestrutura.
A empresa firmou, no dia 26 de julho, uma proposta vinculante para comprar a concessionária. O acordo, porém, traz diversas condicionantes, como a necessidade de comprovação de que o grupo teria capacidade de realizar os investimentos. Além disso, o governo paulista ainda terá que dar aval à operação.
A proposta da KT2 não é a única. Diante da falta de um histórico em concessões públicas e a incerteza sobre os fundos por trás da companhia, a Move São Paulo optou por manter conversas com outros dois proponentes: o conglomerado espanhol Acciona e a chinesa CR20, subsidiária da estatal China Railway Construction Corporation (CRCC).
Questionada sobre a oferta, a KT2 disse que não comentaria especulações. A empresa também informou ser um grupo que atua junto a fundos de investimento americanos, que não quiseram se identificar neste momento devido a regras de compliance.
A Parceria Público-Privada (PPP) da linha de Metrô foi firmada no fim de 2013, com previsão de R$ 9 bilhões de investimentos do governo e das companhias para construir e operar a rede. No entanto, as obras foram paralisadas em 2016, com apenas 15% de sua execução.
Agora, tanto o consórcio de empreiteiras como o governo de São Paulo têm buscado uma saída de venda para a concessão. No fim do ano passado, o Estado decretou que o contrato seria anulado a partir de 13 de agosto de 2019, caso não houvesse uma transferência a outro operador privado até a data. O prazo acabou prorrogado até o dia 11 de novembro.
A caducidade é considerada o pior cenário tanto para as empresas quanto para o poder público, que prefere acelerar o reinício das obras a ter que relicitar o ativo.
A KT2 estudou a aquisição durante mais de um ano até firmar o acordo vinculante com a Move São Paulo. A proposta feita pela empresa prevê uma parceria com outro operador privado nacional para gerir a linha do Metrô. Além disso, o novo controlador manteria as construtoras dos atuais acionistas (Odebrecht, UTC e Queiroz Galvão) como responsáveis pelas obras da linha, mas sem qualquer participação na gestão, segundo fontes próximas às negociações.
Conforme fontes próximas à Odebrecht, qualquer discussão sobre a construção, a execução da obra, deve ocorrer após a venda, diretamente com a construtora do grupo, a OEC. A operação é conduzida diretamente pela Move São Paulo, veículo no qual Odebrecht TransPort (OTP) é sócia, com os outros parceiros vendedores, UTC e Queiroz Galvão.
A KT2 já tem uma operação no Brasil: a concessão da Rodovia do Aço (BR-393, desde a divisa de Minas Gerais e Rio de Janeiro, até o entroncamento com a BR-116, a Dutra). O contrato, que era da Acciona inicialmente, foi comprado em novembro do ano passado. À época, a empresa espanhola sofria dificuldades e solicitava a devolução da concessão.
A KT2, constituída em 2011, tem como acionistas a Group K2 Holding LLC (99,9%) e a Group 2GK LLC (0,01%). Segundo dados da Receita Federal, ambas têm sede em Delaware, nos Estados Unidos, e são empresas de responsabilidade limitada – categoria que oferece proteção aos sócios em caso de passivos ou débitos da companhia, e que é frequentemente usada por acionistas estrangeiros.
O representante legal das companhias é o empresário Carlos Alberto Kubota, que preside o conselho de administração da concessionária da Rodovia do Aço, mas que não tinha atuado no setor de infraestrutura no Brasil até então. Outro membro do conselho é Roberval Antonio Zuccoli, ex-diretor financeiro do parque de diversões Hopi Hari.
A empresa tem hoje dois diretores-executivos. Um deles é Fábio de Souza (administrativo, financeiro e de relações com investidores), que já foi diretor da concessionária Rota das Bandeiras, controlada pela Odebrecht até este ano.
Procurado, o secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, afirmou que o governo ainda não havia sido informado sobre o acordo com a KT2 e que pediria esclarecimentos ao consórcio. Segundo ele, uma eventual aquisição precisa ser comunicada até 11 de setembro, com o envio de todos os documentos para que a operação possa ser analisada. Ele diz que o processo ocorrerá com transparência.
A Move SP não quis comentar. A Acciona confirmou sua oferta pelo ativo e disse que ainda aguarda a manifestação do consórcio. A chinesa CR20 não foi localizada.
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