Mobilidade urbana e uso do solo estão intimamente conectados, embora, não raro, diferentes profissionais e departamentos, de forma independente, sejam responsáveis pelo planejamento dessas duas importantes áreas.
Quando não existe conexão entre planejamento do transporte e uso solo, o funcionamento da cidade é ineficiente.
POD NOS TRILHOS
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Em muitos municípios, o planejamento dos transportes tem sido apenas reativo, procurando ajustar-se a situações urbanas consolidadas, sendo o custo da reestruturação da infraestrutura aproximadamente três vezes maior do que se o sistema tivesse sido planejado com antecedência.
O planejamento integrado entre as áreas de transporte e uso do solo pode determinar onde e de que forma a expansão deve acontecer para garantir que a cidade se desenvolva com maior eficiência.
Por um lado, essa interação determina em que locais da cidade a acessibilidade é importante e viável. Por outro, define a intensidade de uso que torna os sistemas de transporte factíveis do ponto de vista econômico, em função das economias de escala.
Dessa forma, otimizar os sistemas de transporte é fundamental e, para isso, a integração entre os diversos modos de deslocamento (bicicletas, caminhada, ônibus, táxis, trem, metrô e automóveis) -resultando no transporte multimodal- tem função primordial.
Principalmente em cidades com modelos de ocupação heterogêneos em termos de adensamento, ou com recursos limitados para investimento em infraestrutura de transportes, a existência de sistemas multimodais eficientes é imperativa.
O planejamento integrado exigirá que a cidade determine quais sistemas multimodais operarão tanto para a cidade que existe quanto para a que existirá no futuro, consideradas as expansões e os usos planejados.
Singapura tem sido um caso de sucesso na integração multimodal associada ao planejamento do uso do solo.
Por exemplo, uma de suas políticas de desenvolvimento estipula que todas as estações de transporte público de massa sejam conectadas diretamente a novos empreendimentos comerciais de porte e com, no mínimo, mais um modo de transporte.
A associação do sistema multimodal de transportes com os modelos de uso e ocupação do solo melhorará a conectividade da cidade de forma global, dando ao planejador informações suficientes para definir opções de rotas para os passageiros que os conduzam, com eficiência e conforto, aos destinos mais prováveis.
Além disso, se o planejamento de transporte e o uso do solo estiverem integrados, por exemplo, por meio do desenvolvimento orientado pelo transporte (DOT), isso significa que o número de viagens poderá ser reduzido ou até mesmo sejam evitados deslocamentos.
Embora existam ainda poucos dados confiáveis nas cidades em desenvolvimento sobre os custos do congestionamento, o Centre for Economics and Business Research/INRIX (2014) estimou esse custo anual para Grã-Bretanha, França, Alemanha e EUA, conjuntamente, em cerca de US$ 200 bilhões.
Em qualquer parte do mundo, esses valores são significativos e justificam que, por meio de um planejamento adequado integrando transporte multimodal, densidade, acessibilidade e aumento de opções não motorizadas, seja possível mudar o hábito das pessoas e reduzir os custos associados ao congestionamento.
Não se pode desprezar o fato de que esse modelo integrado pode também ter efeito social positivo, por resultar na diminuição dos gastos com transporte.
Uma redução significativa nos custos com deslocamentos pode afetar diretamente a vida dos mais pobres, que terão mais recursos para serem gastos com outras finalidades.
Por fim, dentre todos os efeitos positivos decorrentes da integração de planejamento entre transporte e zoneamento, cabe ressaltar o incentivo do aumento da coesão social, na medida em que se estimulam as pessoas com maior renda a utilizarem sistemas de transportes que os aproximem do restante da população.
Claudio Bernardes Engenheiro civil e presidente do Conselho Consultivo do Sindicato da Habitação de São Paulo. Presidiu a entidade de 2012 a 2015.
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