Bolsonaro demite ministro do Desenvolvimento Regional

O presidente Jair Bolsonaro decidiu substituir o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto. No lugar, entra Rogério Marinho, secretário especial do Trabalho e da Previdência, que será substituído por Bruno Bianco, que era adjunto da secretaria da Previdência e, ao lado de Marinho, foi um dos principais articuladores da aprovação da reforma no Congresso. A nomeação já foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União.

Gustavo Canuto vai para a presidência da Dataprev para ajudar a diminuir as filas do 1,3 milhão de pedidos de aposentadoria e benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Alinhado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, Rogério Marinho era cotado para assumir uma pasta no Palácio do Planalto. O sucesso na aprovação da reforma da Previdência, no ano passado, e a boa articulação com deputados e senadores Congresso contou a favor de Marinho para assumir o Desenvolvimento Regional.

Briga com Paulo Guedes
Interlocutores da equipe econômica dizem que Canuto foi demitido porque não conseguiu entregar resultados e o que o segurava no cargo era a avaliação do presidente de que ele era competente. Teria pesado também na demissão a briga dele com o ministro Economia, Paulo Guedes.

Canuto também fez desafetos em outras áreas de governo, como a Caixa Econômica Federal, por exemplo. Nos bastidores, havia queixas de que ele estaria atuando politicamente, beneficiando adversários do governo, como governadores do Nordeste.

As constantes paralisações do programa Minha Casa Minha Vida também ajudaram na queda. A proposta de substituir o programa por um voucher também foi muito criticada no governo, diante da falta de margem orçamentária. O programa está paralisado novamente por falta de entendimento com o Ministério da Economia.

Fontes do setor da construção elogiaram a escolha de Rogério Marinho para substituir Canuto no MDR. Segundo um executivo, além de ser inteligente, Marinho é muito habilidoso politicamente. Ele teve participação ativa em duas grandes reformas, a trabalhista, quando era deputado e foi relator da proposta na Câmara, e a previdenciária, como secretário especial de Previdência e Trabalho.

Nesta quinta-feira, Bolsonaro conversou pessoalmente com Canuto no Palácio do Planalto. A informação é de que Bolsonaro já estava insatisfeito há meses com o trabalho de Canuto no ministério. Ele era tido como um ministro de baixos índices de resultado e ganhou apelido no governo de ser “roda presa”.

A avaliação de interlocutores no Planalto é de que Canuto não tem a mesma “amizade e força pessoal” do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que balançou no cargo após seu secretário executivo usar um avião da Força Aérea Brasileira para viajar à Índia em missão oficial.

Dentro do ministério, a avaliação é que o cargo de Canuto gerava cobiça dos parlamentares não pela quantidade de cargos à disposição, mas pelo interesse nos repasses da pasta aos estados e municípios.

Canuto sofria questionamentos também da área política do governo e do Congresso. No fim do ano passado, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) mandou para a pasta do Desenvolvimento Regional uma lista de prioridades para a execução de verbas extras prometidas em negociações com parlamentares.

Canuto ignorou a lista e priorizou quatro estados que ele achava que precisavam mais: Ceará, Piauí, Pará e Pernambuco. A decisão teria gerado mal-estar com Ramos e os parlamentares. A pressão seguiu e na reta final de 2019 técnicos do ministério precisaram virar noites trabalhando para cumprir os acordos políticos.

Na prática, porém, Marinho já vinha atuando na seara de Canuto. Em setembro do ano passado, por exemplo, o então secretário da Previdência atuou para que o Ministério da Economia liberasse R$ 600 milhões para destravar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) – sendo que grande parte desses recursos foi destinada ao Minha Casa, Minha Vida. Foi Marinho quem telefonou a líderes partidários da Câmara para comunicar que o ministro Paulo Guedes havia liberado o montante.

Nesta quinta-feira, pouco depois das 18h, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, leu um comunicado, segundo o qual,  Bolsonaro decidiu nomear Canuto para a presidência da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (DataPrev), que fornece soluções de tecnologia da informação e comunicação para aprimorar e executar políticas sociais e tem como principal cliente o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

A versão do governo foi que o agora ex-ministro foi selecionado para o novo cargo “por ser um dos melhores quadros para equalizar, tecnicamente, os desafios enfrentados atualmente pelo INSS”.

O porta-voz, que não fazia aparição pública na função havia quase um mês, apresentou o currículo de Canuto, que se formou em engenharia de computação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e trabalhou por seis anos na IBM, além de ser servidor efetivo do Ministério da Economia há mais de nove anos. Segundo o comunicado, a nomeação de Marinho para substituí-lo no MDR foi uma “consequência”.

Ao chegar no Palácio da Alvorada, Bolsonaro limitou-se a dizer que Canuto “vai cumprir missão no Dataprev”.

Mais tarde, em transmissão ao vivo pelo Facebook, Bolsonaro mencionava o Rio Grande do Norte quando lembrou que o novo ministro Rogério Marinho é do estado nordestino, mas destacou que ele não foi escolhido por sua naturalidade. Em seguida, disse que ele continuará o trabalho de Canuto, que teria concordado em assumir uma nova “missão” no DataPrev.

– Foi escolhido pela sua competência e pelo que tem a oferecer para continuar o trabalho de Gustavo Canuto que está indo para o Dataprev. Foi conversado, acertado com ele que precisávamos de uma pessoa da formação dele, do conhecimento dele na questão de informática – comentou Bolsonaro.

O presidente então reproduziu a conversa que teve com o agora ex-ministro:

– “Canuto, dá para você resolver esse assunto lá no DataPrev?”. “Sem problemas”. Está indo pra lá e está entrando então o Rogério Marinho […] Tenho certeza que ele fará um brilhante trabalho.

Quinto ministro demitido
Secretário-executivo da Integração de Michel Temer, Canuto continuou no governo com o apoio dos ministros Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Wagner Rosário (Controladoria Geral da União). Canuto é técnico e não tem filiação partidária.

Canuto é o quinto ministro a ser demitido em pouco mais de um ano do governo Bolsonaro. No início do ano passado, o presidente demitiu Gustavo Bebianno da Secretaria Geral da Presidência após uma discussão por WhatsApp. Na sequência, decidiu substituir Floriano Peixoto, que havia assumido o lugar de Bebianno. Ricardo Vélez, da Educação, foi o terceiro ministro demitido e o último foi Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo.

Amigo de Bolsonaro, o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM) estava cotado para assumir um ministério no governo em fevereiro. Porém, está impedido porque ainda responde a um processo na Justiça do Distrito Federal.

Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/bolsonaro-demite-ministro-do-desenvolvimento-regional-24233640

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