Guedes e Braga Netto tentam mostrar coesão em torno do Pró-Brasil

Dois dias depois de o presidente Jair Bolsonaro haver reafirmado que o comando da política econômica é do ministro Paulo Guedes, o governo ainda passou o dia de ontem desfazendo os ruídos provocados pelo lançamento do programa Pró-Brasil. Guedes deu entrevista coletiva ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto. Negaram divergências e reafirmaram que a economia não muda. No entanto, o orçamento do Ministério da Infraestrutura receberá um reforço de R$ 4 bilhões.

“Houve uma interpretação equivocada do Pró-Brasil”, disse o ministro da Casa Civil. “Em nenhum momento se pensou em sair do trilho programado pela Economia.”

Ele explicou que se trata de programas para a retomada da economia, mas ainda sem discussão de valores. Por isso, Guedes não participou do lançamento, explicou. Mas os programas serão confrontados com a disponibilidade de recursos.

Guedes frisou que o programa econômico é o mesmo que elegeu Bolsonaro. “Houve [no passado] expansão descontrolada dos gastos públicos e isso acabou estagnando a economia”, disse. Ao rejeitar a reedição de algo nos moldes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), afirmou que não se sai de um buraco cavando-o mais profundamente.

Com a crise, o governo teve uma licença para aumentar os gastos, reconheceu. “Mas seria muito oportunismo político se aproveitássemos crise com saúde para transformar em farra eleitoral ou dar protagonismo excessivo a algum ministro.”

Os ruídos tiveram repercussão econômica, frisou Guedes. Nos dias mais turbulentos, houve perda da ordem de R$ 250 bilhões no valor de mercado das principais empresas da bolsa. As perdas teriam sido recuperadas depois que Bolsonaro reafirmou a rota original da economia.

Ao mesmo tempo em que rejeitou o aumento dos investimentos públicos, Guedes afirmou que não há problema em elevar o orçamento do Ministério da Infraestrutura em R$ 4 bilhões. Com isso, os R$ 7,7 bilhões autorizados para este ano chegarão perto de R$ 12 bilhões.

Levantamento da organização não governamental Contas Abertas mostra que, com esse reforço, o poder de fogo da pasta retornará aos níveis registrados nos anos do PAC. O secretário-geral da organização, Gil Castello Branco, disse que não seria recomendável elevar investimentos pela via do endividamento. Um caminho possível seria remanejar recursos dentro do atual orçamento. Retirando, por exemplo, recursos do Ministério da Defesa.

Pela manhã, em live organizada pelo banco Itaú, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que pode ser necessário um “pequeno empurrão” do governo para superar gargalos na infraestrutura e ampliar a capacidade do agronegócio. “É momento de mudar nossa forma de encarar o sistema produtivo no Brasil”, afirmou Mourão.

O vice-presidente disse ainda que  a crise levou a um “recuo” na política econômica, de forma que o equilíbrio fiscal só será alcançado em 2023 ou 2024.

Na mesma linha de Mourão, em live do portal Mercado & Consumo, Guedes disse que as exportações de alimentos para a Ásia estão crescendo e mais que compensando a perda nos demais mercados. Dessa forma, não se materializaria a perda de até dois pontos percentuais no crescimento brasileiro pelo choque externo, como apontavam as estimativas mais pessimistas.

Mas não serão os R$ 4 bilhões a mais no orçamento do Ministério da Infraestrutura que colocarão o país para “voar”, afirmou o ministro. Ele citou a estimativa de Tarcísio, de que há perto de R$ 250 bilhões em investimentos privados aguardando oportunidade para vir ao Brasil.

Além disso, a aprovação do marco regulatório do saneamento poderá destravar R$ 100 bilhões em investimentos. O mesmo montante seria atraído pelo fim do regime de partilha no setor de óleo e gás.

Ao insistir no acerto da política econômica, Guedes reafirmou que, antes da pandemia, a economia brasileira crescia a uma taxa de 2,4%. E que a reforma do pacto federativo proposta pelo governo funcionaria muito bem como um protocolo de combate aos efeitos da pandemia.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do programa Mais Brasil promove a descentralização de recursos para Estados e municípios, exatamente como está sendo discutido nesta semana com o Senado Federal. A ideia é transferir R$ 130 bihões. Como contrapartida, os salários do funcionalismo serão congelados por um ano e meio.

Braga Netto disse que a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) convidou o Brasil para liderar o grupo que trata da recuperação econômica pós-pandemia. O país será usado como exemplo, informou.

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/04/30/guedes-e-braga-netto-tentam-mostrar-coesao-em-torno-do-pro-brasil.ghtml

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