Quando a locomotiva Baroneza, o primeiro trem a circular no Brasil, em 30 de abril de 1854, inaugurou os 18 km da estrada de ferro que ligava o porto de Estrela à Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, dava-se início à história do transporte sobre trilhos em um Brasil imperial que, na época, tinha quase oito milhões de habitantes.
Passados mais de 160 anos, o país conta com uma malha ferroviária com mais de 30 mil quilômetros, mais de 100 mil vagões em tráfego diário que convivem dia a dia com 209 milhões de habitantes, viadutos, prédios, ocupações irregulares e problemas sociais que afetam o mundo moderno.
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Todo esse contexto geográfico e demográfico no qual os trilhos ficaram confinados trouxe não só desenvolvimento mas também os acidentes. Como as ferrovias são centenárias, ao longo dos anos as cidades cresceram muito perto das vias, o que gerou e ainda gera muitos impactos na segurança.
De acordo com a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), em 1997, quando havia menos trens circulando, eram 75,5 acidentes por milhão de trens/km (número total de acidentes com a frota em tráfego e a quilometragem percorrida por esta frota). Em 2018, foram 10,7 acidentes por milhão de trens/km, o que significa uma redução de mais de 86%.
Graças aos investimentos contínuos em modernização tecnológica, treinamentos, manutenção e campanhas regionais, tais como atuações junto às comunidades lindeiras às ferrovias, orientação nas escolas e blitz educativas nas passagens em nível, o setor ferroviário de carga conseguiu atingir padrões internacionais de segurança.
De acordo com Michel Bruno Taffner, professor do curso Técnico em Manutenção de Sistemas Metroferroviários, para uma convivência harmoniosa entre ferrovia e comunidade, é preciso estar atento às normas de segurança.
“Os centros urbanos foram construídos no entorno das ferrovias. Em termos de convivência, a grande questão é cultura que a população e a ferrovia devem ter para um trânsito melhor. As comunidades precisam entender que a ferrovia está ali a mais tempo e que circulam veículos grandes, com peso, que podem causar acidentes graves. A população precisa entender o espaço da rodovia, a legislação de trânsito. E as ferrovias precisam trabalhar com campanhas e sinalização”, afirmou o professor.
Michel ainda explicou que é preciso estar atento e evitar que as crianças brinquem perto da ferrovia ou em cima dos trilhos. “O trem muitas vezes se aproxima sem que a pessoa perceba, por isso é preciso ter o cuidado de não estar muito próximo aos trilhos”.
No Brasil, há mais de 12 mil passagens em nível (cruzamento de uma via rodoviária e uma linha férrea), sendo que 2.659 são consideradas críticas, de acordo com números do boletim estatístico da CNT (Confederação Nacional do Transporte).
Conforme o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), deixar de parar o veículo antes de transpor linha férrea é infração gravíssima (sete pontos na CNH), além de gerar multa como penalidade. As concessionárias devem atuar em conformidade com orientações da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) sobre a utilização de dispositivos que colaborem para a segurança da operação.
A Vale detêm uma das ferrovias mais seguras e produtivas do Brasil, consideradas uma das mais modernas do mundo. A Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) tem 905 quilômetros de extensão e transporta aproximadamento 30% de toda a carga ferroviária do país. Além de cargas como soja, aço, minério de ferro, carvão e calcário, na EFVM circula o único trem de passageiros diário do Brasil.
Foi justamente pensando em contribuir para a segurança ferroviária que a Vale criou o projeto “Na trilha dos valores”, que funciona desde 2014 em parceria com a OSCIP Colorir Criando Valores. As ações acontecem em escolas de Ensino Fundamental I que ficam localizadas em regiões vizinhas à ferrovia. A Analista de Relações com Comunidade na Vale, Mariana Diniz, disse que mais de 9 mil crianças já foram atendidas pelo projeto.
“Desenhamos esse projeto pensando no respeito às comunidades, valorizando a vida. Porque nenhuma empresa quer que aconteçam acidentes com a comunidade. Esse projeto acontece durante o ano todo e o aproveitamento é muito positivo”, disse Mariana.
Ainda segundo a gestora, os retornos para a empresa têm sido muito positivos. “O primeiro retorno que temos é a aprioximação da comunidade com a vale. Além disso os resultados de fato em números de redução de apedrejamento, redução de ocorrência ferroviárias, a gente conquistou isso com o projeto”, explicou.
O psicopedagogo José Eugênio explicou a importância do projeto para as crianças que moram em regiões vizinhas aos trilhos. “Elas vivem nessas comunidades, e veem esse trem passando todos os dias, mas nunca tiveram acesso como passageiros. Eles nunca tiveram a chance de estar dentro do trem, ter esse contato faz com que eles se sintam valorizados”, disse José.
Com o passar dos anos, as operações da EFVM foram modernizadas para aumentar a eficiência tanto operacional quanto energética, a capacidade, a produtividade e a segurança, essa última trabalhada pela Vale por meio de ações de conscientização realizadas junto às comunidades situadas ao longo da ferrovia durante todo o ano.
Blitze educativas em passagens em nível (locais onde há cruzamento entre a ferrovia e as estradas), divulgação de dicas de segurança em rádios e jornais, visitas de autoescolas às áreas da Vale e jogos educativos nas comunidades fazem parte das atividades. Além disso, empregados da mineradora que atuam na operação ferroviária realizam palestras mensais em escolas de ensino fundamental e médio situadas ao longo do trecho com o objetivo de conscientizar crianças, adolescentes e adultos sobre a importância da convivência segura e harmônica com a ferrovia.
EFVM em números
– 905 quilômetros de extensão
– 664 km é o percurso completo percorrido pelo Trem de Passageiros
– 30 pontos de embarque e desembarque
– 42 municípios atendidos
– 1 milhão de passageiros transportados por ano (média histórica)
Preço da passagem (percurso completo):
– Executiva – R$ 105,00
– Econômica – R$ 73,00
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