Ainda é cedo para vislumbrarmos todas as transformações que a Covid-19 promoverá na produção, no trabalho, no comércio, nas políticas públicas e até mesmo nas relações sociais. Entretanto, há sinais claros de que a crise atual acelerará mudanças que estavam em curso e terá impacto em todas as dimensões das nossas vidas. Isso exigirá a construção de uma nova agenda para o Brasil, sintonizada com as tendências, as oportunidades e as ameaças do pós-pandemia.
No cenário externo, a forte recessão mundial, só comparável à Grande Depressão de 1929, e as medidas destinadas a minimizar os efeitos do vírus podem resultar em iniciativas antiglobalizantes e protecionistas. Com a retração do comércio e o acirramento da concorrência, há a possibilidade de muitos países adotarem medidas agressivas em defesa de seus mercados, empresas e empregos.
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Por isso, o Brasil precisa rever a sua estratégia de inserção no mercado global, buscando resguardar os interesses nacionais e reforçar o combate às práticas desleais do comércio internacional. É hora de sermos pragmáticos e investirmos no fechamento de acordos comerciais equilibrados, que resultem em ganhos econômicos e estabeleçam condições e prazos compatíveis à adaptação do setor produtivo ao novo ambiente de concorrência.
A nova agenda brasileira também deve enfrentar antigos problemas que oneram as empresas e reduzem a capacidade de o país concorrer no mercado externo e atrair investimentos. Estudo recente elaborado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC), em parceria com o Ministério da Economia, revelou que, por ano, o chamado custo Brasil consome das empresas aproximadamente R$ 1,5 trilhão, o equivalente a 22% do PIB nacional.
Este é o retrato das dificuldades que os empreendedores brasileiros enfrentam no dia a dia, como a complexidade do sistema tributário, o excesso de burocracia, as deficiências na infraestrutura e a falta de segurança jurídica. Para se ter uma ideia, de acordo com o estudo, a complexa carga tributária faz com que o país tenha o pior desempenho do mundo quando o assunto é o tempo necessário para se pagar todos os impostos: 1.501 horas ao ano –um total quase dez vezes superior à média registrada nos países que integram a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que é de 161 horas.
Além disso, o ambiente mais competitivo do pós-pandemia exigirá vigorosos estímulos à ciência e à inovação. Antes do choque do coronavírus, o avanço da tecnologia e do conhecimento já provocavam mudanças substanciais nos processos produtivos. A automação combinada com a digitalização na atividade industrial aumenta a eficiência nas linhas de produção, reduz custos, permite a customização, facilita a criação de produtos e de novos modelos de negócios.
As tecnologias disruptivas, base da 4ª Revolução Industrial, prosseguirão agora com maior velocidade, a partir da crescente conectividade proporcionada pelas redes 5G, da capacidade de processamento e análise de dados e da inteligência artificial. Essas e outras novidades que surgirão elevam o risco de ampliação da defasagem tecnológica do Brasil frente aos seus principais concorrentes externos e, por consequência, da perda de importantes fatias de mercado.
A falta de equipamentos nacionais para enfrentar a pandemia de Covid-19 -como respiradores, testes rápidos e até máscaras- demonstrou, da forma mais dramática, a dimensão da dependência do país nessa área em relação a outras nações.
Ampliar investimentos públicos e privados em pesquisa, ciência e inovação precisa estar no centro da agenda de reconstrução da economia brasileira. O desenvolvimento tecnológico -combinado com reformas estruturais e ações robustas voltadas ao aumento da produtividade e da competitividade- é crucial para o fortalecimento da indústria nacional e, também, para que o Brasil possa superar de forma mais rápida a atual crise, conseguindo se ajustar ao que se convencionou chamar de novo normal.
Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2020/06/agenda-para-o-brasil-no-pos-pandemia.shtml
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