Imagine uma cidade de 600 mil habitantes com policiamento ostensivo a cargo de apenas 80 homens. Mais: imagine esses 600 mil habitantes em movimento em 104 estações ou dentro de trens que cortam 270 quilômetros de linhas e mais de 100 comunidades, muitas delas em áreas super conflagradas de uma cidade onde polícia e criminosos trocam tiros quase que diariamente.
Essa é a realidade do serviço de trens urbanos do Rio de Janeiro, hoje. Recém-adquirida por uma das maiores corporações japonesas, a Mitsui, a SuperVia é uma das últimas empresas que sobrevive e resiste à violência nas zonas economicamente degradadas da cidade.
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E seu novo dono, enquanto planeja investimentos, faz conta do que não consegue faturar com passageiros que deixam de embarcar, ora fugindo de tiroteios, ora ficando sem trem por conta de vandalismos ou ainda evitando o sistema com medo do tráfico que há anos opera em muitas das estações. De janeiro até agora, nada menos que 58 tiroteios impuseram a paralisação do serviço.
O serviço melhorou nos últimos anos. Mas há ainda um longo caminho a percorrer na busca da excelência, que, aliás, inclui trens cheios nos horários de rush, como ocorre em qualquer metrópole. Nesse caminho a ser percorrido, empresa e passageiros precisam contar também com segurança, atribuição indiscutível do poder público.
O episódio do último dia 16 – quando traficantes com fuzis invadiram a cabine de um trem na estação de Manguinhos e três quilômetros depois obrigaram o maquinista a parar no meio da linha próximo ao Viaduto de Mangueira – reflete um estado de coisas em que é possível acreditar e lamentar que nossos 600 mil passageiros/dia aprenderam a conviver (ou foram obrigados) com violência explícita.
Antes da privatização, em 1998, a segurança dos trens era feita por um batalhão exclusivo da Polícia Militar, com 400 homens. De 2009 para cá, é tarefa de apenas 80 homens de um grupamento da Polícia Militar que, por mais esforçados que sejam (e eles são), não vão dar conta do que pode acontecer de segunda a sexta em quase mil viagens diárias de trem.
Claro, esse é apenas um pedaço do mapa de violência do Rio e das grandes cidades brasileiras hoje em dia. Mudar esse quadro implica melhorar a vida dos brasileiros como um todo. Mas a SuperVia e seus novos investidores se dispõem a fazer sua parte nesse esforço. Conscientes, é verdade, de que trens ou qualquer outro transporte melhores dependem de segurança, tanto para os passageiros quanto para quem os transporta.
*Antonio Carlos Sanches é presidente da SuperVia
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