O ritmo acelerado da demanda por soja, registrado na década mais recente, perde força nos próximos dez anos. Com isso, cada um dos três principais produtores mundiais -Brasil, Estados Unidos e Argentina- terão de vencer desafios e ampliar suas vantagens comparativas sobre os demais.
O jogo será dinâmico e os produtores precisam estar preparados para o que vem, afirma Victor Ikeda, analista de grãos e oleaginosas do Rabobank, em São Paulo.
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O Brasil é o país que mais se destacou nos últimos anos e deverá manter a dianteira na produção de soja nos próximos, segundo o analista do banco.
A demanda global por soja será de 425 milhões de toneladas em 2029/30, 65 milhões a mais do que o patamar de 2019/20. Esse volume é inferior ao aumento de 113 milhões de toneladas na demanda dos dez anos anteriores.
Em 2029/30, o Brasil produzirá 155 milhões de toneladas da oleaginosa. Estados Unidos e Argentina, com ritmo menor, terão 123 milhões e 64 milhões, respectivamente.
As estimativas são de Ikeda e da analista Erin FitzPatrick Nazetta, do Rabonank de Saint Louis (Missouri-EUA). Eles avaliaram a capacidade de crescimento dos principais produtores de soja na próxima década.
Entre os desafios de produção nos próximos anos entram sustentabilidade, impactos do clima, acesso a novas tecnologias, custos de produção, disponibilidade de terras e exigências dos consumidores finais.
Um outro componente desafiador será o preço médio. Na próxima década, ficará entre US$ 9 e US$ 10 por bushel, em Chicago, após ter registrado média de US$ 11,21 na anterior.
Na avaliação de Ikeda, cada país terá de se apegar aos seus pontos fortes e melhorar os fracos. Os pontos fortes do Brasil, apontados pelo analista, são as margens agrícolas, o câmbio, a disponibilidade de terra, o plantio de duas safras por ano e a melhora da logística pelo Arco Norte.
Já os Estados Unidos têm a seu favor uma melhor logística de transporte, principalmente por hidrovia e ferrovias. A capacidade de armazenagem também é um diferencial dos americanos, segundo Nazetta.
Os argentinos têm a seu favor a fertilidade do solo e a baixa pressão de pragas e de doenças, devido ao clima.
Entre os pontos fracos, o Brasil é pressionado pela dependência externa de fertilizantes e de defensivos agrícolas.
Os americanos têm com calcanhar de aquiles as margens. Há oito anos que elas estão apertadas para os produtores. São os que recebem os maiores preços médios dentro da fazenda, mas os custos são elevados.
Os argentinos passam, há muitos anos, por um ambiente de incertezas. A tarifa de exportação é de 33%, e há mudanças constantes nas regras.
O analista do Rabobank avaliou também as oportunidades dos três principais produtores de soja nos próximos anos. O Brasil começa a ter uma melhora da logística, que pode reduzir custos.
Já os Estados Unidos têm mais acesso à tecnologia, um fator de aumento de produtividade. No caso dos argentinos, eles têm uma menor dependência de insumos, o que também reduz custos.
O cenário de crescimento da demanda por soja, embora em ritmo menor, continua. Os líderes na produção da oleaginosa, porém, têm várias ameaças pela frente.
No caso brasileiro, uma delas são os aspectos de sustentabilidade. A soja vai avançar em pastagens, mas o histórico dessas áreas, relacionado a desmatamento, terá de ser monitorado em função da exigência do consumidor final, diz Ikeda.
As ameaças para os americanos são as relações externas. Para a analista de Saint Louis, as disputas com a China poderão durar vários anos e pressionar preços e margens da soja.
No caso argentino, os maiores problemas são a exposição ao clima e a volatilidade da produtividade.
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