São Paulo – Os deputados estaduais Paulo Fiorillo e José Américo, ambos do PT, protocolaram ontem (4) um pedido de abertura de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na Assembleia Legislativa paulista (Alesp), para apurar os riscos à população e as responsabilidades pelos constantes problemas no monotrilho da linha 15-Prata do Metrô, construído pelo Consórcio Expresso Monotrilho Leste (CEML), que inclui as construtoras Queiroz Galvão e OAS, além da fabricante canadense de trens Bombardier. Desde o último sábado (29), a linha está fechada, por tempo indeterminado, devido a um estouro de pneus da composição M20 do monotrilho.
Segundo Fiorillo, o objetivo da investigação é apurar se houve irregularidades na operação do monotrilho, bem como falhas de manutenção ou fornecimento de equipamentos. “A CPI pode ser um instrumento importante para esclarecer as muitas dúvidas dos usuários e apurar erros cometidos, até responsabilizar os possíveis culpados pelas falhas”, afirmou. O pedido conta com 38 assinaturas de deputados, mas entra em uma fila de proposições. “Esperamos que o presidente da Casa, Cauê Macris (PSDB), compreenda a importância dessa comissão”, completou o parlamentar.
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Também ontem, os metroviários de São Paulo cobraram que o governo de João Doria (PSDB) seja transparente e forneça informações à população sobre o que provocou o estouro de pneus do trem M20 da linha 15-Prata (Vila Prudente/São Mateus). Inicialmente, o governo paulista informou que o fechamento era por conta de testes do sistema de controle de trens.
“No primeiro momento, o governo de São Paulo mentiu sobre o motivo do fechamento da linha. Precisou a situação ficar muito grave para assumir o problema, porque ia ter a volta efetiva das aulas após o retorno do carnaval. O que mostra que o problema é grave”, afirmou a coordenadora do Sindicato dos Metroviários Camila Lisboa.
Não há previsão para reabertura do monotrilho. O deslocamento da população está sendo parcialmente coberto, desde segunda-feira (2) por ônibus da operação Paese.
Desde quinta-feira (27), a linha 15-Prata teve uma sequência de falhas, entre as quais o estouro de um conjunto de pneus – cinco no total – da composição M20, na estação Jardim Planalto, às 6h40. O impacto foi tão forte que abriu os compartimentos internos do vagão. Segundo notas à imprensa do Metrô e da própria Bombardier, foi a fabricante dos trens que solicitou o fechamento do monotrilho para avaliar as consequências dos incidentes. Todos os trens foram recolhidos ao final da operação de sexta-feira para inspeção dos pneus, que acabou constatando os danos.
“Esse sistema foi uma aventura do governo estadual, muito mal pensada e com interesses inconfessáveis. Se existem outros sistemas como esse no mundo, eles não se comparam com o de São Paulo. Nem em demanda, nem em condições de funcionamento. Defendemos desde sempre que devia ser uma linha de metrô até São Mateus”, afirmou o também coordenador Wagner Fajardo.
A Bombardier enviou técnicos para fazer a inspeção nos trens. O próprio presidente do Metrô, Silvani Alves Pereira, esteve no local acompanhando o procedimento. Mas até agora não há previsão de quando a linha vai voltar a funcionar. Será preciso analisar todos os 23 trens da linha, que tem oito rodas em cada vagão.
Foi descartado um problema no pavimento em que correm os trens. É avaliado se houve defeito no sistema RunFlat, um equipamento que substitui o pneu em caso de problema. Um pedaço dessa estrutura foi encontrado na rua, próximo do local onde os pneus estouraram. Os pneus são um projeto específico da Bombardier, encomendado à fabricante de pneus Michelin. Eles devem durar aproximadamente 100 mil quilômetros.
Histórico de falhas
O monotrilho da Linha 15-Prata acumula falhas desde o início da operação, muitas delas graves. Falha de sinalização são frequentes e provocam redução de velocidade repetidamente. A trepidação constante também é considerado um problema grave, que pode ter levado a soltar parafusos e peças no ano passado.
Em 29 de janeiro do ano passado, as composições M22 e M23 se chocaram na estação Jardim Planalto e o acidente não foi pior porque o operador percebeu a falha no sistema automático e acionou o freio de emergência. À época, foram constatados problemas no CBTC, sistema adquirido por um R$ 1 bilhão pelo governo paulista, mas que ainda apresenta muitas falhas e inconsistências.
Em outubro de 2016, um trem da Linha 15-Prata deixou a plataforma com todas as portas abertas, colocando em risco a vida dos passageiros, já que o monotrilho circula a uma altura média de 15 metros do chão, sobre pilastras. Pouco antes, duas mulheres quase ficaram presas entre as portas da plataforma e da composição, ao tentarem ingressar no vagão quando as entradas reabriram.
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