Ainda bem que a tarefa não era construir as pirâmides do Egito ou mandar um ser humano à Lua. Trata-se, na verdade, de repetir algo já feito muitas vezes em diversos lugares do mundo: permitir que pessoas possam usar transporte público sobre trilhos antes ou depois de tomar um avião.
Na principal metrópole do país, vai além do inacreditável a dificuldade em completar essa não façanha em seus dois aeroportos.
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Para Cumbica, maior portão de entrada do país, os governos federal e paulista consideraram aceitável um completo absurdo: construir um terminal novo e uma linha de trem nova, conectada à cidade de São Paulo, sem que a linha acabasse no terminal. Não parece, mas foi planejado -a chamada estação aeroporto fica a uma linha de ônibus do aeroporto.
Inaugurada com 14 anos de atraso, a obra foi criticada aos três meses de vida pelo recém-empossado governador João Doria. “É tão bizarro que é difícil acreditar que isso tenha sido feito no estado de São Paulo”, afirmou.
Em maio, ele anunciou a construção de um monotrilho até os terminais. A obra deveria ter começado em setembro. Nada. Sabe-se apenas agora que só no ano que vem é que serão apresentadas… propostas.
Em Congonhas, da mesma forma, nem mesmo a sucessão de remendos prometida é entregue.
Embora esteja encravado na cidade, o aeroporto paulistano não tem estação de metrô. Previu-se um VLT para conectar o terminal à rede, que seria inaugurado em 2010. Nada. Nasceu a ideia de um monotrilho, que ficaria pronto para a Copa-2014. Nada. Neste 2019, o governo paulista rompeu o contrato com quem (não) fazia a obra. Há dois meses, tomou empréstimo de R$ 1,2 bilhão para terminá-la. Prazo? Não há.
São dois casos, entre tantos, nos quais as expectativas foram rebaixadas à inexistência. A Copa passou, a Olimpíada já era, o futuro chegou -e o passado continua no presente.
Roberto Dias.
Secretário de Redação da Folha.
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