Paralisado desde setembro de 2016, o projeto de construção e operação da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo ganhou um novo capítulo em outubro deste ano, com o anúncio da retomada das obras pelo grupo espanhol Acciona. Foi o fim de um imbróglio que durou quatro anos, recheado de histórias que cabem no livro de clichês de grandes obras no Brasil.
A Parceria Público-Privada (PPP) da Linha 6-Laranja foi assinada em 2013 com o consórcio Move São Paulo, formado pela Odebrecht, Queiroz Galvão e UTC. As obras tiveram início em abril de 2015, mas paralisaram um ano e cinco meses depois, em meio aos problemas financeiros das construtoras, investigadas na Operação Lava Jato.
Em dezembro de 2018, o governo do estado, sob gestão de Márcio França, decidiu caducar o contrato de PPP com a Move São Paulo, com o prazo de oito meses para vigorar a decisão. O consórcio foi então a campo tentar encontrar um grupo para o qual pudesse transferir a concessão. Enquanto isso, o governador eleito, João Doria, fazia sucessivos adiamentos do prazo de caducidade para evitar uma nova licitação.
Houve negociações com empresas chinesas e japonesas, mas foram os espanhóis que acabaram assumindo o projeto. A decisão, no entanto, chegou em fevereiro de 2020, um mês antes de o Brasil (e o mundo) entrarem em quarentena por conta da pandemia do coronavírus. As tratativas passaram por um período de incertezas, até o novo contrato ser efetivamente assinado em julho.
Trata-se do primeiro projeto da Acciona na área de concessões metroferroviárias no Brasil. E essa entrada foi em grande estilo, considerando os valores envolvidos: é um projeto de R$ 15 bilhões, sendo que metade (R$ 7,5 bilhões) deverá ser investido pela Acciona. Os outros 50% serão desembolsados pelo governo de São Paulo.
A empresa, que já participou de diversos projetos de construção de ferrovias mundo afora, vai encarar também um novo desafio: o de operar um sistema de metrô. Para isso, vai contar com a experiência da operadora francesa Transdev, que detém 1% da concessionária Linha Universidade, criada pela Acciona para o projeto. A Transdev, mais conhecida no setor rodoviário, atua também na área metroferroviária, operando linhas de metrô, trens regionais e VLT na Europa, EUA e Nova Zelândia.
Para o diretor da Acciona no Brasil, André De Angelo, esse é apenas o começo. “Entendemos que faz todo sentido, já que estamos agora com a Linha 6, aumentar o nosso portfólio”, disse, almejando as concessões das linhas 8 e 9 da CPTM e do Metrô-DF e o projeto de construção e operação do VLT de Brasília.
O novo contrato diz que a Linha 6 precisa estar operando em 2025. Serão cinco anos de obras e mais 19 anos de concessão da operação pela Acciona. A previsão é que mais de 600 mil passageiros/dia sejam transportados na nova linha, que terá 15,3 km entre as estações Vila Brasilândia e São Joaquim.
O projeto está em processo de retomada num ponto de VSE (poço de ventilação) na Marginal Tietê. As 15 estações serão construídas praticamente de forma simultânea, diz De Angelo, acostumado com o ambiente de obras. O engenheiro civil fez carreira na Andrade Gutierrez, onde atuou por 17 anos em cargos de liderança nas áreas estratégica e comercial para a América do Sul.
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