Valor Econômico – O setor de mobilidade urbana, que já começou 2021 em situação crítica, perdeu qualquer perspectiva de retomada, diante das novas medidas de isolamento social decorrentes do descontrole da pandemia no país.
As empresas de metrôs e trens urbanos operam atualmente com aproximadamente 50% de sua demanda regular – a queda já chegou a 80% no auge da crise. O setor não acredita que voltará a esse patamar dramático, mas tampouco vislumbra uma saída para o cenário preocupante de caixa das companhias, afirma Joubert Flores, presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos).
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“Antes, a expectativa era começar 2021 com ao menos 70% da movimentação. Agora, tem grupos prevendo uma recuperação só daqui a dois, três anos”, diz.
Para o MetrôRio, concessionária da Invepar, a perda de receita desde o começo da crise já chegou a mais de R$ 600 milhões. “Ninguém imaginou que estaríamos em uma situação tão ruim em 2021, e sem perspectiva de melhora”, afirma Guilherme Ramalho, presidente da empresa.
Ele reconhece que o início da vacinação no país traz algum alento. Por outro lado, pondera que o processo também acabou por postergar o retorno das atividades presenciais corporativas, já que muitas empresas que planejavam a volta aos escritórios decidiram esperar o calendário de vacinação.
A situação financeira das concessionárias é especialmente grave no Rio de Janeiro, pela situação fiscal do Estado e pelo fato de que os contratos, mais antigos, não preveem qualquer subsídio à operação.
No caso do MetrôRio, a concessionária conseguiu renegociar todas suas dívidas, ampliando os prazos de pagamento pelos próximos três anos. “Essa medida daria alívio, mas diante da estagnação da demanda nem isso será suficiente. Continuamos com uma operação deficitária, dependendo de aportes da acionista e do crescimento de demanda. É uma situação insustentável”, afirma o executivo.
As companhias que operam no Estado tentam abrir uma discussão sobre novas fontes de financiamento e a inclusão de algum subsídio para garantir a operação. Porém, as conversas com o governo ainda não avançaram.
Concessões em outros Estados, como São Paulo e Bahia, têm enfrentado as mesmas dificuldades de queda na movimentação de passageiros. Porém esses contratos, mais recentes, são Parcerias Público Privadas (PPP), uma modelagem que prevê subsídios públicos e um sistema de compartilhamento de riscos entre o ente privado e o poder público, em caso de queda de demanda. Com isso, a situação de caixa dessas empresas é mais tranquila.
No caso das estatais, a operação também registrou rombos, que têm sido suportados pelos caixas dos Estados. Em São Paulo, por exemplo, o governo teve que injetar R$ 1,6 bilhão no Metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) em 2020.
No ano passado, a ANPTrilhos e entidades ligadas ao setor de ônibus conseguiram a aprovação de um pacote de apoio federal ao setor de mobilidade, que previa um socorro de R$ 4 bilhões. O projeto de lei, porém, terminou vetado pelo presidente Jair Bolsonaro. Hoje, a associação tenta, novamente, negociar uma alternativa de ajuda, mas ainda sem sucesso.
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