O que acontece com a China no pós-Covid-19? Esse é um tema que o agronegócio brasileiro deve levar muito a sério, segundo Mario Alves Seixas, pesquisador da Embrapa.
A China sofreu com o isolamento social provocado pelo coronavírus nos primeiros meses deste ano. O país saiu da fase aguda da crise, mas teme muito uma segunda onda.
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Com isso, aprendeu com a primeira fase da doença e se prepara manter o abastecimento de alimentos em uma eventual segunda fase.
O país se prepara, inclusive, para um eventual agravamento da doença em países parceiros, como o Brasil.
Seixas diz que o brasileiro tem de ter olho clínico nas mudanças que ocorrem no país asiático. Comércio, logística e armazenagem devem estar entre essas preocupações.
A China é uma grande parceira do Brasil e deverá continuar sendo. Os brasileiros sabem produzir e têm capacidade para isso, mas ainda é preciso obter um bom avanço na logística, na armazenagem e na garantia de saída das mercadorias pelos portos.
Os chineses estão preocupados não só com os seus problemas internos, mas também com os de outros parceiros. O fechamento dos portos na China, durante a pandemia, ocorreu em um período em que o Brasil não colhia soja.
Se já estivesse colhendo, e não pudesse exportar, devido à paralisação por lá, não conseguiria armazenar tanto produto. Em abril e maio, as exportações brasileiras de soja somaram 32 milhões de toneladas.
Essa preocupação se estende também para as proteínas, segundo Seixas, pesquisador da Secretaria de inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa. As exportações brasileiras estão concentradas em poucos portos e a capacidade de armazenagem desses produtos é pequena.
Diante da busca por uma segurança alimentar, a China começa a implementar uma série de mudanças na política agrícola. E é nessa movimentação que o agronegócio brasileiro deve ficar atento.
Os chineses querem uma diversificação geográfica da capacidade de produção e de processamento de alimentos.
Estão investindo pesado em uma nova Rota da Seda, envolvendo países do sudeste asiático e da África Meridional. O Brasil precisa acompanhar esse movimento para entender como agir diante disso, diz Seixas.
As empresas chinesas estão repensando a maneira de fazer estoques. O fechamento interno do país no isolamento social mostrou que ter estoques apenas para a demanda imediata pode não ser um bom negócio. É preciso considerar outras variáveis, e o Brasil, como fornecedor, deve estar preparado para isso.
Para o pesquisador, a produção brasileira de alimentos pode aumentar, mas vender para quem? O agronegócio não pode estar desconectado das tendências que vem de fora, acrescenta.
A pandemia, da forma como surgiu e os efeitos que deixou, faz os chineses acelerarem as reformas do setor agrícola. Eles devem priorizar produtos essenciais como arroz, trigo e milho, e ficar na dependência de outros.
O consumo de soja deverá crescer 3,3% ao ano, e boa parte desse produto será importada, conforme dados pesquisados por Seixas na Fitch Solutions e no Rabobank Research. Chances para o Brasil.
No setor de proteínas, o pesquisador mostra que a produção média anual de aves e de suínos deverá crescer acima do consumo até 2024. Já a produção média de carne bovina fica abaixo, neste mesmo período.
Seixas acredita que a China manterá déficit nas carnes suína e bovina nos próximos anos, mas a concorrência será grande nesta última, vinda principalmente da Austrália, país que está mais próximo da China.
O pesquisador alerta que há preocupação dos dois lados com o fornecimento de alimentos. Os chineses se preocupam com alguma eventual interrupção na oferta de produtos por parte do Brasil. Já os brasileiros têm de estar preparados cada vez mais com a logística e com o funcionamento regular dos portos.
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