PEDRO FRANCISCO MOREIRA
Presidente da Associação Brasileira de Logística (Abralog)
As ferrovias são vitais para que exista no Brasil a multimodalidade, pois a falta de sintonia entre os modais não permite que o Custo Brasil se transforme em Lucro Brasil. A Associação Brasileira de Logística está otimista, porque o estilo do ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas acena para um novo tempo. No próprio modal ferroviário, a promessa oficial é de que dobre de tamanho em seis anos, passando dos atuais 15% de participação na malha de transporte do País para 30%, e isso é música para o ouvido dos logísticos.
A Abralog acredita ser fundamental expandir a malha ferroviária, extremamente modesta com seus 31 mil quilômetros – a dos Estados Unidos tem 226 mil quilômetros, e a da China 85 mil. Aliás, o Ministério da Infraestrutura tem como uma das inspirações a regulação americana, e no momento faz esforço junto ao Congresso Nacional para modificar o marco legal ferroviário para aproximá-lo do modelo dos EUA.
O ânimo entre os logísticos se explica também pelas licitações, como a da Ferrovia Norte-Sul, que liga Porto Nacional, em Tocantins, a Estrela d’Oeste (SP), com conexão entre os portos de Itaqui (MA) e de Santos (SP). Além disso, há outras duas, a Ferrovia Integração Oeste- -Leste, na Bahia, de Caetité ao Porto de Ilhéus, e a Ferrogrão, unindo a região produtora de grãos do Centro-Oeste ao Pará, no Arco Norte.
São obras que vão ajudar a tirar caminhões das rodovias e a diminuir o custo do frete, além de representar um grande benefício ao agronegócio, notadamente a Ferrogrão. As estimativas são de que em 10 anos sejam transportadas por ela 120 milhões de toneladas de grãos.
A defesa que a Abralog faz das ferrovias está ligada à sua principal bandeira, a criação da multimodalidade, campanha que assumiu há anos sob o slogan: “Sem multimodalidade, o Custo Brasil não se transformará em Lucro Brasil”, como registramos logo no início desse artigo.
Então, é natural apoiarmos o processo de renovação antecipada das concessões ferroviárias, porque vai tornar mais rápida a expansão da malha, uma vez que o governo usará as outorgas devidas pela prorrogação de contratos para construir novos trechos. Apoiamos também a renovação antecipada porque um modal ferroviário forte, sustentável e eficiente trará enorme economia para todos os setores em que há forte custo de distribuição, notadamente o agronegócio.
A Abralog está pronta para ajudar e informou essa decisão em visita ao ministro Tarcísio Gomes de Freitas, oportunidade em que ficou acertada pauta inicial de trabalho para discutir formas de dar mais eficiência logística ao País, passando por eliminação de entraves e burocracia. Demos nossa opinião sobre a tabela de fretes e apontamos o que na nossa visão era distorção. Colaboramos ainda no destravamento fiscal da logística, com vários sugestões que se concretizaram no projeto-piloto do Documento Eletrônico de Transporte, o DT-e, que o governo acaba de lançar.
Convém lembrar, ainda, que a expansão dos trilhos é também um esforço para começar a alterar a forte concentração da malha de transportes brasileira no modal rodoviário. O Brasil geralmente vai de caminhão, quando em várias situações poderia ir de trem, hidrovia ou cabotagem.
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