A Vale vai vender este ano para a China um volume de minério de ferro igual ou superior ao de 2019, disse ao Valor o diretor-executivo de ferrosos da mineradora, Marcello Spinelli. Ele também afirmou que a meta de produção da companhia para a commodity se mantém inalterada em um intervalo que vai de 310 milhões a 330 milhões de toneladas em 2020.
O executivo fez as afirmações ontem, dia em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu que o Brasil se situou como um dos países com maior aumento no número de casos de covid-19 em 24 horas. As preocupações crescentes com o novo coronavírus no país têm levado agentes de mercado a questionar se poderá haver uma limitação na oferta de minério de ferro pelo Brasil. E essa incerteza tem ajudado a alavancar os preços do minério de ferro, que fechou ontem a US$ 100 por tonelada.
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A Vale vai ofertar [um volume] igual ou maior do que o de 2019 para a China este ano, disse Spinelli. No ano passado, a mineradora vendeu 312,5 milhões de toneladas de minério de ferro e pelotas sendo que a China respondeu por 190,2 milhões de toneladas ou 61% do total. A China é de longe o principal mercado da companhia.
Spinelli afirmou que a meta de produção da empresa para 2020 considerou a covid-19 como um dos elementos de risco. Mas disse que a empresa tem demonstrado habilidade em gerenciar esse risco até o momento. Outro fator de risco considerado foi o retorno à produção de minas que foram paralisadas depois de Brumadinho. Também foi incluída nessa análise o fato de a pandemia poder atrasar a retomada da operação de algumas minas em Minas Gerais.
No fim de abril, ao divulgar o balanço do primeiro trimestre, a Vale anunciou uma revisão de sua meta de produção para o ano, situando-a entre 310 milhões e 330 milhões de toneladas (antes essa projeção era de 340 milhões a 355 milhões de toneladas). A mudança embutiu os potenciais impactos da covid-19. A meta está mantida, reafirmou Spinelli.
Ele acrescentou que há, porém, outros elementos, além da covid-19, que têm um papel importante na relação entre oferta e demanda na China, onde o preço do minério de ferro é formado. Esses fatores têm contribuído para manter elevados os preços do minério de ferro. A China retomou a atividade econômica depois do surto de coronavírus no país, disse Spinelli.
Ele citou exemplos dessa recuperação chinesa: os recordes históricos em termos de vendas diárias de aço e o nível de utilização dos altos-fornos das siderúrgicas, que atingiram índice também recorde de 92,6%. Os estoques de minério de ferro vem caindo nos portos chineses e atingiram 107 milhões de toneladas, níveis semelhantes aos de 2016. A diferença é que naquele ano os estoques estavam disponíveis nos portos, enquanto hoje a Vale usa os terminais na Ásiapara fazer misturas (blendagens) de diferentes produtos em termos de qualidade (teor de ferro).
Na visão de Spinelli, vai haver um deslocamento da oferta de minério de ferro de outros mercados, cujas siderúrgicas reduziram produção – caso da Europa, por exemplo -, para a China. Isso porque não se espera que a recuperação da Europa pós-covid tenha a mesma velocidade da China.
Sobre o risco da covid-19 produção, Spinelli reiterou que a Vale vem adotando todos os procedimentos necessários – do trabalho em casa de grande parte dos funcionários às práticas de distanciamento social. Ele disse que a empresa opera nas suas unidades produtivas com 60% dos empregados. Há ainda uso de tecnologias como câmaras térmicas para medição de temperatura. Nos municípios onde opera, tem apoiado investimentos em saúde e na aplicação de testes. Em Parauapebas (PA), onde está Carajás, há testagem em massa da população. Parauapebas e São Luís, onde está seu porto, já passaram por fechamentos (lockdown).
Spinelli disse ainda que no norte do país a Vale dispõe de um contingente de trabalhadores disponível para ser chamado de forma temporária e imediata se for necessário. Principal desafio é cuidar do absenteísmo.
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