A operadora de ferrovias MRS Logística, que tem como acionistas Vale, Gerdau, CSN e Usiminas, ainda não sentiu impactos diretos da crise provocada pela pandemia do coronavírus, mas há preocupação quanto à situação de fornecedores e clientes, segundo o presidente da companhia, Guilherme Mello.
Ao menos dois clientes, de segmentos mais afetados pela crise, já buscaram contato com a empresa para discutir um possível alongamento nos prazos para pagamentos dos fretes. “Vamos estudar caso a caso e ver o que conseguimos fazer para apoiar”, diz. A movimentação, porém, continua estável e não há casos de inadimplência.
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A companhia também tem monitorado fornecedores estratégicos, responsáveis pelo abastecimento de itens mais específicos usados na manutenção da malha ferroviária. A empresa quer garantir que esses fabricantes terão fôlego e apoiar caso precisem de capital de giro, afirma o executivo.
Parte dos pedidos foram antecipados, diz ele. Desde o início de março, a empresa tem reforçado o estoque de peças usadas na manutenção dos trens e trilhos, para garantir a continuidade da operação da malha, que passa por Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
“Como temos contratos de longo prazo, elevamos o estoque com itens que sabemos que vão ser utilizados. Há peças importadas e outras podem ser fabricadas no país, mas às vezes com insumos vindos de fora”, afirma o executivo.
Ciente de que outros segmentos da economia estão sendo mais impactados do que o ferroviário, a companhia, junto aos demais operadores, ainda não formulou pleitos de apoio para o governo.
Caso a crise se prolongue, porém, poderão pedir o adiamento do pagamento de outorgas. “Se o governo tiver espaço, e considerando que estamos acomodando os pedidos de nossos fornecedores e clientes, talvez possamos pedir um adiamento.”
O principal plano de investimento da MRS para os próximos anos é a renovação antecipada de sua concessão, que prevê a aplicação de R$ 7,5 bilhões, em contrapartida à extensão do contrato. Esse valor “está cravado em pedra” e não será alterado, diz ele.
“A maior parte desses investimentos independe do cenário macroeconômico, são obras de interesse público, para reduzir a interferência nas cidades pelas quais a linha passa, aumentar a eficiência, melhorar o acesso aos portos”, diz.
As audiências públicas para a renovação já foram realizadas. Neste momento, a companhia prepara os projetos executivos, que deverão ser encaminhados à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em dois meses. A expectativa é que o projeto seja analisado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no segundo semestre.
A companhia prevê retração na movimentação em alguns tipos de carga, como na construção civil. Outros segmentos, porém, poderão ganhar força, como o escoamento agrícola. A MRS vem adotando estratégia de diversificação de carga, inicialmente focada em minério de ferro e carvão. Em 2017, a carga geral representava 30%. No ano passado, chegou a 40,4%.
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