O primeiro investimento feito em nove anos no Metrô do Recife, um montante de R$ 22,8 milhões liberados nesta segunda-feira (22) pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, será usado para construir uma ponte no Cabo de Santo Agostinho; melhorar a acessibilidade da estação Cabo e trocar as cobertas de seis estações da Linha Centro. O anúncio sobre a destinação da verba foi feito na tarde desta segunda, durante visita do ministro à sede da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife.
Parte do valor será usada na construção de pontes sobre o Rio Pirapama, localizadas entre as cidades de Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife (RMR). O investimento integra o projeto de duplicação da Linha VLT do Metrô do Recife. Quando a obra for concluída, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) estima que o tempo de espera pelo veículo leve sobre trilhos passará de uma hora para 20 minutos. A CBTU não tem investimento há anos. Essa é uma tentativa de mininizar questões que surgiram. O Metrô do Recife é um dos maiores do país e estava entre as nossas prioridades, afirmou o presidente da companhia, José Marques.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
O superintendente da CBTU Recife, Carlos Ferreira, disse que o processo licitatório, em andamento, deve ser concluído em um prazo de 60 dias. Depois desse período, as obras devem se estender por um ano, ou seja, a previsão é de conclusão dos serviços anunciados é agosto de 2021. Esse repasse vai ser referente à implementação de obras estruturais. Vamos fazer a reforma de cobertas em diversas estações que estão com cobertas bem deterioradas. Teremos uma obra de adequação da acessibilidade da estação do Cabo. Além disso, vamos investir na ponte sobre o Rio Pirapama, pontuou.
A conclusão da construção dos elevados sobre o Rio Pirapama deve quadruplicar o número de passageiros do VLT no Cabo. Atualmente, cerca de 5 mil usuários são transportados. A CBTU espera que, com a diminuição do tempo de espera, a quantidade salte para aproximadamente 20 mil passageiros. Temos duas vertentes que vão ser impactadas com esse recurso: uma é a diminuição do tempo de espera para o pessoal que utiliza. Os usuários, que às vezes esperam mais de uma hora, vão aguardar 20 minutos. Há ainda o benefício do ponto de vista do conforto do usuário, afirmou Ferreira.
O ministro Rogério Marinho enfatizou que o investimento anunciado nesta segunda-feira é o primeiro feito nos últimos nove anos. Fizemos um remanejamento no nosso orçamento. O orçamento é preparado de um ano para o outro, então, não tínhamos essa previsão, mas viemos ao Recife, entendemos o problema e fizemos esse esforço de retirar recurso de outras rubricas orçamentárias e suplementar essa necessidade urgente que o Metrô do Recife tem, disse. Marinho havia visitado a sede da CBTU no Recife em 5 de março, quando ouviu sobre os problemas periódicos do sistema.
Após a visita à sede da Sudene, o ministro teve uma reunião, no Palácio do Campo das Princesas, na noite desta segunda, com o governador Paulo Câmara. Historicamente, no mundo inteiro, o metrô tem um suporte por parte dos governos. É necessário equilibrar esse processo. Se o governo estadual tiver interesse em um consórcio na Região Metropolitana, o governo federal também tem. Os munícipes também, então todos temos que nos sentar e encontrar um processo de equilíbrio. Se tiver um aporte de qualquer ente federado, que isso esteja dentro de um processo de negociação. É isso o que queremos e estamos propondo ao governo do estado, afirmou Marinho, sobre a reunião com o governador.
Outra melhoria anunciada que vai utilizar parte do recurso liberado será a adequação da estutura da estação do Cabo às normas de acessibilidade vigentes. De acordo com Carlos Ferreira, a estação receberá rampas, corrimões e piso tátil. São adaptações da estrutura, que é antiga, às normas atuais, enfatizou. Em 2017, uma vistoria determinada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), após uma ação civil pública movida por passageiros com deficiência, constatou a falta de acessibilidade no sistema.
O metrô do Recife enfrenta vários problemas que afetam diariamente os passageiros, como superlotação e falhas elétricas. No dia 18 de fevereiro deste ano, ocorreu uma colisão entre dois trens. O acidente aconteceu na Estação Ipiranga, que faz parte da Linha Centro, e deixou mais de 60 pessoas feridas. Além dos problemas estruturais, de acordo com a CBTU, o sistema também é alvo de vandalismo, que provoca prejuízo financeiro e ocasiona panes.
O sistema de trens urbanos da capital pernambucana transporta cerca de 400 mil passageiros por dia. Esse número apresentou quedas durante o período da pandemia da Covid-19. O Metrô do Recife é composto por 71 quilômetros de trilhos e conta com 37 estações e passa pelas cidades do Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho. No ano passado, os valores da passagem do metrô foram reajustados seguindo um escalonamento. A passagem, que custava R$ 1,60 até 4 de maio de 2019, foi reajustada para R$ 2,10 em 5 de maio. Em 7 de março deste ano, a tarifa do Metrô do Recife sofreu o sexto e último aumento e passou a custar R$ 4.
Os recursos destinados ao Metrô do Recife também serão utilizados para trocar os telhados de seis estações da Linha Centro. Vão receber o serviço as estações Afogados, Santa Luzia, Werneck, Barro, Engenho Velho e Alto do Céu.
O critério para a escolha das estações, segundo a CBTU, foi a situação das cobertas, que estão mais degradadas nessas plataformas. As cobertas, segundo a companhia, têm mais de 30 anos sem troca. Denúncias de passageiros de vazamentos de água em tetos de estações são recorrentes, situação que se intensifica nos períodos de chuva.
O repasse atual do governo federal não será usado para melhorias na Linha Sul do Metrô do Recife, que é composta pelas estações Recife, Joana Bezerra, Largo da Paz, Imbiribeira, Antônio Falcão, Shopping, Tancredo Neves, Aeroporto, Porta Larga, Monte dos Guararapes, Prazeres e Cajueiro Seco. Em relação a futuros repasses, o Metrorec ainda não definiu quais seriam as prioridadades e se a Linha Sul seria beneficiada. Tudo depende das demandas e do fluxo financeiro. Analisaremos no futuro, pois as pautas são de acordo com as necessidades, afirmou o superintendente da CBTU Recife, Carlos Ferreira.
Histórico
Em 1982, o governo federal, por meio do Ministério dos Transportes, criou o consórcio Metrorec, constituído pela Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) e pela Empresa Brasileira de Transportes Urbanos, hoje extinta. A construção do Metrô do Recife foi iniciada em janeiro de 1983. Em março de 1985, teve início a circulação dos primeiros trens com passageiros. A partir de janeiro de 1988, a CBTU absorveu os trens de subúrbio da RFFSA em Maceió (Alagoas), João Pessoa (Paraíba), Natal (Rio Grande do Norte) e Recife. Em 2013, a antiga Linha Diesel/Trens Diesel passou a operar com VLT.
O Metrô do Recife é formado por duas linhas distintas, a Linha Centro – 1 (Camaragibe) e 2 (Jaboatão) – e Linha Sul. A partir de 1988, também passou a administrar a antiga Linha Cajueiro Seco-Cabo que era operada por locomotivas. Os trens da Linha Centro, que partem da estação Recife, possuem dois destinos distintos: a estação de Camaragibe e a de Jaboatão. Isso acontece devido ao fato de compartilharem a mesma via e estações no trecho entre as estações Recife e Coqueiral, graças ao traçado da antiga ferrovia onde o metrô foi construído. A distância média entre as estações é de 1,2 km e a velocidade média dos trens é 40 km/h.
Seja o primeiro a comentar