Oferta restrita da Austrália e do Brasil seguram minério

Ontem, enquanto os preços do petróleo derretiam no mercado internacional, o minério de ferro – uma das principais commodities brasileiras – também caiu, mas de forma mais contida. O minério com 62% de teor de ferro recuou 2,47% no mercado à vista da China, no porto de Qingdao, a US$ 87,96 por tonelada. Já o barril do petróleo tipo Brent fechou o dia a US$ 34,36, queda de 24,09%.

Analistas de bancos de investimento e executivos da área de mineração apontaram as mesmas razões para explicar o fato de o minério de ferro ter caído bem menos do que o petróleo em um dia de pânico nas bolsas. O mercado global de minério de ferro, disseram, vive situação de oferta restrita e de demanda resiliente neste primeiro trimestre de 2020, apesar da epidemia de coronavírus que começou pela China, o principal mercado das grandes mineradoras, e se espalhou pelo mundo.

Diferente do petróleo, segmento controlado por um cartel – a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) -, o minério de ferro é um mercado com poucos produtores de peso e no qual não há combinação de preços. Ontem a ação da Vale fechou cotada a R$ 37,83 na B3, queda de 15,20% sobre o pregão de sexta-feira, enquanto a ação preferencial de Petrobras caiu 29,70%, a R$ 16,05.

No momento há bancos com previsões de US$ 75 por tonelada para o preço médio do minério de ferro no mercado à vista da China, a principal referência do setor, em 2020. Se a previsão for confirmada, vai representar queda de quase 20% em relação à média de 2019, de US$ 93 por tonelada. A estimativa para o ano, apesar de menor, representa ainda um preço expressivo dadas as incertezas na economia mundial.

Um executivo da indústria mineral disse que não há previsão de um choque de oferta a curto prazo. A Vale continua limitada do ponto de vista de produção por questões decorrentes da tragédia de Brumadinho (MG), em janeiro de 2019. A mineradora mantém a meta de produzir entre 340 milhões e 355 milhões de toneladas de minério de ferro em 2020, acima das 302 milhões de toneladas do ano passado.

A Vale está produzindo aquém do que poderia em diversas localidades, como Brucutu, a sua principal mina em Minas Gerais, como consequência das restrições para operar com barragens depois de Brumadinho. Os australianos também não têm previsão de aumentar a oferta de minério de ferro, segundo executivos do setor.

Tanto o Brasil como a Austrália foram prejudicados por condições climáticas adversas no primeiro trimestre. O nível de exportação de minério de ferro começou o ano bem fraco, disse um analista. Além de ser um período de menor produção, em termos sazonais, houve neste ano fortes chuvas em Minas Gerais, no Espírito Santo e no Pará, onde estão as jazidas de Carajás.

Pelo lado da demanda, os embarques da Vale para a China continuam dentro da normalidade, segundo apurou o Valor. Houve queda da atividade industrial chinesa no primeiro trimestre, como resultado do coronavírus, mas há sinais de recuperação. Dados chineses indicam que o setor siderúrgico, por exemplo, estaria operando com 73% da capacidade instalada. Os estoques de aço são altos no mercado chinês e continuam crescendo. Movimento semelhante é o do minério de ferro, que segue recompondo estoques na China.

Por outro lado, há expectativa entre as mineradoras de que o governo chinês não deixe o crescimento do país cair. Essa estratégia poderia levar Pequim a colocar mais dinheiro na economia, e investir em infraestrutura, além de estimular o mercado imobiliário. A queda dos preços do petróleo poderá ainda se traduzir em redução de custos para as mineradoras.

A Vale tem cerca de 80% de seus custos em reais e, quando há desvalorização cambial, o custo em dólar cai. O principal componente do custo da Vale é o bunker, o combustível de navegação, que tende a se reduzir ainda mais. O efeito de redução de custos para a Vale, porém, não é imediato porque os navios mineraleiros levam 45 dias entre o Brasil e a China e são abastecidos em Cingapura. A cada US$ 100 de queda no preço do bunker por tonelada, espera-se que o frete da Vale para a China caia em cerca de US$ 2 por tonelada de minério de ferro vendido. Ontem na LME, a bolsa de metais de Londres, o cobre caiu 2,5%, cotado a US$ 5,48 mil por tonelada, enquanto o níquel perdeu 2,32%, a US$ 12,41 mil por tonelada.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/03/10/oferta-restrita-da-australia-e-do-brasil-seguram-minerio.ghtml

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